Postado às 05h58 | 24 Jan 2022
Ney Lopes
Quando parecia que o presidente Bolsonaro afastara os desgastes decorrentes de sua conduta durante a pandemia, voltam, com intensidade, os riscos políticos.
O que se observa é que o governo não capitaliza a assistência dada à população, através de governadores e prefeitos.
Prefere o confronto político e assumir atitudes absolutamente desnecessárias, como por exemplo, rejeitar a recomendação técnica contrária ao uso do kit covid, discordando das conclusões da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema de Saúde (Conitec).
Essa posição se opõe ao consenso das autoridades médicas e sanitárias sobre a inutilidade da cloroquina, da ivermectina e outros medicamentos no tratamento contra covid.
O ministro da Saúde, cuja imagem inicial era positiva, submete-se as pressões políticas e irascíveis do presidente, comprometendo a sua condição de profissional da saúde.
Enquanto isso, crescem o número de contaminações pela variante ômicron do coronavírus em todo o país — chegou a 205 mil em apenas 24 horas — e a preocupação com o impacto econômico.
O que se espera é que a ômicron seja a última onda, e com duração mais curta do que as anteriores.
Entretanto, o “vai e vem” da linguagem agressiva do presidente na abordagem da pandemia, projeta insegurança, sobretudo na economia, pelos efeitos em suspensão de serviços e viagens, a redução do número de voos, o cancelamento de eventos, a retração no comércio e o recuo dos governadores em relação a uso de máscaras, realização de espetáculos públicos e até às festas de carnaval.
O impacto político negativo já atingiu a pré eleição, segundo analistas nacionais.
A pandemia não será coisa do passado na campanha política, o que significa péssima notícia para Jair Bolsonaro.
Os aliados pragmáticos estão apavorados com o desgaste e o risco de mais ondas do vírus no ano eleitoral.
Mas o presidente continua contrariando a tudo e a todos, com declarações que minimizam a ômicron, reafirma posições negacionistas sem lógica e faz insinuações contrárias a vacinação de crianças, o que é garantido pela Anvisa e o STF.
O patético é a afirmação oficial de que há empenho em livrar a população da covid-19, mas, na prática, as ações são confusas e contraditórias.
Todo o país sabe que, embora tenha oferecido vacinação suficiente, o governo aliou-se desde o fim do ano passado, ao movimento antivacina e agora impôs uma série de obstáculos para autorizar a vacinação de crianças.
O que se vê é um discurso contraditório na política sanitária de combate a pandemia, embora tenham ocorrido inegáveis avanços.
Conclui-se que o problema não é o vírus, mas sim a “fala” de Bolsonaro, que provoca uma pandemia política, com possibilidades de aumentar no processo eleitoral próximo.
Há tempo ainda dele vacinar-se!