Postado às 05h59 | 03 Abr 2020
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, defendeu o isolamento social para o combate à pandemia de coronavírus. Ele destacou que o Brasil vive seu período de “pré-pico” e o esperado é que os casos confirmados da doença aumentem exponencialmente nas próximas semanas. Com isso, de acordo com Mourão, é necessário tomar medidas para combater a disseminação da doença em território nacional antes de pensar na retomada da atividade econômica. O general declarou que a retomada das atividades comerciais deve ser “lenta, segura e gradual”.
O vice-presidente declarou que é necessário achatar a curva de crescimento da infecção, de modo que o sistema de saúde seja reforçado para suportar a carga de pacientes que devem dar entrada no sistema em decorrência do agravamento de sintomas. “Nós ainda estamos naquele momento pré-pico. A avaliação é que nós temos que continuar com essa política de isolamento, no sentido de atravessarmos esse mês de abril, onde se espera que o pico da doença comece a ocorrer aí a partir do dia 20, 25 de abril, procurando aquilo que vem sendo chamado do achatamento da curva, de modo que o nosso sistema de saúde, e principalmente a chegada dos insumos que estão sendo comprados permita que a gente supere esse momento”, disse.
As declarações ocorreram em entrevista ao jornalista Augusto Nunes, em evento do Banco BTG Pactual. Ele defendeu que os serviços não essenciais continuem fechados, até que se tenha uma “análise constante da evolução da doença, das áreas que realmente estão sendo mais impactadas, para pouco a pouco haver uma liberação das atividade não-essenciais”. A posição de Mourão se alia mais ao que pensam os governadores, que tem adotado políticas de isolamento, como o fechamento de escolas universidades e do comércio como medida para combater o avanço do vírus sobre a população.
O vice presidente defendeu, no entanto, que a epidemia “não é motivo de uma histeria total como nós estamos vendo”. De acordo com ele, “hoje você toma café, almoça, janta e faz a ceia ouvindo coronavírus”. Ele acredita que logo esse cenário epidêmico vai passar e a normalidade será tomada, no entanto, com perdas para todos. Não nos aglomeramos. Não ficarmos irritados porque não estamos indo a festas, não estamos indo a bailes, não estamos comparecendo aos cinemas. Não, vamos entender que esse é um momento e que tudo na vida passa. Serão 30 dias, 60 dias, mas logo, logo a vida retornará ao normal — disse. — Todos perderemos alguma coisa nessa crise, mas vamos ganhar algo muito maior, que é o sentimento de união e de capacidade do povo brasileiro de superar desafios”, completou o militar.
Em relação ao impacto da crise na economia brasileira, o vice-presidente disse que “será uma dívida que todo povo brasileiro vai pagar nos próximos anos”. Para Mourão, após o pico da curva de contaminação, as atividades econômicas voltarão à ativa aos poucos: “Esse processo terá que ser lento, gradual e seguro”.
O general ainda comentou a concessão do auxílio de R$ 600 a trabalhadores informais, que ficou conhecido como “coronavoucher”. Na avaliação de Mourão, a Caixa Econômica Federal, pela sua capilaridade, será de grande auxílio para levar o benefício à regiões de difícil acesso, como na Amazônia.
Amazônia
O vice-presidente falou sobre o projeto do Conselho da Amazônia, presidido por ele, que estava em andamento antes da pandemia se instaurar no Brasil. Mourão afirmou que as estratégias de combate às queimadas e ao desmatamento ilegal na região continuam. Na manhã desta quinta-feira (2/4), foi transmitido aos governadores da Amazônia Legal o planejamento estratégico. O general projeta que “em julho, agosto, quando nós já tivermos solucionado o coronavírus, essa vai ser outra pressão em cima do governo”, referindo-se aos crimes contra a floresta.
Segundo o vice-presidente, o coronavírus ainda não é uma grande preocupação na região, de forma que, apesar de afetar os grandes polos, não ganhou força nas pequenas cidades. Assim, cada governante tem tomado as medidas cabíveis sobre isolamento social. Ele pontuou que o Exército tem sido um grande aliado no enfrentamento à pandemia na região Amazônica.
“Até o presente momento, nos preocupa Roraima, pela fronteira com a Venezuela, e a região do Acre, pela proximidade com o Peru e com a Bolívia”, disse. Uma grande preocupação para o general é uma possível explosão de casos da Covid-19 na Venezuela. Ele destacou que a cidade de Caracas tem “um grande número de favelas”, de forma que, em caso de surto da doença, o governo não conseguiria controlar, ameaçando, assim, as fronteiras brasileiras.