Postado às 05h49 | 05 Mai 2023
Ney Lopes
A cerimonia de ascensão do rei ao trono tradicionalmente era revestida de uma certa sacralização, ou seja, a coroação reforçava a ideia de momento sagrado, com intervenção divina na ordem terrena.
Na França era chamada de “le Sacre”.
Esse rito não existe mais. As coroações transformaram-se em proclamações, perante o Parlamento, sendo consideradas ato político-administrativo.
Westminster - No Reino Unido, desde o ano de 1066, cerca de 39 monarcas foram coroados como reis ou rainhas, sempre na tradicional Abadia de Westminster.
Curiosidade - A Abadia é emblemática no anglicanismo.
Há um detalhe curioso: o piso foi construído em 1268 e ficou escondido por mais de 100 anos.
É o acesso no qual as pessoas se dirigem ao altar, onde está a cadeira de coroação.
Chegou a um estado tão ruim de conservação, que ficou escondido debaixo de um carpete, desde 1870, até passar por um trabalho recente de restauração.
Rei sem coroa - Dois reis não tiveram o privilégio de serem formalmente coroados na Inglaterra.
Edward 8º, que depois de quase um ano como soberano britânico decidiu abdicar em 1936 em favor de seu irmão mais novo.
Outro rei que nunca foi coroado Edward 5º, que em 1483 e depois de passar três meses no trono britânico com apenas 12 anos de idade, foi deposto e desapareceu (presume-se que tenha sido assassinado).
Crises - A rainha Elizabeth II enfrentou e viveu inúmeras crises.
Passou pela reconstrução do país no pós Segunda Guerra Mundial, onde o Reino Unido, liderado mais uma vez por Winston Churchill, atravessava dificuldades econômicas.
Teve relações tensas e conflituosas com Margareth Thatcher, porém trabalhou em conjunto na implementação de políticas comuns.
Thatcher foi a primeira-ministra com maior tempo no cargo.
Confiança - Os sinais são de que Charles III não traz a confiança de estabilidade, que a rainha Elizabeth II transmitia.
Ela era um símbolo do soft power (poder suave) britânico, que foi extremamente útil para a diplomacia da realeza.
Espaço - O papel de um monarca envolve a arte política e habilidade na comunicação popular, através de gestos e comportamentos. No Reino Unido, a imprensa e a opinião pública têm grande peso.
Será que Charles ocupará com serenidade, o espaço deixado por sua mãe?
Sucessão - Um aspecto curioso de análise é a linha de sucessão britânica, uma lista com o nome das pessoas que são consideradas membros do trono britânico.
Essa lista permitiu, por exemplo, Charles chegar ao trono.
Os critérios estão estabelecidos em duas leis. “Bill of Rights” uma carta de Direitos, criada e aprovada pelo Parlamento da Inglaterra em 1689.
Foi um avanço democrático, em pleno século XVII, sobretudo na garantia dos direitos individuais.
A outra lei é o “Act of Settlement”, que garantiu a ocupação do trono britânico, por uma sucessão de monarcas protestantes.
Os sucessores não podem ser católicos, mas podem casar-se com católicos e devem garantir a preservação da Igreja Anglicana.
Igreja Católica – Dois Papas visitaram o Reino Unido. Foram eles: o Papa João Paulo II e o Papa Bento 16 (2010).
Em 1982, na visita de João Paulo II houve troca completa de embaixadores entre o Reino Unido e a Santa Sé.
Bento 16 desembarcou em Edimburgo, na Escócia e fez uma visita oficial e pastoral de quatro dias.
Data – O dia da coroação – 6 de maio - foi escolhido pela data de nascimento do primogênito do príncipe Harry e Meghan Markl.
A data também registra a morte do tataravô de Charles rei Eduardo VII, em 1910.
Dois mundos - A coroação é uma espécie de relíquia, guardada religiosamente e raramente exibida, que enche de orgulho os devotos, mas traz à tona a desconfiança dos descrentes.
O seu efeito sobre a sociedade do século XXI é ainda um mistério. A pompa demonstrada dividirá o equilíbrio entre dois mundos. Um, de opulência e tradições. Outro, de multidões em desamparo pelas desigualdades sociais.
Indagação -A grande questão é saber se a monarquia sairá fortalecida.
Vive-se um tempo repleto de censuras sobre o que fomos e dúvidas sobre o que podemos ser.
É o caso de indagar: a coroação de Charles III seria o canto de cisne, no derradeiro momento de um tempo que se vai? (Amanhã o texto final)