Postado às 15h38 | 25 Nov 2020
Diário de Notícias, Portugal
Diego Armando Maradona, uma das maiores estrelas da história do futebol, morreu nesta quarta-feira aos 60 anos, na cidade de Tigre, na província de Buenos Aires, onde vivia.
A notícia foi avançada pelo jornal argentino Clarín e já confirmada pela Associação de Futebol Argentina. O antigo futebolista morreu em casa, onde se encontrava a recuperar de uma cirurgia à cabeça. Maradona sofreu uma paragem cardiorrespiratória. A morte do antigo futebolista deixou o povo argentino em choque e o Governo já decretou três dias de luto nacional.
O mês de novembro foi difícil para Maradona. Foi internado numa clínica privada de La Plata e depois transferido para a Clínica Olivos, em Buenos Aires, para ser retirado um coágulo que se tinha formado no cérebro. A cirurgia acabou por correr bem, embora os médicos já esperassem uma difícil recuperação.
Segundo o jornal argentino Olé na manhã desta quarta-feira (25 de novembro) Maradona levantou-se bem e deu uma caminhada, como fazia habitualmente. Depois voltou a deitar-se. De acordo com o diário toda esta rotina foi acompanhada por uma psicólogo, uma psiquiatra e pela enfermeira que seguia a sua recuperação.
Ao meio-dia (hora da Argentina, 15.00 em Portugal Continental) quando o foram acordar para lhe dar a medicação, Maradona já não respondeu. Na sequência do alerta foram enviadas para a casa do antigo futebolista quatro ambulâncias, apesar da rapidez do socorro era demasiado tarde. Já estava morto, conta o Olé.
De acordo com o Clarín a família e as pessoas mais próximas achavam que Maradona andava muito ansioso e nervoso e por isso foi colocada de parte a ideia de o ex-jogador fazer a sua reabilitação em Cuba onde há uns anos fez um tratamento devido à sua dependência da droga.
Diego Maradona nasceu a 30 de outubro de 1960 em Lanús, na província de Buenos Aires, tendo-se tornado um dos maiores ícones da história do futebol.
Se Pelé foi o rei, Maradona foi deus para os seus fiéis seguidores. Na realidade, foi "D10s" (uma fusão de deus com o dez que sempre usou na camisola) e diabo do futebol mundial nas décadas de 1980 e 1990, génio tão excessivo no relvado como fora dele.
Com a bola colada ao seu pé esquerdo, Diego Armando Maradona (também ele ganhou este direito a ver o nome completo nos jornais) era capaz de conquistar o mundo. E conquistou-o, carregando na sua canhota (e, vá, numa mão que ele tornou divina) todos os sonhos argentinos até à vitória no Mundial de 1986, tal como carregou também todos os sonhos napolitanos contra os ricos do norte de Itália nos dois títulos de campeão improváveis que venceu com a camisola do Nápoles.
Maradona caiu apenas perante si próprio e os seus demónios. Tudo nele foi excessivo. As drogas acabaram por cortar uma das mais belas histórias que os relvados do futebol conheceram, com um par de controlos antidoping positivos (um deles em pleno Mundial 1994) a precipitarem o final de carreira de El Pibe, o génio puro capaz de driblar meia seleção inglesa para marcar o "golo do século", nesse Mundial de 86, com a mesma facilidade com que encantava as bancadas simplesmente a dar infindáveis toques sucessivos numa pastilha elástica no aquecimento para um jogo.
O craque que escolheu viver sempre no fio da navalha.
A vida de Maradona foi repleta de episódios rocambolescos, mas também de grande "amor" dos adeptos de futebol por aquilo que o argentino representa e representou na sociedade. Aqui ficam vários exemplos da importância daquele que foi considerado, com o "inimigo" Pelé, um dos melhores futebolistas do mundo.
Maradona foi um dos maiores ídolos do futebol mundial e teve registos que o podem comprovar. O astro argentino conquistou o título de campeão mundial em 1986 e em 2000 foi eleito pela FIFA como o jogador do século XX, a par do brasileiro Pelé. À dezena de títulos que conquistou pelos clubes onde passou, El Pibe juntou uma série de galardões individuais. Mais do que isso, ele foi a grande fonte de inspiração para uma geração de futebolistas argentinos, Lionel Messi (por muitos apontado como o seu sucessor) incluído.
A arte de Maradona serviu de inspiração a mais de uma dezena de músicas, tanto na Argentina, com temas como Maradó, interpretado pelo grupo Los Piojos, como no resto do mundo. Manu Chao, por exemplo, escreveu dois temas sobre o mago do futebol mundial: Santa Maradona e La Vida Es Una Tambola, que serviu de banda sonora ao documentário do realizador bósnio Emir Kusturica sobre a vida do craque. Além deste documentário, Maradona foi tema de vários outros filmes, como a produção argentina El Camino de San Diego.
Personalidade incontornável, Maradona apareceu nas páginas da imprensa muitas vezes pelos piores motivos. Considerado mau exemplo pelo uso de drogas ou pelas relações extraconjugais, que lhe valeram um filho fora do casamento, Diego Sinagra, que hoje é futebolista em Itália. Fora dos relvados também, Maradona foi até apresentador de televisão na Argentina como anfitrião do programa La Noche del 10, estreado em 2005 e no qual entrevistou, entre outros, o rival Pelé.
A divindade do futebol de Maradona serviu de mote para a fundação em 1998 da Igreja La Mano de D10S ("A mão de Deus", escrita em combinação com o número do craque), uma paródia de religião com rituais concebidos à imagem da Igreja Católica. Existe o Natal Maradoniano, que comemora a data em que o ex-craque faz anos, e a Páscoa Maradoniana, onde se celebra 22 de junho, data em que El Pibe apontou o "golo do século" no México'86. A igreja tem altares em honra do camisola 10 e organiza inclusivamente casamentos, onde os noivos têm de levar os cabelos aos caracóis e um número 10 cosido nas costas do fato.
Maradona era sobretudo crítico das políticas da FIFA, mas à medida que foi amadurecendo foi revelando a sua consciência política. Depois de ter apoiado o presidente peronista Carlos Menem, El Pibe tornou-se cada vez mais um militante de esquerda, apoiante da Revolução Cubana. Tinha os rostos de Fidel Castro e Che Guevara tatuados e já revelou também o seu apoio ao presidente venezuelano Hugo Chávez, com quem mantém uma relação estreita. Dizia-se avesso ao imperialismo norte-americano e chegou até a oferecer uma camisola sua ao povo do Irão.