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Ney Júnior: hoje 25 de março, 50 anos depois

Postado às 17h04 | 24 Mar 2024

Ney Lopes

Não há alma que possa viver sem saudades. Lembrar é viver e reviver. A certeza do hoje nasce da lembrança do ontem: um homem sem recordações seria uma pedra inerte... “ (Olavo Bilac)

 

Hoje, 25 de março de 2024.

Há 50 anos tive a grande alegria de ser pai de um filho homem.

Nasceu em Natal. Ney Lopes Júnior, já falecido

Tinha duas filhas: Karla e Ana Lilian.

Hoje, 50 anos depois, ele completaria a idade mística, quando os sonhos se renovam e a  vida ganha mais forma e sentido

Na ante-sala da sala de parto da Maternidade Januário Cicco, ouvi o choro de Ney Jr, uma lembrança inesquecível.

Era o choro de quem chegava para viver ao meu lado, de Abigail, da família, como um presente de Deus.

Guardamos boas lembranças.

Cresceu e desde cedo, nos primeiros passos na escola, mostrava-se sociável e simpático.

Fazia amigos com facilidades.

No final da vida, entre muitos males, uma severa depressão tirou-lhe essa alegria na convivência social.

Para exercer mandato de deputado federal, fomos morar em Brasília.

Jovem há algumas histórias pitorescas, que mostram  como ele se comportava no cotidiano.

Tinha vivacidade, que caracterizavam a sua personalidade, desde criança.

No colégio – como ainda é hoje – ter familiares políticos era uma maldição.

Certa vez, viajei em missão parlamentar e trouxe-lhes uns “chicletes americanos”.

Ele presenteou a alguns colegas, que lhe indagaram como conseguira guloseima tão boa.

Ney Jr logo explicou: “meu pai é piloto de avião”.

Caso dissesse que era político, seria massacrado.

Sempre considerei viajar como leitura de um livro ao vivo.

Viajamos muito em família.

Quando ele tinha dez anos, estivemos na Grécia.

Antes condicionei os tres filhos lerem o livro “O Minotauro” de Monteiro Lobato, que conta histórias gregas na ilha de Creta.

Ao visitarmos uma ruína histórica, Ney Jr reclamou: “não gosto de ver pedras e areia”.

Depois da viagem, apliquei teste, para ver o que assimilaram da história grega.

Em Viena, levei-os para concerto de valsa.

Durante a apresentação, percebi Ney Jr olhando a programação impressa com atenção.

Perguntei-lhe se estava gostando.

Ele respondeu: “estou vendo quando tempo falta para terminar”.

Cinquenta anos depois, choro a sua partida.

Olavo Bilac traduziu esse sentimento tão difícil de ser descrito na palavra saudade,  impossível de ser explicada, mas facilmente sentida.

“Saudade presença dos ausentes”.

Como disse Mario Quintana: “O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”.

Sofri o pesadelo de todo pai, com a inversão da ordem natural das coisas, que é a perda de um filho.

A morte é um ponto final.

Foi devastador, enlouquecedor.

A dor da perda de alguém dói, mas a perda de um filho é uma chama escaldante, permanente e  próxima do nosso corpo.

Representa o rompimento de um vínculo especial, uma conexão única, que é difícil de descrever em palavras.

Eu nunca pensei que a saudade pudesse doer tanto.

Dor sem fim.

Viverá comigo, até partir para perto dele.

Entendi o desígnio de Deus, mas não aceitei, ainda.

Lembro o nome dele 24 horas por dia e rezo uma Ave Maria votiva.

Teria um futuro pela frente.

Passou entre nós tempo  tão curto.

Sinto que perdi uma parte de minha história e de mim mesmo.

Sempre me lembrarei das suas histórias, do seu carinho e do som da sua risada.

Foi uma luz e continuará sendo.

“A morte é um ponto de partida para o início de algo novo, a fronteira entre o passado e o presente” (Fernando Pessoa).

Ney Jr, ainda no ataúde, a caminho da cremação, com os lábios toquei-lhe a testa fria para a última costumeira saudação, que lhe fazia, nas chegadas e despedidas.

Dei-lhe “um cheiro na cabeça”

Hoje, cedo, fui ao cemitério Morada da Paz, com Abigail e só pude desejar-lhe um "Descanso em Paz, Filho!".

PS. No final da tarde, missa  familiar em intenção do aniversariante cinquentenário  e o pedido para que  a misericórdia de Deus lhe proteja na Morada Eterna.

 

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