Postado às 08h45 | 10 Abr 2022
O jornalista, advogado e político Ney Lopes de Souza surpreendeu ao anunciar pré-candidatura a senador da República pelo PMB do Rio Grande do Norte.
Não havia, no noticiário cotidiano, qualquer notícia e/ou especulação sobre o seu retorno à arena político-eleitoral.
Mas, Ney afirma que era um propósito pessoal voltar à vida pública, por acreditar que tem experiência e potencial intelectual de colaborar com o Rio Grande do Norte e o País.
Aos 77 anos, advogado militante com escritório em Natal, Ney Lopes carrega na bagagem seis mandatos de deputado federal, uma suplência de senador da República, vice-prefeito de Natal na administração de Wilma de Faria (falecida em 2017) e cargos importantes na gestão pública.
Ele ainda presidiu a Comissão de Constituição, Justiça e redação final da Câmara dos Deputados; a Comissão de Ciências, Tecnologia e Informática da Câmara dos Deputados; a Comissão Mista Parlamentar do Mercosul; o Instituto Tancredo Neves, instituição de estudos políticos do Partido da Frente Liberal (PFL – antigo DEM – Democratas e atual União Brasil), além de ter sido autor do texto aprovado da atual Lei de Marcas e Patentes.
O senhor foi deputado federal por seis mandatos, secretário de estado, vice-prefeito de Natal e cumpriu intensa carreira pública ao longo de décadas. O que motiva o senhor a retornar com uma candidatura ao Senado?
Na verdade, era propósito pessoal voltar à vida pública anteriormente para dar continuidade a propostas e projetos de minha autoria, que ficaram parados com a minha saída do Congresso.
Mas, não consegui viabilizar esse projeto no partido em que estava filiado, mesmo com várias tentativas.
Agora, sentindo-me em bom estado de saúde, percebo que o quadro político local e nacional é gravíssimo.
O RN precisa de um “advogado no senado”, que é a Casa representativa dos estados federados.
Proponho-me a ser esse advogado, levantando temas, propostas e reivindicações. Tem muita coisa a ser feita.
A experiência de mais de 20 anos no Congresso permitirá que execute esse trabalho diário, se obtiver a confiança popular.
O senhor diz que não poderia se omitir no momento que o estado e o país enfrentam crise econômica e política. Como é possível contribuir para mudar esse quadro?
Pretendo discutir pelas redes sociais na campanha um plano de ação legislativa, que possa orientar o meu trabalho no senado.
A minha campanha será à base de propostas, sempre esclarecendo que não são promessas, porque a concretização depende de vários fatores, inclusive sanções de leis.
Mas o parlamentar é como o advogado: defende o cliente, mas não emite a sentença final. O meu cliente sempre foi e será o RN e o Brasil.
O senhor tem dito que, se eleito, vai defender projetos que não foram concluídos durante a sua passagem na Câmara dos Deputados. Que projetos são esses?
Os pontos principais da ação parlamentar que pretendo desenvolver são: voltar o crédito educativo como era quando eu propus em 1975.
Naquela época, o estudante de Universidade pública recebia uma parcela em dinheiro, a título de financiamento, para o seu sustento, compra de livros, lazer, e também, é claro, pagamento de anuidades das universidades privadas.
O meu projeto foi deturpado, e os jovens universitários da UFRN, UERN etc. não se beneficiam do crédito educativo.
Vamos lutar pela volta desse benefício.
Além disso, a defesa intransigente da democracia, em qualquer circunstância. Sem liberdade ampla, não há projeto de país.
Preocupam-me as dificuldades hoje enfrentadas pelos mais pobres, decorrentes da desigualdade social; da classe média sufocada pela redução progressiva da renda e certas injustiças existentes no sistema de previdência social, um dever do Estado, que precisa sempre proteger quem dele necessita para sobreviver.
Em termos de desenvolvimento regional, que atinge o RN, irei desarquivar o meu projeto quando deputado, cujo objetivo era regulamentar o artigo 43 da Constituição e assegurar ao Nordeste juros favorecidos para financiamento de atividades prioritárias, isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas; prioridade para o aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de água represadas ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas. Tudo isto está garantido na Constituição, porém falta regulamentar.
Eu tentei. O meu projeto chegou a ser aprovado em tres comissões. Mas, saí do Congresso e ninguém se interessou.
O senhor se filiou ao PMB, um partido de pouca expressão e de pouca estrutura partidária. Como fazer uma campanha com essas limitações? Como o senhor planeja a sua campanha?
Aceitei o convite do PMB, um partido pequeno que não dispõe de recursos do Fundo Eleitoral.
É um grupo de idealistas.
O PMB é um partido de centro, que pretende impulsionar a política nacional de forma a valorizar mulheres e homens, visando alcançar o desenvolvimento sem caráter excludente ou discriminatório de quem quer que seja.
Na disputa da presidência da República o partido é neutro, deixando o eleitor livre para a sua escolha.
Para o governo do RN, o partido apoia Dra. Clorisa Linhares, ex-candidata à prefeita de Grossos, RN, empresária, formada em Direito e Ciências Sociais. É um quadro partidário idealista e que pretende debater o futuro do RN, com humildade e firmeza.
