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Opinião: "Análise política do 7 de setembro"

Postado às 06h35 | 08 Set 2022

O empresário Luciano Hang, vestido exoticamente de verde, substitui a posição dos chefes dos poderes no desfile de 7 de setembro e deixa o Presidente de Portugal à margem

Ney Lopes

Qual a análise “política” acerca das comemorações do bicentenário da nossa independência?

De forma isenta, quem ganhou, quem perdeu?

Há algumas conclusões que merecem ser destacadas.

Bolsonaro alcançou uma vitória política.

Ganhar votos dependerá da evolução dos fatos.

O presidente sequestrou a data cívica, usou-a como instrumento de alavancagem eleitoral de sua campanha e teve sucesso.

Reuniu multidões em Brasília, Rio, SP e outras cidades.

A demonstração de força pode ser considerada normal, na medida em que as pesquisas mostram um contingente de cerca de 50 milhões de eleitores (cerca de um terço do eleitorado) fiéis ao bolsonarismo, na maioria fanáticos, eletrizados, que usam o epíteto de cultuá-lo como “mito”.

O que é afinal um mito, senão semideus, modelo exemplar de conduta humana e exemplo para a existência humana.

Em tais condições justifica-se a mobilização e a presença nas ruas.

Outros eventos do passado tiveram essas mesmas características

O recuo estratégico dos adversários, que se abstiveram de manifestações colaterais, retira a possibilidade de comparação.

A grande indagação é se Bolsonaro terá ganho votos com a movimentação feita.

Cedo para opinar.

Porém, provavelmente, não tanto.

Ele falou apenas a linguagem que agrada aos seus correligionários.

Embora contido,escorregou em certas afirmações criticadas como ameaças golpistas e ao comparar sua mulher, Michelle, com a do ex-presidente Lula, alardeando virilidade e que é  “imbrochável”.  

Exaltou a sua potência e performance sexual, que segundo ele, nunca falhou.

Típico espetáculo de machismo, digno de um adolescente inseguro.

Um fato constrangedor foi o esquecimento da data histórica do bicentenário, esquecida nos palanques.

Ao lado do presidente Bolsonaro estava o presidente de Portugal, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, um estadista, professor de Direito, que chegou a ser ofuscado e substituído na frente do palanque, pelo tal empresário Luciano Hang, ridiculamente vestido de verde e acenando para a multidão como um chefe de estado, embora esteja indiciado na PF.

Na prática, o Hang assumiu as posições dos presidentes do STF, Câmara e Senado.  

A assessoria política lúcida do presidente tentou colocá-lo numa posição de buscar vencer as eleições e não contestá-las.

Para isso teria que buscar os votos ainda indecisos, daqueles que  acompanham a polêmica de Bolsonaro com a justiça eleitoral.

Nesse ponto, ele silenciou.

Mas, não se conteve e deu a entender que irá à forra, “se eleito”, trazendo o STF e seus ministros para jogarem dentro das “quatro linhas da Constituição”.

Linguagem inapropriada para um chefe de estado democrático, por mais razões que tenha de se opor a certas decisões judicias.

No café da manhã, Bolsonaro anunciou, que na história há momentos de ruptura, numa alusão ao golpe militar de 1964 e que “a história pode se repetir”.

Partidos adversários ingressam com ações de abuso de poder sobre a realização dos atos públicos deste 7 de setembro.

Com certeza, esta foi a última cartada de Bolsonaro, antes do primeiro turno.

Difícil prever as consequências, mas não se pode dizer que tudo dará errado.

Ele pode ter avançado para garantir o segundo turno.

Por outro lado, também correu o risco de perder votos com esse tipo de discurso e de ameaça à democracia, que aumenta ainda mais a sua rejeição entre aqueles que gostariam de ter de volta um país civilizado e um presidente que respeita as instituições.

Lula, o seu opositor mais próximo, tirou o dia de ontem para descansar.

Não teve nenhuma aparição pública.

De tudo que acontece na atual campanha presidencial há um fato incontestável, ontem confirmado: o bolsonarismo segue as lições de Trump, através dos ensinamentos do seu guru Steve Bannon, ao defender que a tática política NÃO deve ser usada para esclarecer, nem impor a verdade.

A orientação é que a tática não é para persuadir, mas sim para"desorientar a opinião pública”.

Com a vitória de ter conseguido inegavelmente aglutinar ontem as multidões, Bolsonaro ganhou espaço político.

Todavia, só o futuro definirá se é suficiente para ganhar a eleição.

Caberá ao povo a decisão final,. que em qualquer circunstância, ganhando ele, Lula ou outro (a), terá que ser  ser respeitada.

 

 

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