Notícias

'Não quero dividir, quero unificar', diz Joe Biden no 1º discurso para apoiadores nos EUA

Postado às 04h46 | 08 Nov 2020

No primeiro discurso após ser declarado vencedor das eleições presidenciais nos Estados Unidos, Joe Biden refoçou, na noite deste sábado (7) que pretende unificar o País e conquistar a confiança de toda a nação . O democrata obteve a maioria dos votos dos delegados eleitorais em disputa com o republicano Donald Trump à presidência.

"Prometo ser um presidente que não busca dividir, mas unificar. Alguém que não vê os estados vermelho e azul, mas sim Estados Unidos. E que trabalhará de todo o coração para conquistar a confiança de todo o povo", afirmou

Biden se referiu aos eleitores de seu opositor Donald Trump pedindo união. "Para todos aqueles de vocês que votaram no presidente Trump, entendo sua decepção esta noite. Já perdi algumas vezes, mas agora vamos dar uma chance um ao outro", disse Biden no tom unificador que marcou sua campanha.

O democrata foi recebido com um buzinaço. Ao iniciar a fala, ele agradeceu pela votação: 74 milhões de votos, um recorde na história dos EUA.

Kamala Harris

A vice-presidente eleita, Kamala Harris, discursou antes de Joe Biden e pregou a proteção da democracia. "A nossa democracia não está garantida. Proteger nossa democracia requer luta, sacrifício, e há alegria nisso", disse. Ela citou ainda o fato de ser a primeira mulher negra a chegar ao cargo.

"Embora eu seja a primeira mulher neste posto, eu não serei a última", disse Harris.

"Porque cada menininha que me vê hoje aqui vê que este é um país de possibilidades. Para as crianças do nosso país, não importa o seu gênero, nosso país deu uma mensagem clara: sonhem com ambição, liderem com convicção, vejam vocês de uma maneira que outras pessoas possam não ver, porque talvez nunca tenham visto antes."

Harris finalizou em tom conciliador e se dirigiu aos eleitores de Trump. "Para o povo americano: não me importa em quem vocês votaram. Tentarei ser a vice-presidente de todos."

Disputa acirrada

A noite da eleição, na terça (3), começou com a expectativa de que Biden superaria Trump com ampla vantagem, mas o republicano ganhou a decisiva Flórida e iniciou uma ilusão vermelha inicial, com uma série de triunfos e lideranças em estados-chave, o que manteve as chances de reeleição.

Ao vencer no Texas, em Iowa e em Ohio durante a madrugada de quarta (4), Trump fez muitos apoiadores de Biden temerem uma repetição de 2016, quando o presidente derrotou Hillary Clinton ao vencer na maior parte das regiões decisivas, contrariando as pesquisas.

Os levantamentos, aliás, novamente subestimaram o voto no republicano, que teve mais apoio do que o esperado entre latinos no Sul e no geral no Meio-Oeste –região crucial para sua vitória há quatro anos.

Já a liderança inicial em estados que depois seriam conquistados por Biden pode ser explicada pelo fato de que muitas regiões contabilizam o voto presencial – que favoreceu o republicano– antes dos votos antecipados, que incluem as cédulas enviadas pelo correio, em sua maioria de eleitores democratas.

Em Michigan e Wisconsin, por exemplo, Biden ultrapassou Trump conforme os votos por correspondência eram contados, principalmente nas grandes cidades, geralmente mais progressistas. Devido à pandemia, mais de 100 milhões votaram de forma antecipada, cerca de dois terços deles pelo serviço postal.

Desafios

Como presidente, o desafio inicial do ex-vice de Barack Obama será controlar a crise sanitária que colocou os EUA como líderes em números de mortes e diagnósticos de Covid-19, enquanto administra as diversas alas de um Partido Democrata que se uniu para barrar Trump, mas que deve reviver diferenças no governo.

Biden saiu de uma pré-campanha desacreditada, no início do ano, com resultados frustrantes nas primárias de Iowa, New Hampshire e Nevada, para ser nomeado o candidato democrata.

Depois de uma vitória arrebatadora nas primárias da Carolina do Sul, no fim de fevereiro, fidelizou o eleitorado negro e ressurgiu como a principal aposta contra Trump.

Consolidou-se como alternativa a Bernie Sanders, senador progressista e principal rival no duelo interno pela nomeação, e uniu o centro democrata em uma articulação bem montada, que começou com a desistência de rivais às vésperas da Superterça, em março, até Sanders abrir mão da corrida, em abril.
Biden fez um campanha focada em Trump e nos erros do presidente no combate à pandemia. Apresentava-se como o único líder capaz de unir um país dividido pelo republicano, em meio a uma crise que deixou ao menos 236 mil mortos e 11,1 milhões de desempregados.

Assim, tentava cristalizar um sentimento mais anti-Trump do que pró-Biden entre fatias decisivas do eleitorado. Não era preciso gostar de Biden, diziam auxiliares do democrata. Bastava não gostar de Trump.

A narrativa da campanha democrata era de que Biden, segundo presidente católico dos EUA, depois de Kennedy, conseguiu se reerguer mesmo depois de ter perdido a primeira mulher e uma filha num acidente de carro em 1972 e, quatro décadas depois, outro filho, vítima de câncer no cérebro.

Com experiência e empatia com a dor do povo americano, argumentava, poderia reconstruir os EUA em um de seus momentos de maior dificuldade.
A partir de janeiro, Biden precisa mostrar que é possível colocar seu plano em prática diante do aumento dos casos de Covid-19 nos EUA. Um dia após a votação, o país registrou o maior índice de contaminação diária desde o início da pandemia: 100 mil casos, sinalizando que os EUA estão longe de controlar o vírus.

Além de combater a crise sanitária, o democrata precisa trabalhar em um pacote de estímulo econômico.

Em seus discursos, tem dito que vai "acabar com o vírus" e não "fechar o país". Também promete restaurar a normalidade e a confiança nas instituições americanas em um país polarizado. Em busca da reeleição, Trump colocou a democracia dos EUA sob seu maior teste de estresse desde a Guerra Civil, entre 1861 e 1865, quando estados do Sul lutaram contra os do Norte pela manutenção da escravidão no país.

Deixe sua Opinião