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Opinião: "Argentina: a hora da verdade"

Postado às 06h27 | 19 Nov 2023

Ney Lopes

Hoje, 19, a Argentina irá às urnas para definir o seu futuro, com cerca de 60% do eleitorado rejeitando os dois candidatos á presidência da República.

Os analistas da eleição levantam várias hipóteses, que podem acontecer neste domingo.

Embora a vantagem de Sergio Massa no primeiro turno sobre Javier Milei tenha se aproximado de 7 pontos (mais de 1,8 milhão de votos), as pesquisas que se seguiram demonstram uma disputa voto a voto.

Neste sentido, mais de 20 pesquisas nacionais foram publicadas no período permitido, sem colherem vitoria de Massa.

Ao contrário, Milei à frente com cerca de 3 pontos.

.Diante desse novo cenário configurado a partir do resultado do primeiro turno das eleições, dois movimentos ocorreram.

De um lado, um realinhamento de parte da oposição em apoio explícito à candidatura de Milei, promovida por Mauricio Macri e pela própria Bullrich.

O segundo movimento foi  Massa organizar todo o aparelho do Estado para desenvolver uma autêntica e inédita "campanha do medo" contra Javier Milei.

O que se percebde é que o primeiro grande bolo a ser distribuído são os votos obtidos por Patricia Bullrich, Juan Schiaretti e Myriam Bregman, os três candidatos que ficaram de fora do segundo turno.

Patricia Bullrich, apoia Milei. Ela teve 24% dos votos do primeiro turno, mais de seis milhões de votos.

A província de Córdoba é um dos maiores colégios eleitorais da Argentina e seu eleitorado está em disputa, já que o governador, Juan Schiaretti (um peronista de direita) não declarou apoio a ninguém no segundo turno.

Foi candidato presidencial no primeiro turno e terminou em quarto lugar com 7% dos votos.

Myriam Bregman de esquerda apoia Massa.

Para contrastar com Milei como um outsider, que combina aspectos acadêmicos (ele se posicionou na mídia como um fervoroso promotor da escola austríaca de economia) com traços pessoais mais exóticos, a campanha de Massa o coloca como homem comum, uma pessoa "como a maioria dos argentinos".

O mais grave contra Massa são as acusações que o ligam ao tráfico de drogas.

A sua própria companheira e aliada política, Cristina Kirchner, disse no passado  estar "convencida de que ele tem ligações com o narcotráfico".

Na mesma linha, é conhecida a relação próxima de Massa com o ex-procurador Claudio Scapolan, afastado do cargo neste ano por conluio com traficantes de drogas.

O fato do candidato do partido no poder ter obtido mais de 70% dos votos nas prisões seria mais uma demonstração da ligação entre kirchnerismo e o crime.

A alta rejeição gerada pelos dois candidatos que ficaram para disputar neste domingo abriu uma dúvida entre políticos e analistas: pode haver registro de votos em branco para este segundo turno?

Para tomar como parâmetro, nas últimas 10 eleições presidenciais, primeiro turno e segundo turno de 2015, o voto em branco teve uma média relativamente baixa: 3,59%.

Nas pesquisas para o segundo turno, as previsões de votos em branco são pouco maiores.

Outro tema de debate às vésperas do segundo turno é a abstenção que pode ocorrer, motivada pelo cansaço das pessoas com a política, com a já citada exclusão aos dois candidatos, mas sobretudo o feriado da segunda-feira, que faria com que muitas pessoas optassem pelo fim de “semana prolongado".

É consenso que quanto maior a abstenção, maiores as chances de Milei vencer.

A grande diferença entre as propostas dos presidenciáveis é que Javier Milei propõe privatizar a petrolífera estatal YPF, empresa superavitária, e também vender o gigantesco campo de Vaca Muerta (30 mil quilômetros quadrados), idealizado para transportar gás de Vaca Muerta ao norte do país, com o objetivo de prescindir a importação de gás da Bolívia.

Nos últimos dias de outubro e primeiros dias de novembro foram divulgados diversos manifestos de escritores, intelectuais e artistas contra o voto em Milei.

Por exemplo, numa declaração intitulada “40 anos após a recuperação da democracia e em defesa das instituições”, mais de 3.000 escritores, intelectuais e artistas argentinos e estrangeiros expressaram a sua “preocupação com o futuro da democracia argentina” e apelaram ao voto em Sergio Massa.

Uma curiosidade é que Massa, da União pela Pátria, ocultou durante toda a campanha o presidente Fernandez e a vice Cristina Kirchner.

A presença dos dois seria nociva à conquista de votos.

Na hora da verdade, diante da iminente definição eleitoral, o que poderá definir os rumos do país para as próximas décadas?

A transferência de votos de Patricia Bullrich será suficiente para Javier Milei ultrapassar Sergio Massa?

A atual crise argentina resume-se a visão maniqueista de direita e esquerda?

Um ou outro que ganhe saberá exatamente o que fazer para evitar o naufrágio?

Eurípedes  o dramaturgo grego dizia: “O tempo dirá tudo à posteridade. É um falador. Fala mesmo quando nada se pergunta”.

 

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