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Jornalista da Folha deseja morte de Bolsonaro; Fábio Faria defende e governo quer usar Lei de Segurança

Postado às 04h36 | 08 Jul 2020

Em artigo de opinião publicado no jornal Folha de S.Paulo nesta 3ª feira (7.jun.2020), o colunista Hélio Schwartsman disse torcer para que o presidente Jair Bolsonaro morra.

texto (para assinantes) foi ao ar depois do anúncio de que o presidente da República está com covid-19. No artigo, intitulado “Por que torço para que Bolsonaro morra“, Schwartsman diz que se Bolsonaro morresse significaria que o Brasil não teria mais 1 mandatário minimizando a pandemia.

“Torço para que o quadro se agrave e ele morra. Nada pessoal. […] Embora ensinamentos religiosos e éticas deontológicas preconizem que não devemos desejar mal ao próximo, aqueles que abraçam éticas consequencialistas não estão tão amarrados pela moral tradicional”, escreve o jornalista.

O jornalista pondera que “a vida de Bolsonaro, como a de qualquer indivíduo, tem valor e sua perda seria lamentável”. Mas diz que “no consequencialismo todas as vidas valem rigorosamente o mesmo”.

Schwartsman pontua, ainda, que o eventual óbito do presidente da República por covid-19 serviria de recado a quem nega a gravidade da pandemia.

“Numa chave um pouco mais especulativa, dá para argumentar que a morte, por Covid-19, do mais destacado líder mundial a negar a gravidade da pandemia serviria como um ‘cautionary tale’ de alcance global.”

Depois do anúncio de que o presidente está doente, as redes sociais foram tomadas pelo mesmo desejo expressado por Schwartsman.

Na 2ª feira (6.jul.), hashtag “#ForcaCovid” entrou para os trendings topics do Twitter. Diversos usuários aderiram, mas a iniciativa foi criticada tanto por apoiadores do presidente quanto por quem é opositor do governo.

Governo vai investigar

O ministro André Mendonça (Justiça e Segurança Pública) repudiou o artigo escrito por Hélio Schwartsman. Anunciou nesta 3ª feira (7.jul.) que vai determinar à Polícia Federal que investigue o colunista com base na Lei de Segurança Nacional.

© reprodução/Twitter

Limites da liberdade de expressão

Ao informar sobre a abertura do inquérito, Mendonça elencou princípios do Estado democrático de Direito. Entre eles, o da liberdade de imprensa. Destacou, no entanto, que a Constituição limita essas liberdades.

A decisão esbarra em 1 dilema que pode chegar em breve ao STF (Supremo Tribunal Federal) e nos demais tribunais do país: os limites da liberdade de expressão no Brasil.

O próprio STF, em 2003, decidiu que esse direito não é tão elástico como os constituintes de 1988 pareciam desejar. Na ocasião, a maioria dos ministros concluiu que era válida condenação por racismo do editor de livros Siegfried Ellwanger, do Rio Grande do Sul.

Esse entendimento ganhou ainda mais relevo em 2019, quando o STF decidiu que homofobia é uma forma contemporânea de racismo.

Repercussão

Sem citar o artigo publicado pelo jornalista Hélio Schwartsman, o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, desejou rápida recuperação a Bolsonaro. Disse que “uma sociedade livre não se constrói com ódio e intolerância”.

“Uma sociedade livre não se constrói com ódio e intolerância, mas com respeito à diversidade, elemento essencial à convivência democrática. Desejamos o pronto restabelecimento do presidente Jair Bolsonaro e dos demais brasileiros que enfrentam hoje a Covid-19. Somente um processo de pacificação cicatrizará as feridas deixadas por essa pandemia, que já tirou 66.868 vidas no Brasil. Em nome pessoal e do Poder Judiciário, trabalhamos pela vida e pela paz.”

O ministro Fábio Faria (Comunicações) lamentou a publicação. Disse que os jornais deixam claro que textos de opinião não necessariamente revelam o posicionamento do jornal que os publica. Por outro lado, segundo ele, reclamou que os periódicos atribuem ao presidente a culpa por pessoas comuns ou autoridades que participam de atos com pautas antidemocráticas.

Acrescentou: “O artigo é 1 ataque claro à instituição da Presidência da República e merece todo o repúdio dos jornalistas e de todos os poderes para que possamos caminhar para 1 armistício patriótico”.

O ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) declarou que o jornalista tem de responder criminalmente.

“Absurdo e repugnante todo esse ódio contra o nosso Pres. Bolsonaro! Ninguém pode concordar com tamanha agressão ao Chefe de Estado do Brasil! Jornalista que afirma querer a morte do Presidente deve responder criminalmente!”.

íNTEGRA DO ARTIGO

Hélio Schwartsman

Jair Bolsonaro está com Covid-19. Torço para que o quadro se agrave e ele morra. Nada pessoal.

Como já escrevi aqui a propósito desse mesmo tema, embora ensinamentos religiosos e éticas deontológicas preconizem que não devemos desejar mal ao próximo, aqueles que abraçam éticas consequencialistas não estão tão amarrados pela moral tradicional. É que, no consequencialismo, ações são valoradas pelos resultados que produzem. O sacrifício de um indivíduo pode ser válido, se dele advier um bem maior.

A vida de Bolsonaro, como a de qualquer indivíduo, tem valor e sua perda seria lamentável. Mas, como no consequencialismo todas as vidas valem rigorosamente o mesmo, a morte do presidente torna-se filosoficamente defensável, se estivermos seguros de que acarretará um número maior de vidas preservadas. Estamos?

No plano mais imediato, a ausência de Bolsonaro significaria que já não teríamos um governante minimizando a epidemia nem sabotando medidas para mitigá-la. Isso salvaria vidas? A crer num estudo de pesquisadores da UFABC, da FGV e da USP, cada fala negacionista do presidente se faz seguir de quedas nas taxas de isolamento e de aumentos nos óbitos. Detalhe irônico: são justamente os eleitores do presidente a população mais afetada.

Bônus políticos não contabilizáveis em cadáveres incluem o fim (ou ao menos a redução) das tensões institucionais e de tentativas de esvaziamento de políticas ambientais, culturais, científicas etc.

Numa chave um pouco mais especulativa, dá para argumentar que a morte, por Covid-19, do mais destacado líder mundial a negar a gravidade da pandemia serviria como um “cautionary tale” de alcance global. Ficaria muito mais difícil para outros governantes irresponsáveis imitarem seu discurso e atitudes, o que presumivelmente pouparia vidas em todo o planeta. Bolsonaro prestaria na morte o serviço que foi incapaz de ofertar em vida.

FABIO FARIA DEFENDE BOLSONARO EM NOTA 

Em nota, o ministro diz que “lamentavelmente” foi publicado o artigo de Schwartsman.

“Todos os jornais repetem a máxima de que as opiniões de articulistas/colunistas não refletem a opinião dos veículos”, afirma Faria.

“Por outro lado, foi estabelecida uma linha invisível e subjetiva onde qualquer ministro, senador, deputado ou até mesmo um apoiador que participa ou expressa opiniões ditas ‘antidemocráticas’, a responsabilidade é sempre atribuída ao presidente Jair Messias Bolsonaro”, escreveu o ministro.

Fábio Faria disse no texto defender que as liberdades de imprensa e de expressão andem sempre juntas, mas cobra o repúdio como caminho para um “armistício patriótico”.

“O artigo é um ataque claro à instituição da Presidência da República e merece todo o repúdio dos jornalistas e de todos os Poderes para que possamos caminhar para um armistício patriótico. A pacificação nacional deve vir de todos os lados”, encerra Fábio Faria.

 

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