O meu propósito é resgatar compromissos que tenho com o RN e não concluí quando deputado federal.
Desejo, em primeiro lugar, ser o parlamentar que sempre fui.
Os mais novos se informem de que como agi no Congresso no passado.
O senhor enfrentará palanques tradicionais que terão o ex-prefeito Carlos Eduardo e o ex-ministro Rogério Marinho como seus principais concorrentes. É possível construir uma campanha vitoriosa diante do poderio de seus adversários?
Olhe, sei que será uma luta de Davi contra Golias.
Na política, como no episódio bíblico, a vitória não depende da força, quer seja econômica, de tradição ou eleitoral.
Basta ter fé. E coragem para seguir, confiando em Deus e no povo livre.
O RN já mostrou em campanhas passadas que muitos, em situação semelhante a minha, alcançaram a vitória.
A oposição no estado ainda não conseguiu encontrar um nome para enfrentar a governadora Fátima Bezerra. É consequência da falta de um articulador capaz de conduzir um projeto a ser apresentado ao RN?
Na verdade, é difícil opinar.
Acho que ainda predominam nos partidos ideias passadas de superioridade, traduzidas em dinheiro no Fundo Eleitoral, tradição, mandatos etc...
Todavia, acho que hoje o fundamental é apresentar projetos, propostas viáveis ao povo, sem fantasia, mas falando a verdade e dividindo sacrifícios, se necessário.
A oposição não fez isso.
Só acredita no estilo político de colégios eleitorais, “nominatas” poderosas e vai por aí.
Claro que tudo isso influi. Mas na eleição majoritária é diferente.
Se não fosse assim, Fernando Bezerra e Henrique teriam sido governadores em eleições anteriores.
Mas os políticos teimam em não considerar a realidade, salvo o que lhes interessa. Ficam expostos ao resultado ser cada vez mais imprevisível.
Ainda é possível a oposição construir uma candidatura competitiva?
Acho que sim. Marco Maciel dizia que havendo prazo, há tempo. E ainda há muito prazo até as convenções que homologarão candidatos.
Nas eleições de 2018, o eleitor apostou na mudança do perfil da política do RN, não renovando mandatos de políticos como Garibaldi Filho e José Agripino Maia, e elegendo novatos como o senador Styvenson Valentim. Essa mudança surtiu efeito positivo? Ou não produziu uma nova política até aqui?
2018 foi uma eleição atípica.
Candidato esfaqueado, candidato preso substituído por outro na última hora.
Bolsonaro adotou a agenda anticorrupção, diante das denúncias que existiam.
Fui colega de Bolsonaro várias legislaturas e ele sempre se esforçou em representar a agenda ultraconservadora e conseguir ser o oponente preferencial da “ideologia esquerdista”.
Saturados com o desemprego, violência e corrupção – temas sempre citados entre os cinco principais problemas do país -, os brasileiros em 2018 optaram pela nova política pregada por Bolsonaro.
Garibaldi Filho e José Agripino Maia foram vítimas e senador Styvenson Valentim, o beneficiário.
No plano nacional parece consolidada a polarização da disputa presidencial entre Bolsonaro e Lula. Pode ser dito que a chamada terceira via fracassou? E por que fracassou?
Tudo pode acontecer.
Mas, a hipótese da terceira via na disputa presidencial a cada dia se esfacela.
Doria e Eduardo Leite desejam ser candidato, mas dividem o próprio partido.
Com eles caminham para o precipício PSDB, União Brasil e por tabela o MDB.
A senadora Simone Tebet nunca teve o apoio do seu partido. A qualquer momento poderá ser afastada pelos caciques emedebistas.
Tudo isso confirma o possível triste final da terceira via.
A terceira via seria excelente solução e dependeria de dois fatores básicos: candidato de consenso e discurso moderno.
O grande desafio seria convencer outros pretendentes formarem “coalizão” de partidos, oriundos do centro, direita e esquerda não radicais.
O discurso sensato e moderno preservaria a “responsabilidade social e a austeridade fiscal”, demonstrando que o equilíbrio das contas públicas pode ser alcançado juntamente com as políticas de redução das desigualdades sociais e investimento público para geração de empregos.
Tais diretrizes, ao invés de populistas, buscariam a estabilidade econômica responsável e a distribuição justa de renda.
Entretanto, nada disso foi feito. Prevaleceu o “ego” inflado dos candidatos e deu no que está ocorrendo.
Para finalizar, o Brasil merece um presidente além de Bolsonaro e Lula, ou os dois nomes representam o sentimento do País?
Acho que não.
O país mereceria menos radicalização, do que os extremismos que alimentam esses dois candidatos.
O meu partido na disputa da presidência da República é neutro, deixando o eleitor livre para a sua escolha.
Para o governo do RN, o partido apoia Dra. Clorisa Linhares, ex-candidata à prefeita de Grossos, RN, empresária, formada em Direito e Ciências Sociais. É um quadro partidário idealista e que, como já disse, pretende debater o futuro do RN, e encontrar caminhos. que superem o quadro de dificuldades atual.