Postado às 15h30 | 28 Fev 2024
Ney Lopes
A seguir, o relato de altíssimos riscos que sofri, causados pelas infâmias propagadas com o objetivo de minha eliminação da política estadual.
A partir desses fatos, como jornalista e advogado, conscientizei-me do sofrimento de quem é condenado inocente, embora a “armação” montada pela inveja aparentasse verdade.
Deu-me a noção da malignidade do que significou o arbítrio criminoso do AI 5. Recordo a frase do saudoso professor Mario Moacir Porto: “não há fisionomia mais culpada, do que a do inocente”.
A democracia, com todas as suas possíveis falhas, ainda é quem preserva a liberdade humana.
Candidato em campanha (1974) fui surpreendido com publicação na “imprensa marrom” de foto com minha assinatura, quando diretor da COSERN, autorizando o “pagamento antecipado” de um valor em dinheiro considerável, correspondente a compra de material elétrico.
Tinha consciência que isto não acontecera, pelo cuidado que sempre tive.
Com a ajuda de funcionário da empresa, consegui cópias da Nota Fiscal dessa compra e do cheque de pagamento respectivo, emitido 44 dias após a entrada efetiva do material no almoxarifado.
A minha assinatura na autorização antecipada foi falsificada.
Nunca me defendi e o recorte do jornal serviu de prova para o AI 5.
Já eleito deputado, recolhi carros que recebera por empréstimos para a campanha.
Um deles estava em Luiz Gomes, RN.
Era um jipe e o meu irmão Gileno foi apanhá-lo. No dia seguinte, ele chega da viagem e com olhos arregalados condena a loucura de ter usado uma viatura de propriedade da COSERN na campanha.
Logo desmenti.
Gileno leva-me até o jipe em cujo chassis estava soldada, para me incriminar, uma placa de ferro com a inscrição “patrimônio público da COSERN”.
De imediato, falei com Gastão Mariz, que dirigia o DETRAN.
Ele aconselhou-me a remover a placa soldada.
Logo, apareceu o número correto dos chassis.
O jipe era de João Veríssimo da Nóbrega, que emprestara na campanha.
Há personagem vivo na política local, que ajudou a montar essa ignominia.
Nunca me defendi e a denúncia da imprensa marrom serviu para validar o AI 5.
Alvejado pelo AI 5, com a cassação abrupta do mandato de deputado federal– sem nunca ter exercido o direito de defesa –, voltei à Natal, com esposa e três filhos, ainda com débitos da campanha.
Era professor e procurador jurídico federal, sendo aposentado com proventos de 1 salário-mínimo e meio (proporcional a idade).
Retornei à advocacia.
Busquei financiamento na época para comprar imóvel residencial.
Fui informado que a revolução proibia operar em banco, quem respondia processo.
Como nunca fora chamado a responder processo, busquei o órgão revolucionário – CGI – e solicitei explicações.
Um militar, com revólver na cintura, aos gritos, disse que eu era um cassado e não tinha explicações a dar.
Sai humilhado e chorando.