Postado às 17h22 | 07 Jul 2020
Instantes depois de o presidente Jair Bolsonaro anunciar que seu mais recente teste para a Covid-19 mostrou que ele está infectado com a doença, meios de comunicação de todo o mundo estamparam a notícia em seus sites, aplicativos e programas de notícias na TV.
O New York Times destacou a notícia em sua primeira página, lembrando de como o presidente brasileiro rejeitou a gravidade da doença, que matou mais de 65 mil brasileiros nos últimos meses. Outro ponto mencionado pelo jornal foi a defesa do uso da cloroquina, substância que não tem eficácia comprovada contra a Covid-19, mas que segue sendo propagandeada por Bolsonaro e pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Por fim, é mencionado o fato de vários integrantes do alto escalão do governo terem sido infectados anteriormente — e a participação do presidente na celebração do Dia da Independência dos EUA, no fim de semana, na embaixada americana em Brasilia. Bolsonaro não usou máscara e tirou fotos ao lado do embaixador americano, Todd Chapman.
Veja fotos: Sem máscara, presidente esteve com embaixador dos EUA no sábado
A rede de TV qatariana al-Jazeera lembrou de diversos episódios em que o presidente cumprimentou apoiadores, na maior parte das vezes sem máscaras, e do encontro com Trump na Flórida, em março. Vários integrantes da comitiva brasileira deram positivo em testes logo após a viagem. Bolsonaro, como recorda o veículo, realizou três testes antes do exame que, segundo ele, comprovou a infecção.
O francês Le Monde mencionou as declarações do presidente sobre os sintomas surgidos no fim de semana, e sobre a radiografia de pulmão realizada nesta segunda-feira. O jornal recorda ainda declarações feitas por Bolsonaro em discurso em rádio e TV, em março, quando disse que a Covid-19 nele seria "uma gripezinha" e quando ressaltava seu "passado de atleta".
As declarações minimizando os efeitos da doença também foram destacadas pela rede britânica BBC, que falou sobre o conflito aberto entre o governo federal e os estados, e como o presidente acusou a imprensa de espalhar o pânico ao informar sobre a pandemia. Sua recusa em usar a máscara em público e a participação em eventos com muitas pessoas foram lembradas.
O britânico Financial Times ressaltou as críticas feitas à conduta de Bolsonaro diante da pandemia, e que o anúncio de que ele está infectado deve ampliar o debate sobre as ações do governo federal.
Na reportagem do espanhol El País, recebem destaque as palavras do Bolsonaro dizendo que as ações tomadas por estados e municípios para conter o avanço da doença foram "superdimensionadas" e "exageradas", além de repetir que o foco das ações de isolamento social deveria ser nas pessoas com doenças crônicas ou maiores de 60 anos — o presidente tem 68 anos.
O argentino Clarín mencionou a entrevista coletiva dada por Bolsonaro no Palácio do Alvorada, quando ele disse estar contaminado mas "bem de saúde". O jornal mencionou a defesa do presidente do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, algo refutado pela Organização Mundial da Saúde e por especialistas de todo o mundo, e da retomada das atividades socioeconômicas no país.
Na mesma linha, o também argentino La Nación estampou as declarações do presidente dizendo que "não se pode falar apenas das consequências do vírus", ao defender a retomada da economia. Ao mencionar o negacionismo de Bolsonaro, o jornal disse que ele mostrou "falta de respeito a todas as normas sanitárias quando participou de atos públicos e se recusou a usar máscara".
Essa recusa em seguir os protocolos de segurança foi mencionada no despacho da agência russa Ria Novosti, acrescentando as muitas fotos tiradas com seus apoiadores, mesmo quando a pandemia provocava dezenas de milhares de mortes no Brasil. A agência lembra que o país é o segundo com o maior número de casos e mortes.