Postado às 05h04 | 16 Set 2020
Em 1966 deixei Natal e atendi convite do jornalista Calazans Fernandes para trabalhar na elaboração de cadernos especiais da Folha, além do Jornal do Commércio, em Recife. Depois fui repórter do Diário de Pernambuco, sucursais do JB, revistas “O Cruzeiro” e ‘Manchete.
Convivi com os jornalistas Joezil Barros, Gaudêncio Torquato, Anchieta Helcias, Camelo, Clodomir Leite (fotografo laureado pela VEJA), Egídio Serpa, Teixeirinha, Esmaragdo Marroquim, Alexandrino Rocha e Zezito Maciel.
Á época, já se exaltava na política pernambucana o jovem Marco Maciel, que presidira o DCE e a UNE, em eleição direta. Ele era Secretário do Estado, do governo de Pernambuco.
Zerito Maciel, o chefe da redação, irmão de Marco Maciel, recebeu dele as credenciais oficiais para o jornal indicar repórter, que cobrisse no dia 25 de julho de 1966, a chegada ao Aeroporto dos Guararapes, do general Costa e Silva, pretendente à presidência do Brasil, que procedia da Europa. Fui o indicado.
Na madrugada chuvosa apanhei ônibus, que no trajeto teve uma pane. Somente cheguei ao destino, quando o General já havia desembarcado. Logo percebi o tumulto.
Acabara de ocorrer a explosão de bomba no saguão do aeroporto, com vítimas fatais e feridos. Uma das vítimas, jornalista Edson Regis, combinara comigo estarmos juntos na recepção. Ele morreu com o abdômen dilacerado. Escapei por um triz.
Tamanho foi o impacto emocional, que aceitei o convite de Odilon Ribeiro Coutinho para voltar à Natal, ajudá-lo na fundação do MDB no RN e disputar eleição, na oposição à Revolução de 31 de março, com as tropas de repressão nas ruas.
Passaram-se os anos. Em 1975 elegi-me deputado federal. Em Brasília, por acaso, o meu vizinho de apartamento era o deputado Marco Maciel.
A partir daí formou-se sólida amizade com o longilíneo pernambucano, conhecido como “mapa do Chile”, por parecer fisicamente com os traços geográficos do país de Pablo Neruda.
Na longa convivência com ele, nunca vi ninguém tão bem-intencionado, vida limpa e honradez, desde a relação familiar, até as condutas públicas.
Foi feliz o advogado e jornalista José Ângelo Castelo Branco, ao escrever a sua biografia e intitular o livro de “Marco Maciel — Um Artífice do Entendimento”.
Ao ver a crise brasileira atual, lembro do que ele dizia: “não há crise econômica. Há crise política”. Achava que as reformas somente deveriam ser feitas, após a aprovação da “reforma política, eleitoral e partidária”.
Discreto, sempre repetia a necessidade do político prevenir-se contra os invejosos e os autoficientes.
Certa vez, aconselhou ao seu primo Everardo Maciel, que dirigiu a Receita Federal com extrema competência, que não publicasse a sua declaração do Imposto de Renda, do ano em que entrou em cargo público e o da saída.
Afirmou, que se ele fizesse isto, os invejosos se tornariam seus inimigos mortais pelo resto da vida, por não poderem fazer o mesmo, além de taxarem de arrogância e açodamento.
Maciel era liberal convicto. Tinha amizade com todos os grupos. Nunca conspirou contra as esquerdas. Tornou-se amigo pessoal de Oscar Niemeyer, comunista confesso e usava a veia do conciliador.
Episódio curioso foi a sua escolha para vice de FHC. O PSDB queria alguém que andasse de camisa aberta, popular, perfil voltado para as massas e nordestino para atrair votos na região. Marco não tinha esse perfil, andava de paletó e gravata, não chamava palavrão, era religioso, comungava, ia semanalmente a missa.
O escolhido foi Guilherme Palmeira, senador de Alagoas.
Houve um incidente desagradável, que levou Guilherme a renunciar. Jorge Bornhausen, presidente do PFL, sem consultar FHC, indicou Maciel, que enfrentou resistências do tucanato.
No seu livro de memórias, FHC confessou que ele foi o vice dos sonhos, não criava problema e resolvia tudo o que era para ser resolvido.
Por todos estes fatos, justifica-se o título deste artigo. Hoje, com 80 anos, Maciel é vítima do Alzheimer. Vive “fora do mundo”, assistido pela dedicada esposa Ana Maria e filhos.
A sua vocação política foi gerada na política estudantil.
A atual escassez de líderes no Brasil é consequência do governo revolucionário ter editado o Decreto nº 62.024/67, que criou a “Comissão do General Meira Matos”, com o objetivo de reprimir o movimento estudantil.
Caso esse vandalismo não tivesse ocorrido, muitos jovens, gerados nas lutas universitárias, estariam preenchendo a lacuna da falta de um conciliador, no estilo Marco Maciel, na atual política nacional.