Postado às 11h06 | 02 Mar 2025
Ney Lopes
(Artigo publicado no dia 14 de fevereiro nos jornais Tribuna do Norte em Natal e Jornal de Fato em Mossoró, RN)
Hoje, 14 de fevereiro, o dia do meu aniversário. Viajando, completo 80 anos de idade. Resolvi falar sobre alguns momentos do percurso da vida. Para isso, fiz uma auto entrevista
Chega aos 80 anos com recordação de sua origem?
Sem dúvida. É a marca da minha vida. Josias e Neuza, meus pais. Mafalda, Francisco Justino de Souza, Idalina, Manoel Lopes, meus avós. As manhãs do Alecrim, bairro de Natal onde nasci e vivi. Justamente na época em que muitos sonhos vicejavam na mente de um jovem cheio de fé e confiança em um futuro que parecia custar a chegar.
Casou cedo e como conheceu a sua esposa Abigail?
Coisas do destino. O meu mundo era totalmente diferente do de Abigail. O pai dela tinha posição política muito destacada no Estado (ex-prefeito de Natal, ex secretário de estado e ex-deputado). Eu morando no Alecrim me sentava em um tamborete, ao lado do meu pai, na sua Alfaiataria Globo, pregando botões, alinhavando provas de paletós e começando a despertar para a vida e para o trabalho. Ela me conhecia pela militância que tive na política estudantil. Certo dia, nos encontramos na missa da Igreja de Santo Antonio e tudo deu certo, embora alguns dissessem que ela namorava com um jovem sem futuro. Ela respondia: “ele não tem presente, mas tem futuro”. Uma mulher extraordinária.
Que tipo de provações econômicas a sua família enfrentou enquanto você crescia?
R.. A Alfaiataria Globo com excelente clientela teve filial no Grande Ponto, em frente à “loja Seta” de Nevaldo Rocha. No início da década de 60 surgiu a roupa de fábrica. Foi a derrocada da empresa, que gerava vários empregos. O meu pai só cortava os tecidos. Alguns amigos aconselharam-lhe a montagem de uma indústria de roupa pré-fabricada. Para instalar a fábrica, ele teria que recorrer a banco e a sócio. Humilde temia sofrer ingratidões de sócios. A Alfaiataria Globo fechou. Enfrentamos dificuldades de sobrevivência.
Chega aos 80 e o que mais recorda do passado?
Dominou-me um desejo de conhecer o mundo. Sonhei em ser oficial de marinha e a justificativa era uma viagem de navio ao redor do mundo, oferecida aos concluintes no final.
Por que não partiu para a Escola Naval?
Precisava fazer um cursinho particular. Os meus pais não puderam pagar.
Qual o seu primeiro colégio frequentado?
Colégio São Luiz, que pertencia ao padre Eymard. A diretora era dona Leonor, ainda presente na minha memória. Severa, não dispensava a “tabuada” e uma boa caligrafia.
Na sua vida de jovem estudante, o que lhe marcou?
Ter estudado no Colégio Marista e no Atheneu. Fui presidente do Diretório estudantil e no Marista de um grêmio literário famoso à época, chamado Arcádia Natalense. Cada membro tinha um patrono. O meu era Paulo Setúbal, advogado, jornalista, poeta. Ingressei na Juventude Estudantil Católica (JEC).
Na adolescência teve contato com a política?
R. Lembro JK em discurso na Praça Gentil Ferreira, ao lado do deputado Teodorico Bezerra. Em 1958, contagiado pelo micróbio da política, acompanhei Dinarte Mariz, Aluízio Alves, Djalma Marinho, Tarcísio Maia e Dix Huit, na campanha um “amigo em cada rua”. Sempre guardei muita admiração pelo meu sogro dr. Claudionor de Andrade. Grande parlamentar, orador, empolgava nas campanhas políticas.
Depois, ingressando na política quais foram os eventos mais importantes que vivenciou? Alguma decepção?
R. Ter sido anos advogado militante e jornalista distinguido com o Prêmio Esso, o único troféu dado a um potiguar “em matéria publicada no jornal da terra” até hoje. A posse seis vezes como deputado federal (24 anos) e a classificação por órgãos idôneos (imprensa e sindicatos), enquanto estive no Congresso, como um dos 10 melhores deputados do país. Internacionalmente, ter presidido o Parlamento Latino Americano, que reúne os congressos das Américas. Ter proferido palestras na ONU, Parlamento Europeu, Parlamento russo, Parlamento Chinês, faculdades inglesa e americana e universidades internacionais. Decepção, o trabalho orquestrado de alguns no RN, desvalorizando essas conquistas.
Finalmente, de que você tem medo?
R. De má Vontade. Essa é a pior coisa do mundo. A melhor é a boa vontade das pessoas.
A quem mais agradece a vida que tem?
A Deus. Nunca me faltou a sua proteção. Sobretudo para me dá a família que tenho.