Postado às 06h05 | 24 Jul 2021
Ney Lopes
Nuvens cinzentas provocam turbulências e as vezes tempestades.
Na política, acontece a mesma coisa.
Os céus de Brasília estão repletos de nuvens enigmáticas nos últimos dias.
A previsão é que continuem.
Os sinais vêm da nota que o Ministério da Defesa soltou para desmentir que o ministro Braga Netto teria enviado interlocutor para dizer a Arthur Lira, presidente da Câmara, que, se não houver voto impresso, não haverá eleições.
Pelo fato de constar no texto da nota, que a discussão sobre o voto impresso é legítima e defendida pelo governo federal, a interpretação foi que se tratava realmente de um “recado”, caso a proposta seja rejeitada.
O deputado Arthur Lyra silenciou sobre se recebeu ou não “recado” do general Braga Neto, o que é considerado coma a confirmação da ameaça.
Nos bastidores, comenta-se, que o portador do “recado” foi simplesmente o senador Ciro Nogueira, justamente quem está sendo convidado para chefiar a Casa Civil da Presidência da República.
A propósito do senador Ciro Nogueira, a conversa que ele terá com o Bolsonaro segunda próxima prenuncia a permanência de nuvens densas, nos céus políticos de Brasília.
Por trás do convite ao senador Ciro, está a intenção do presidente de filiar-se ao PP para disputar a reeleição.
Dois fatores conspiram contra esse propósito de Bolsonaro.
O temor de que a sua chegada à sigla coloque em risco alianças regionais do partido.
Todavia, o maior obstáculo é o que disse ontem, 23, o presidente Bolsonaro, de que busca uma sigla para controlar
"Estou tentando um partido que eu possa chamar de meu", afirmou.
É esse domínio, que preocupa os líderes do PP, sobretudo do Nordeste.
Uma das maiores dificuldades parte do deputado Arthur Lira, presidente da Câmara.
Ele avalia, que a eventual derrota de um candidato à presidência da república do PP no pleito presidencial de 2022 prejudicaria a sua campanha pela reeleição ao comando da Câmara, no início de 2023.
Nesse sentido, Lira considera estar mais seguro com Bolsonaro concorrendo à reeleição por outro partido.
Pelo visto é complexa e contraditória a conjuntura política de Brasília, em relação, sobretudo, ao destino partidário futuro de Bolsonaro e dos seus filhos.
Agora é aguardar a conversa do presidente e Ciro Nogueira segunda próxima.
Tudo poderá acontecer.
Inclusive, tudo voltar à estaca zero e Ciro ser desconvidado para assumir a Casa Civil da Presidência.
“Boiada” – Os parlamentares admitem redução dos R$ 5,7 bilhões destinados ao Fundo Eleitoral, mas exigem do presidente que não vete a “boiada” dos bilhões de reais das emendas de relator, as chamadas RP9, distribuídas sem critérios.
Eleições – Essas emendas permitirão enviar dinheiro vivo para as bases eleitorais, em véspera de eleição, com o critério do céu seu o limite.
As dotações consumirão recursos disponíveis para investimentos, em especial obras em andamento.
Por acaso haverá perigo da ética política melhorar no Brasil?
Oração – As previsões em Brasília são de que que o PGR, Augusto Aras, não enfrentará dificuldades para ser reconduzido, no Senado. Já André Mendonça, indicado para o STF, necessita de muita “oração”.
Ele paga o preço das polemicas criadas por Bolsonaro.
Cachorro morto – Bolsonaro e Lula desdenharam da terceira via para eleição de 2022.
O sonho do Lula é disputar eleição com Bolsonaro e vice-versa.
É muita estranha a preocupação dos dois com uma nova opção à presidência. Afinal, se não é viável, “por que bater em cachorro morto? ”.
Hesitação – Bolsonaro surpreendeu o mundo político, ao declarar ontem, que ainda não formalizou o convite ao senador Ciro Nogueira para a Casa Civil e somente o fará segunda feira.
O senador já aceitou a indicação em entrevista e a mãe, que é a sua suplente, anunciou que assumirá o mandato. E agora?
Vitória – Diz-se que a “troca” na Casa Civil seria vitória de uma manobra do potiguar atual Ministro das Comunicações, amigo-irmão do senador Ciro Nogueira.
Com a mudança, ele terá mais facilidades de encaminhar interesses no "núcleo do governo", que é a Casa Civil, além de enfraquecer o seu concorrente na política potiguar, o ministro Rogério Marinho.
Em contrapartida, o conterrâneo abriu flanco na área militar, insatisfeirta com a saída do general Ramos e aumentou a extrema vigilância em torno dele, na condução do leilão do 5G no Brasil, o maior negócio do país nos últimos tempos.
Há olhos abertos!
Filiação – O PP é a terceira maior bancada da Câmara, atrás do PSL e do PT.
Caso se confirme a indicação de Ciro Nogueira para Casa Civil, aumenta a chance de Bolsonaro filiar-se ao partido.
Riscos - Após a democratização, somente Collor, em meio à crise política, entregou a Casa Civil ao então PFL, na pessoa do senador Jorge Bornhausen.
De nada adiantou.
Reeleição – Por trás do acordo com o PP está o compromisso de manter Arthur Lira mais dois anos de mandato à frente da Câmara, em caso de reeleição de Bolsonaro.
Nada diferente do que sempre fez a chamada “velha política”.
Fusão – PSL, PP e DEM estariam “costurando” uma fusão, que formaria a maior bancada na Câmara (121 deputados).
A grande resistência seria de ACM Netto, presidente do DEM.