Postado às 06h24 | 10 Nov 2022
Ney Lopes
Afastadas todas as preferências pessoais ocorreram ontem, 9, em Brasília, dois fatos que encorajam um futuro de paz e conciliação para o Brasil.
De um lado, o ministro da Defesa enviou ao TSE relatório de fiscalização do processo de votação que não aponta qualquer fraude eleitoral e ainda reconhece que os boletins de urnas e os resultados divulgados pelo TSE são idênticos.
Ou seja, o boletim que a urna imprimiu registrando os votos dados ao final da votação confere com o resultado da totalização divulgada pelo tribunal.
A única sugestão, considerada normal, é que seja feita uma investigação técnica sobre eventuais riscos à segurança das urnas.
De outro lado, o presidente eleito Lula visitou Brasília, encontrou-se com os chefes dos poderes Legislativo e Judiciário e deu esclarecedora entrevista à imprensa.
Os dois fatos distensionam o cenário político e institucional.
Embora não fosse competência das Forças Armadas fazer auditoria nas urnas eleitorais, o TSE agiu com cautela e atendeu o pedido.
Agiu corretamente e o resultado é que as Forças Armadas seguiram a sua tradição de seriedade e escreveram no relatório o que viram.
Em nota, o TSE agradeceu o envio do documento e destacou justamente que o trabalho dos militares não aponta qualquer fraude ocorrida na eleição.
“TSE informa que recebeu com satisfação o relatório final do Ministério da Defesa, que não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência no processo eleitoral de 2022".
Havia, de parte das áreas radicais do bolsonarismo, a expectativa do apoio oficial das Forças Armadas, levantando dúvidas na votação, para a formalização de um longo debate no país, em busca da anulação do pleito.
Isso não ocorreu e independente de apoio à Lula, ou Bolsonaro, irá prevalecer a vontade popular.
De outro lado, cabe observar a entrevista dada pelo presidente eleito, após encontrar-se com autoridades da República.
A exemplo do que aconteceu com o bolsonarismo radical, as palavras de Lula significaram um balde de água fria no petismo radical.
O ex-presidente foi claríssimo, ao dizer que fará um governo de coalizão com todos os partidos que aceitem com ele conversar.
Disse que irá procurar os “eleitos”, que representam o povo e desmistificou a tendência de isolamento do chamado “centrão” que atua no Congresso.
A perspectiva é que haja uma mudança de água para o vinho nas relações do Executivo com o Congresso.
A ideia é que cada poder eleja os seus dirigentes, sem interferência do outro.
No momento, pelo que declarou Lula, a prioridade será a PEC de transição para possibilitar atender reivindicações sociais inadiáveis.
O presidente eleito deixou clara a sua tese de que “gastos sociais” são investimentos no sentido de justificar o bolsa familia, merenda escolar, habitação popular, farmácia popular.
Realmente, sobretudo após a pandemia, os governos democráticos têm se orientado pela prioridade social, um discurso que não pode ser propriedade privada dos chamados “progressistas”.
Esse discurso é de quem tenha sensatez e defenda a paz social.
Por último, a visita de Lula à Brasilia pôs um ponto final no choque entre os Poderes, principalmente entre o Executivo e o Supremo, ao defender a harmonia entre eles.
Sempre repeti que não há saída para o momento atual do Brasil, senão através de um pacto de diálogo.
E é isso que começa a despontar no horizonte, não significando adesismo, nem adesões aos vitoriosos.
Significa apenas a lição de que a democracia exige todos superando as suas diferenças, transcendendo as suas lutas pessoais para somarem forças numa única luta que é a preservação das liberdades, custe o que custar.