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Marília Mendonça, a compositora prodígio que não vai deixar a saudade passar

Postado às 06h33 | 06 Nov 2021

As composições da ‘rainha da sofrência’ começaram a chamar atenção quando ela ainda tinha 12 anos e cantava na Igreja em Goiânia. Menos de 10 anos depois, conquistou o Brasil

El País

“Todo mundo vai sofrer”, escreveu Marília Mendonça em um de seus maiores sucessos. O verso ganhou um sentido ainda mais profundo nesta sexta-feira, quando a queda do avião bimotor em que viajava para Minas Gerais encerrou de forma trágica a carreira meteórica de uma cantora de apenas 26 anos. Conhecida primeiro como compositora, adentrou o mundo da música pelas vozes de grandes nomes do sertanejo, como Cristiano Araújo, coincidentemente vítima de outra tragédia fatal, aos 29 anos, num acidente de carro em 2015. Dela, Araújo gravou É com ela que eu estou; Jorge & Mateus cantaram Calma; e Henrique & Juliano celebrizaram Cuida bem dela.

Marília nasceu em Cristianópolis, a uma hora de distância de Goiânia. Foi na capital goiana que ainda menina começou a chamar a atenção por sua voz e pelas letras das músicas que já compunha. Logo estava se apresentando em bares e, por fim, em shows que atraíam milhões de fãs, um público que nunca a deixava cantar sozinha. Ao lançar Infiel, em 2016, se estabeleceu como rainha da sofrência, o grande expoente do feminejo —o fenômeno das cantoras de música sertaneja que tomou o país— e a psicóloga dos bares.

Dona de um vozeirão rouco e do típico sotaque arrastado dos cantores goianos, havia começado a compor aos 12 anos, mas se lançou oficialmente como cantora aos 18, em 2014. Foram necessários apenas dois anos para que seus hits tomassem o país pela sua própria voz. Foi a mulher mais ouvida pelos brasileiros no Spotify, no Deezer e no YouTube em 2017 —no caso da plataforma de vídeo, ficou em 13º lugar em todo o mundo naquele ano. Em 2019. ganhou o Grammy Latino pelo disco Todos os cantos.

Marília Mendonça morre em acidente de avião na serra da Caratinga, em Minas Gerais

Em 2018, iniciou a parceria com a dupla Maiara & Maraísa, com o disco Agora é que são elas 2, e se preparava agora para sair em turnê com as duas pelo projeto Patroas em 2022. Nos últimos meses, respeitou as limitações impostas pelas autoridades por conta da pandemia de coronavírus, mas não deixou de consolar seu público de desiludidos amorosos. No dia 8 de abril do ano passado, estabeleceu um novo recorde para sua carreira de prodígio: se tornou a artista mais assistida em uma live, com 3,3 milhões de visualizações simultâneas.

Na era das redes sociais, os números falam por si: 39 milhões de seguidores no Instagram, 22 milhões no YouTube, 15 milhões no Facebook, 7,8 milhões no Twitter. Nesta sexta-feira, sua morte levou o Estado onde nasceu a guardar três dias de luto. Tirou mensagens de pesar do presidente da República e de seu maior adversário político, o ex-presidente Lula da Silva. Foi reverenciada por gigantes da música nacional, como Caetano Veloso e Gal Costa, e homenageada por jogadores do futebol e por ministros do Supremo Tribunal Federal.

Escritas para evocar amores, decepções e o medo diante das agruras da paixão, as canções de Marília devem ganhar novos significados a partir de sua morte. Músicas como SuperaDe sexta a sexta, Ei, saudade e... seus fãs sabem que a lista é muito mais longa. Marília era a intérprete dos brasileiros que amam, perdem e superam. Ao menos é o que, cercada pelo coro de sua plateia, hoje boquiaberta diante da televisão, ela tentava ensinar em suas letras. Resta aos fãs, ainda chocados, repeti-la: “Ei, saudade/ Precisamos conversar/Tão covarde, quando você vai passar?”.

 

 

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