Postado às 06h06 | 16 Dez 2020
Globo
A primeira declaração do presidente Jair Bolsonaro reconhecendo a eleição de Joe Biden para a Presidência dos Estados Unidos trouxe alívio ao Itamaraty, após semanas de indefinição. A decisão de finalmente se pronunciar sobre a sucessão de Donald Trump, seu principal aliado internacional e a quem se alinhou automaticamente nos últimos dois anos, partiu, como tantas outras, do Palácio do Planalto.
Até a manhã desta terça-feira, diplomatas da ativa desconheciam quando o governo brasileiro anunciaria uma posição sobre o triunfo de Biden. A partir de agora, com o sinal verde dado por Bolsonaro, o governo brasileiro se prepara para trabalhar com o futuro governo democrata, após a posse de Biden, em 20 de janeiro.
Sabe-se que não será fácil, como reconhecem diplomatas veteranos, entre eles o ex-embaixador em Washington — entre outros postos de peso no exterior — Roberto Abdenur. Perguntado sobre como fará o Brasil para recompor o vínculo com os democratas, Abdenur assegurou que “vai ser muito difícil colocar em bons termos as relações com o governo Biden”.
O embaixador lembrou que, no primeiro debate da campanha presidencial americana, Biden mostrou-se preocupado com as queimadas na Amazônia e sugeriu a criação de um fundo de ajuda ao Brasil, proposta à qual Bolsonaro respondeu dizendo que seu país não aceitaria “subornos”. Para Abdenur, “a visão que prevalece no Partido Democrata sobre o governo Bolsonaro é muito negativa, será necessário um esforço grande”.
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A política ambiental do governo Bolsonaro é considerada um dos principais obstáculos para aproximar posições. Se hoje o governo brasileiro enfrenta críticas e dificuldades em seu vínculo com a União Europeia (UE), espera-se, entre alguns diplomatas, uma aliança entre americanos e europeus que ampliaria a frente externa anti-Bolsonaro.
Em meio a rumores sobre uma eventual saída de Araújo do governo, dentro do Itamaraty as informações extraoficiais que têm circulado sobre a situação do ministro são chamadas de ficção. Uma suposta sondagem feita ao ex-presidente Michel Temer faria parte, para algumas fontes, da mesma ficção. Outras fontes, asseguram que Temer teria sido procurado para ajudar, justamente, na tentativa de recomposição com os EUA de Biden.
A única certeza hoje é que a declaração de Bolsonaro sobre o futuro governo americano foi comemorada dentro do Itamaraty, embora o ministério tenha sido ignorado pelo presidente na hora de romper um silêncio para lá de incômodo para o mundo diplomático.