Postado às 04h39 | 12 Jan 2022
Faltando nove meses para as eleições presidenciais permanece a constatação, de que as tentativas passadas de “terceira via” no processo eleitoral brasileiro resultaram de conjunturas específicas, como aconteceu com Brizola em 1989 e Heloísa Helena em 2006; centro-esquerda (Ciro Gomes em 1998, Marina Silva 2010 e 2014 e Ciro em 2018) e centro (Garotinho em 2002).
Em 2018, foi a primeira vez, desde 2002, que um partido de esquerda ficou em segundo lugar.
O PSL, com Jair Bolsonaro, terminou o primeiro turno atingindo 46,03% dos votos, seguido pelo PT com 29,28%.
Prevaleceu o “voto útil”, anti-PT.
Mesmo em tais circunstâncias, 42,1 milhões de brasileiros votaram nulo, branco ou não compareceram ao local de votação.
Em 2022, a última pesquisa da Genial/Quaest registra 57% de indecisos na espontânea.
Quando perguntado quem prefere que vença, 31% responde “nem um, nem outro”.
Teoricamente, haveria espaço para crescimento de uma terceira via.
O problema é a fragmentação de nomes, o que antecipa o mesmo cenário do segundo turno de 2018.
O sociólogo inglês Anthony Giddens define a “terceira via” como a aceitação de aspectos comuns nos sistemas do Capitalismo Liberal e o Socialismo.
Ele defende, que o “Estado tem a obrigação de fornecer bens públicos, que os mercados não podem suprir, ou só o podem fazer de maneira fragmentada”.
Constata-se na disputa presidencial brasileira, que nem Lula, nem Bolsonaro, incorporam as pré-condições da “terceira via”.
O presidente atua no sentido de manter a polarização de direita contra esquerda.
Lula “faz de conta” que é centro, apenas para bloquear o surgimento de outro grupo político-eleitoral, que o combata.
Ambos desejam a permanência do “nós contra eles” e as posições radicalizadas.
Uma terceira via, que se apresente como alternativa a Lula e Bolsonaro, precisaria capturar massivamente o eleitorado indeciso.
Isso somente será possível, caso haja convergência de forças entre candidatos potenciais como Ciro Gomes (PDT), Rodrigo Pacheco (PSD), Sergio Moro (Podemos), João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania).
O desafio será convencer tais pretendentes formarem “coalizão” de partidos, oriundos do centro, direita e esquerda não radicais.
O discurso sensato preservaria a “responsabilidade social e a austeridade fiscal”, demonstrando que o equilíbrio das contas públicas pode ser alcançado, juntamente com as políticas de redução das desigualdades sociais e investimento público para geração de empregos.
Tais diretrizes, não significarão “populismo”, mas apenas a indispensável vinculação da estabilidade econômica, com a distribuição justa de renda.
A adoção dessa estratégia poderia ensejar o surgimento de “nome” capaz de usar uma linguagem entendida pela população, que transmitisse confiança de fazer na presidência do Brasil, “melhor do que os dois atuais líderes na disputa”.
Além do discurso, outro componente fundamental seria o compromisso inabalável com a paz nacional, após a eleição.
O Brasil precisa construir uma pacificação política, comprometida com reformas, que garanta a governabilidade futura.
Sem isso, nada mudará.
Assim como a Independência não foi uma revolução liberal, o mesmo fenômeno repetiu-se em ciclos nas décadas de 1830 e 1840, em 1889, 1930, 1945, 1961 e 1964.
Concessões indevidas sempre anularam as reformas tidas como inadiáveis.
O poder continuou manipulado por grupos e interesses.
Permaneceram as distorções, sobretudo fiscais, até hoje.
A grande esperança é o nascimento de um “novo Brasil” nas urnas de 2022, sob a influência do sentimento dominante de reconstrução, após a catástrofe da pandemia.
Observa-se a sociedade global comprometida com o resgate da plena cidadania e da solidariedade, como única forma de amenizar os efeitos da cruel desigualdade social.
Talvez, um sonho.
Porém, como já disse Victor Hugo, “não há nada como o sonho para criar o futuro”.