Postado às 06h49 | 23 Abr 2025
Ney Lopes
Francisco não passou passando.
Ficará para sempre.
No primeiro dia do papado, deixou marcas do seu estilo, ao dizer “"Como eu gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres!".
Ele entendeu, que não há abismo mais profundo do que um estômago vazio.
Não temeu fazer autocritica com a própria Igreja, ao reconhecer que os "os chefes eclesiásticos foram, muitas vezes, narcisistas, adulados pelos cortesãos.
A Cúria (os órgãos de governo da Igreja) é a lepra do papado".
E advertia com veemência: “O dinheiro deve servir, não governar”
Francisco não fugia dos temas difíceis e chegou a apresentar uma lista de 15 "doenças" que ameaçam os prelados da cúria, como o "Alzheimer espiritual", "a petrificação mental e espiritual", "o coração de pedra", o "excesso de planejamento e funcionalismo", a "rivalidade e a vaidade", a "esquizofrenia existencial", a patologia da "fofoca" e da "intriga", a da "indiferença para com os demais" e a do "rosto sombrio".
Francisco praticou a misericórdia, uma das virtudes mais sublimes. Manifesta-se, através de atitudes de bondade, perdão e ação em favor do próximo.
A caridade sempre foi sua preocupação.
Ele lembrava Santo Agostinho ao dizer “ com caridade o pobre é rico, sem caridade o rico é pobre”.
Francisco venceu barreiras conservadoras e autorizou a benção de casais do mesmo sexo, emitindo sinais de tolerância em relação aos homossexuais, mas também foi enfático ao argumentar que se tratava de "um pecado".
Explicou: “Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica e diz que tais pessoas não devem ser marginalizadas e devem ser integradas à sociedade.".
Francisco questionava sobre o aborto:
“É justo contratar um matador de aluguel para resolver um problema? Não é justo.”.
Completava:
“Não podemos eliminar um ser humano, mesmo que pequeno, para resolver um problema", afirmou durante uma homilia dedicada ao mandamento "Não matarás", na qual se referiu ao aborto”.
Ele dizia sobre a infalibilidade papal, que somos todos humanos e que o papa não está isento de pecados”.
Ele só é “infalível”, ao abordar os dogmas da Igreja.
Sobre as denuncias de pedofilia na Igreja foi categórico:
"Devemos ser muito duros [com crimes de pedofilia praticados por alguns padres]! Com as crianças não se brinca.".
Francisco partiu. Para defini-lo, a frase de Bertolt Brechet, poeta alemão:
“Existem homens que lutam um dia e são bons; existem outros que lutam um ano e são melhores; existem aqueles que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, existem os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis”.
Obrigado e adeus, Francisco.
+ Surgiu um problema no colégio de cardeais em Roma. Na reunião de ontem, 22, das congregações gerais em preparação ao conclave, compareceu o cardeal italiano Angelo Becciu membro da Secretaria de Estado que foi sumariamente demitido pelo Papa em 2023 devido a um escândalo financeiro e à compra obscura de um edifício de luxo em Londres, que abriu um rombo nas contas do Vaticano de 139 milhões de euros.
Ele foi julgado por um tribunal do Vaticano e condenado a cinco anos e meio de prisão, em uma decisão histórica que serviu de exemplo, pois foi a primeira vez que um cardeal foi processado.
O Cardeal Becciu era mesmo um possível candidato à sucessão papal. Ele manteve sua inocência e recorreu da sentença, mas o recurso ainda está pendente. Sua presença foi surpreendente, porque Francisco o destituiu de todos os seus direitos como cardeal, incluindo o direito de participar de um conclave, embora isso seja canonicamente discutível e haja vozes a seu favor.
+ Eleito em 2013, Franscico foi o 266º papa nos quase 2.000 anos de história da Igreja Católica, que abrangem três milênios.
+ Filipe Benizi, em 1271. Não aceitou ser Papa. Eleito, fugiu. São Carlos Borromeu, do final do século XVI, também recusou o papado,
+ O papa que permaneceu no cargo por mais tempo foi Pio IX, que ocupou o cargo por pouco menos de 32 anos. O recorde de menor tempo como papa vai para Urbano VII, que morreu de malária em setembro de 1590, após apenas 13 dias no cargo.