Postado às 06h48 | 04 Set 2022
Ney Lopes
Dois fatos na mídia neste final de semana: declaração agressiva do presidente Bolsonaro, atingindo mais uma vez o ministro Alexandre de Moraes do TSE e a decretação de busca e apreensão na residência do ex-Juiz Sérgio Moro, por presumida infração eleitoral.
Na primeira hipótese, de forma lamentável e despropositada, o presidente, durante um discurso em Novo Hamburgo (RS), afirmou:
“Agora, mais vagabundo do que quem está ouvindo a conversa, é quem dá a canetada após ouvir o que ouviu esse vagabundo”.
É claro que o “vagabundo” seria o presidente do TSE.
O motivo da ira presidencial foi o ministro ter autorizado a quebra de sigilo bancário e bloqueio de contas de empresários apoiadores do seu governo acusados de defenderem um golpe de Estado, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições.
O presidente poderia insurgir-se contra a medida judicial, porém nos autos, preservando a estatura civilizada, exigida para um chefe de estado.
Recentemente, em gesto aplaudido, Bolsonaro compareceu à posse dos novos dirigentes da justiça eleitoral.
Parecia ser uma trégua na sua relação com o poder judiciário. Porém, com a declaração recente, nova “onda” de atritos é criada pelo próprio presidente, cujo temperamento indomável prejudica consideravelmente a sua estratégia de campanha à reeleição.
A previsão é que o ministro Alexandre de Moraes dê “calado por resposta “e as comemorações do bicentenário não sejam manchadas por polêmicas desarrazoadas.
Outro episódio foi a Justiça Eleitoral no Paraná cumprir mandados de busca e apreensão de materiais de campanha irregulares no comitê do candidato a senador Sérgio Moro.
A diligencia cumpriu-se a pedido da federação “Brasil da Esperança”, liderada pelo PT e efetivou-se na própria residência de Moro.
A busca e apreensão se refere supostamente, aos nomes dos suplentes não terem o tamanho de 30% do nome do titular.
Realmente, à primeira vista, ocorreu sensacionalismo na ação judicial contra Sérgio Moro.
Tudo poderia ser resolvido com uma intimação, que esclarecesse a presumida infração, até porque panfletos são distribuídos nas ruas e não haveria necessidade de buscá-los no interior de um apartamento.
Entretanto, permita-me opinar, citando o refrão popular: “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.
É uma maneira de dizer, que a pessoa que comete algum dano, ou faz mal a outra, receberá o mesmo tratamento pela vida.
Não se nega a contribuição de Sérgio Moro na operação Lava Jato, um marco no combate à corrupção brasileira.
Mas, ele se excedeu, em muitos casos.
Cometeu pecados inconcebíveis a um juiz, afastando-se da lei e princípios do direito.
Vejam-se os fatos públicos, notórios e a suspeição acatada pelo STF.
Ele foi vítima neste sábado, certamente de ações abusivas semelhantes àquelas que autorizou no passado, em nome da moralidade pública.
Os dois episódios descritos dão a lição de que o Poder Judiciário merece respeito e não pode ser insultado por um presidente da República, contrariando o princípio constitucional da harmonia dos poderes.
Em relação ao ex-juiz, hoje político militante, ele sentiu na pele o constrangimento de busca e apreensão em seu próprio apartamento, o que deve ter levado a refletir sobre diligencias semelhantes, por ele determinadas no passado, sem fundamento consistente na lei.
O mais grave no quadro político-eleitoral atual é a presença de uma minoria de fanáticos, que não raciocina, e propaga insensatamente, que Bolsonaro tem razão em insultar juízes e Moro foi o paladino no combate à corrupção, mesmo descumpirndo as regras legais.