Postado às 04h38 | 26 Mai 2020
A Latam avalia entrar com pedido de recuperação judicial no Brasil, nos Estados Unidos e no Chile. Executivos da companhia aérea sinalizaram essa possibilidade a integrantes do governo brasileiro.
Procurada, a empresa afirmou que não comenta especulações. “Se o Grupo tivesse algo a comunicar, em particular, fatos que se exigem relatar, em primeiro lugar, às autoridades reguladoras, isso seria feito por meio de canais formais, pela responsabilidade que tem perante as autoridades, seus funcionários e o público em geral”.
A Latam é das três maiores empresas aéreas do Brasil, junto com Gol e Azul. Se o pedido de recuperação judicial se concretizar, será a segunda empresa da América Latina a aderir a esse recurso desde o início da pandemia.
Há cerca de duas semanas, a colombiana Avianca Holding também recorreu ao instrumento.
A empresa tem sede no Chile, mas a maior parte das operações é no Brasil. Por isso, o pedido seria feito nesses dois países. Ao acionar a lei de falências dos Estados Unidos, a justificativa é buscar uma solução para negociar compromissos com arrendadores de aeronaves.
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As companhias aéreas estão entre as empresas mais afetadas pela crise. Após um período de negociação, as três maiores empresas aéreas do país aderiram a um modelo de socorro proposto pelo BNDES, feito em parceria com um grupo de bancos.
Segundo fontes, as empresas demandavam um valor da ordem de R$ 10 bilhões. O modelo, porém, foi fixado em R$ 6 bilhões, sendo R$ 2 bilhões para cada empresa aérea. A operação é feita com compra de títulos de dívida da empresa, com juros previamente definidos.
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Isso equivale a 75% do total. Os títulos restantes podem ser trocados por ações.
Em entrevista recente ao GLOBO, o presidente da Latam, Jerome Cadier, defendeu atuação rápida do governo e disse que, sem ajuda, o setor aéreo não sobrevive. Mesmo em 2021, previa uma queda da demanda de 30% a 40%.
Na semana passada, a agência Fitch rebaixou a nota de crédito da Latam de B- para CC, de grau especulativo. No ano passado, 68% das receitas da Latam no Brasil vieram de voos internacionais, os mais afetados pela pandemia. Na Azul, essa fatia é de 22%, e na Gol, de 12%.
Segundo fontes, nos últimos dias a empresa teria iniciado conversas com escritórios especializados em reestruturação. Alguns dos fatores citados no mercado que pesam sobre as operações da companhia são a incerteza quanto à retomada do setor e o impacto das mudanças em decorrência da pandemia.
Em Nova York, a companhia contaria com a PJT Partners para fazer a negociação com detentores de títulos emitidos pela empresa. A PJT é especializada nesse tipo de operação e foi contratada pela Oi, em 2016.
Procurado, o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) disse estar monitorando a situação da empresa, mas, por ora, não foi informado sobre qualquer possibilidade de a Latam recorrer ao mecanismo de proteção judicial.