Postado às 06h39 | 06 Out 2021
Quando alguém olha uma pesquisa eleitoral, a primeira preocupação é saber o percentual de intenções de votos para presidente da República.
O cientista político Antônio Lavareda chama atenção para outras variáveis e fatores, que explicam e afetam as posições dos candidatos na pesquisa.
No caso da sucessão brasileira, Lavareda sugere itens fundamentais para a análise das tendências eleitorais na reeleição do presidente Bolsonaro: avaliações sobre a conjuntura econômica e o desempenho do governo no combate à pandemia.
O primeiro ponto envolve o “bolso do cidadão”. Regra geral, o eleitor não vota por ideologia tal ou qual.
O voto é medido pela previsão de que a situação possa melhorar, comprar alimentos para a família, ter emprego e os filhos frequentarem escola.
Por tais motivos, todas as políticas de governo devem causar impactos positivos na qualidade de vida das pessoas e não apenas atenderem aos interesses do chamado “mercado”.
Há que ser compatibilizado o discurso responsável com a estabilidade das finanças públicas e a distribuição de renda, para reduzir desigualdades sociais. As duas ações são simultâneas.
A história política mostra alguns exemplos, que confirmam a preocupação prioritária do eleitor com a evolução da economia.
Em 1992, James Carville, estrategista de Bill Clinton, tornou famoso um “slogan” até hoje repetido em campanhas: “É a economia, estúpido”.
O adversário de Clinton era George Bush (pai), à frente das pesquisas. Ele acabara de ganhar a Guerra do Golfo.
Todavia, mesmo nesse contexto de glória na preservação da “segurança nacional” e “soberania”, a economia norte americana enfrentava gravíssima crise, decorrente dos gastos militares excessivos.
Clinton percebeu o “aperto financeiro” do cidadão comum e dirigiu a sua campanha para anuncio de metas que favoreciam diretamente o bolso, sobretudo dos necessitados.
Mesmo acusado de “populista” e “demagogo”, Clinton propôs redução significativa dos gastos militares e a recuperação da competitividade das empresas norte-americanas. Teve sucesso e em 1996 foi reeleito com o PIB dos Estados Unidos superior à somatória do PIB da Alemanha e do Japão.
Diante da pandemia, o cientista político Lavareda pondera que a decisão do eleitor em 2022 para a presidência da República sofrerá grande influência da forma de combate a catástrofe epidêmica.
Realmente há exemplos históricos de candidaturas inviabilizadas eleitoralmente pelo mau desempenho de governos em guerras, conflitos ou situações semelhantes a atual pandemia.
Lyndon Johnson, presidente americano, não se reelegeu por conta do mau desempenho ao conduzir a guerra do Vietnam, mesmo tendo méritos na sua luta pelos direitos civis dos negros.
A participação americana no conflito foi marcada por polêmicas, com as cenas dos combates chocando a opinião pública americana e mundial.
Outro exemplo de derrota eleitoral, por força de falhas na condução de problema interno, foi do presidente Jimmy Carter.
Após fracassada operação militar no Irã, 52 soldados americanos ficaram como reféns nos cárceres iranianos.
Ronald Reagan, opositor de Carter, mobilizou a opinião pública e apontou a responsabilidade da Casa Branca na crise com o governo iraniano. Ganhou a eleição.
Recentemente, a vitória de Olaf Scholz na Alemanha não foi derrota de Merkel. Ele era o ministro das finanças e geriu a pandemia, não titubeando em quebrar o “teto de gastos” da Constituição alemã para favorecer as classes mais necessitadas.
Essa marca de redução das desigualdades sociais o ajudou na vitória.
Aliás, o resultado da eleição da Alemanha deve servir de exemplo, por ser um “recado" às democracias globais.
Sobretudo para o Brasil, que irá às urnas decidir o seu futuro. A população deseja maior presença e proteção do estado, optando por alternativas que priorizem o social.
Até o FMI realçou em documento, que o aumento da desigualdade social exige medidas voltadas para a abertura de mais oportunidades e redução das disparidades sociais.
O FMI sugeriu taxar ricos e empresas, que lucraram na pandemia.
Pode-se concluir, que as chances de reeleição do presidente Bolsonaro dependerão do “julgamento” do seu governo, em relação a recuperação da economia e a gestão na pandemia.
A “maioria silenciosa”, que não aparece nas pesquisas, estará atenta!