Postado às 05h53 | 29 Dez 2021
Ney Lopes
Ano novo, incertezas!
A catástrofe do vírus epidêmico amedronta todos.
O FMI constata que a América Latina poderá levar cinco anos para recuperar-se da pandemia e percorrerá longo e sinuoso caminho. Muito tempo.
A pobreza aumentou e a classe média está sufocada.
A atividade econômica sofreu retração de 7%, bem acima da média global, que foi queda de 3,1%.
Tudo isso acontece com a aproximação de um calendário eleitoral desafiador no Brasil, país que representa mais de 40% da economia da América Latina.
A história mostra a influência regional brasileira.
Após a tomada do poder em 1964, seguiram-se vários golpes militares no continente.
Quando voltou à democracia, na década de oitenta, aconteceu o inverso.
Vários países fizeram o mesmo.
O Paraguai foi o principal deles, através da exigência democrática, inserida no pacto comercial do Mercosul.
Os sinais da eleição presidencial brasileira em 2022 são de grande polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As inúmeras pesquisas têm um ponto comum: mostram avaliação ruim do governo, até agora, o que é negado pelo seu núcleo fanático.
A análise do cenário evidencia que o presidente enfrentará dois desafios, que não existiam em 2018.
Ele terá que atacar Lula e Sérgio Moro.
Antes foi apenas Lula.
Ele era o candidato do antipetismo.
Em segundo lugar, Bolsonaro terá dificuldade de sustentar o discurso anticorrupção e de nova política, pelo favorecimento aos seus aliados do Centrão, problemas de família e fatos conhecidos da opinião pública.
Antes, Bolsonaro levava o trunfo da defesa da Lava Jato.
Hoje ocorre o desmantelamento da operação e redução das investigações.
Quanto a Lula sabe-se que para confirmar a candidatura, o seu desejo real é indicar como vice-presidente o mineiro Walfrido Mares Guia (MG), repetindo a escolha de José Alencar, em 2002.
Mares Guia foi ministro de duas pastas do governo Lula (Relações Institucionais e Turismo).
Em Minas Gerais ocupou a secretaria de Educação, mandatos de vice-governador e deputado federal.
É empresário vitorioso na educação, através do grupo Kroton Educacional (atual “Cogna Educação”), o maior do mundo no setor e com forte presença na modalidade de educação a distância.
O que se pode concluir, a partir da realidade brasileira, é que a verdadeira crise política atual é da “centro-direita”.
Quem está sem espaço eleitoral é a centro-direita.
O radicalismo da extrema direita deslocou o debate e abriu espaços para viabilizar e fortalecer a esquerda.
Por isso, até hoje não surgiu a terceira via consistente.
O centro-democrático, que influi nos governos desde a proclamação da República, está fragmentado.
Lula comandou no PT a cooptação desse segmento, formado durante a Constituinte, com o nome de “centrão”, a base do “toma lá dá cá”.
Tudo teve início quando o petista eleito em 2002, avalizou a política econômica de FHC, assinou a “carta aos brasileiros” concordando com medidas do FMI e entregou o comando do BC a Henrique Meireles (PSDB-GO), que presidira simplesmente o “The First National Bank of Boston”.
Dilma continuou na mesma linha, aliando-se ao “centrão”, distribuindo ministérios, diretorias de estatais e cargos superiores da administração pública
Tem razão o jornalista Merval Pereira ao analisar, que “nunca o voto útil terá tanta importância, quanto na eleição presidencial do ano que vem”.
Os dados atuais indicam que esse voto poderá determinar a vitória de Lula no primeiro turno; fortalecer Bolsonaro, ou Moro, para que um chegue ao segundo turno. Ciro Gomes, embora preparado para o exercício da presidência, não “decola” e ultimamente recebeu solidariedade de Lula, o que reduz o seu poder de fogo contra o petista.
Rodrigo Pacheco, um bom nome, porém somente um milagre o colocará com chances no tabuleiro eleitoral.
O governador João Dória não pode ser excluído, mas terá muita estrada a percorrer.
Todos esses dilemas tornam o ano de 2022 indecifrável para o futuro do Brasil.
Isso não afasta, que seja também carregado de esperanças.