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Isolamento social funciona contra coronavírus, mas efeito leva até um mês para ser sentido

Postado às 05h50 | 09 Abr 2020

Agencias internacionais

Estudo fez mapeamento detalhado de medidas de distanciamento precoces em países asiáticos que tiveram sucesso

Após três meses de medidas drásticas sendo tomadas em países asiáticos para conter o novo coronavírus, a ciência já atesta que políticas para o distanciamento social funcionaram, mas levaram até um mês para surtir efeito.

Cientistas estimam que, só na Europa, essa estratégia salvou a vida de quase 60 mil pessoas até o fim de março. É difícil, porém, estimar o tempo entre a tomada de ações e os resultados perceptíveis na desaceleração da epidemia em cada caso.

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Os estudos mais detalhados sobre ações essas ações estão sendo conduzidos por epidemiologistas do Imperial College de Londres. Cientistas divulgaram um estudo preliminar comparando o efeito de medidas tomadas em seis localidades que estiveram entre as primeiras a registrar casos.

Em Wuhan, Coreia do Sul, Japão, Hong Kong, Cingapura e Itália, as medidas de contenção tiveram efeito significativo no ritmo de novos casos da Covid-19 sendo registrados.

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O intervalo entre ação e efeito variou tipicamente entre duas semanas e um mês. A única exceção foi a Itália, que não foi acompanhada por tempo suficiente no estudo para registrar uma queda do número de casos atribuível ao distanciamento social. Os números mais recentes do país, porém, sugerem que a estratégia funcionou ali também.

A dificuldade dos pesquisadores em determinar o grau de eficácia para cada política de contenção "não farmacológica" (que não conta com remédios ou vacinas) é que é difícil medi-las. Algumas populações aderem mais a recomendações do que outras, e essa adesão ainda pode variar de um momento a outro.

Uma vantagem de avaliar os países em questão é que quase todos (à exceção da Itália) estavam testando boa parcela dos casos suspeitos.

Hora certa

"A implementação de medidas de controle na hora adequada é a chave para seu sucesso, e é preciso manter um equilíbrio entre um início precoce o suficiente e para reduzir o pico da epidemia e a garantia de que elas possam ser mantidas viáveis por uma duração apropriada", escreveram os autores do estudo, liderado pela epidemiologista Natsuko Imai.

O caso de sucesso mais bem documentado foi o de Cingapura, que manteve a taxa de novos casos diários de Covid-19 abaixo de 13 durante quase dois meses. O país agiu cedo vigilância e comunicados públicos antes de a epidemia sair da China e impôs restrições de deslocamento em 29 de fevereiro, uma semana após receber o primeiro caso importado. Cingapura também adotou linha dura, impondo quase todas as suas medidas com força de lei.

A Coreia do Sul, por sua vez, sofreu escalada no número de novos casos a partir da segunda metade de fevereiro, justamente quando decidiu tomar as medidas mais duras, como fechamento nacional de escolas, universidades e locais de trabalho. Mas após duas semanas de aceleração da epidemia, depois de registrar 700 casos num único dia, o país viu o número de novos casos começar a diminuir.

O intervalo de duas semanas não é acidental, e reflete o tempo de dois a três ciclos de incubação do vírus seguido dos primerios sintomas.

Em Wuhan, o tempo entre a implementação das medidas mais drásticas e a diminuição da epidemia foi de quase um mês, mas a cidade chinesa onde a Covid-19 emergiu passara um tempo desconhecido sofrendo a epidemia sem que ela já tivesse sido detectada. Por isso sua reação é considerada tardia em relação aos outros países asiáticos.

"É importante notar que a maioria desses países e regiões implementaram isolamento de casos, rastreamento de contatos e quarentenas em reação ao primeiro caso importado da China", escreveu Imai.

Atraso italiano

Um exemplo de consequência da demora em implementar medidas saiu da própria Itália, que registrou o primeiro caso em 31 de janeiro, mas só 23 dias depois tomou medidas mais drásticas, como fechamento de escolas e cancelamento de eventos públicos.

Medidas mais recentes do Imperial College, porém, aponta desaceleração ali. Em fevereiro, cada italiano infectado transmitiria o vírus para outras quatro pessoas, em média, mas agora cada habitante do país passa adiante o patógeno para apenas mais uma pessoa.

O custo do atraso na Itália, porém, se refletiu como um alto número de mortes, porque o número de casos graves eventualmente superou o de leitos hospitalares disponíveis.

O número de pessoas que cada infectado contagia é chamado pelos epidemiologistas de "taxa de reprodução básica" e comumente é representado em estudo pela variável R0. Para a Itália, então, R0 era igual a 4, e cai para 1.

O grupo do Imperial College, liderado pelo epidemiologista Neil Ferguson, está agora aplicando seus modelos a países europeus, e publicou um estudo relacionando medidas tomadas ao longo de março para estimar quanto cada um evoluiu. Na Alemanha, as medidas de isolamento social diminuíram o R0 de 4,4 para 1,5. Na Espanha, de 4,7 para 1,6. No Reino Unido, de 3,7 para 1,2.

Qualquer número para R0 abaixo de 1 significa que a epidemia parou de crescer. Só agora, porém, outros países europeus devem começar a testemunhar um efeito mais concreto do distanciamento social sobre os números de mortes da doença, porque os óbitos ocorrem em casos onde o vírus já teve vários dias para agir.

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