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Hospitais particulares da capital paulista atingem 100% de ocupação na UTI para covid-19

Postado às 06h41 | 03 Mar 2021

 Pelo menos quatro grandes hospitais privados da capital paulista - Einstein, Oswaldo Cruz, BP e São Camilo, afirmam que atingiram nos últimos dias 100% de ocupação de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para internados com covid-19. Com isso, já trabalham na abertura de novos leitos. Ao contrário da Prevent Senior que decidiu suspender as cirurgias eletivas para evitar superlotação, as unidades consultadas afirmam que continuam realizando os procedimentos considerados de não emergência.

Na semana passada, reportagem do Estadão revelou que a escalada de casos de novo coronavírus, somada às internações de pacientes com doenças crônicas, colocou pressão em hospitais particulares de elite de São Paulo, que já operavam com taxas de ocupação superiores a 90% nos leitos de enfermaria e de UTI, considerando alas covid-19 e para outras doenças.

Com 153 internados por covid-19, na manhã de segunda-feira, 1º, a ocupação total no Hospital Israelita Albert Einstein era de 100% para pacientes com o novo coronavírus e outras enfermidades. Na quinta-feira passada, 24, era de 99%, sendo a principal causa da lotação a realização de cirurgias eletivas que ficaram represadas nos primeiros meses da pandemia e foram retomadas. Mesmo com o cenário preocupante, por enquanto, o Einstein não prevê cancelar os procedimentos eletivos.

Dados divulgados nesta terça-feira, 2, pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz mostram que há 140 pacientes internados com covid-19, sendo 82 em unidade de internação e 58, na UTI. A taxa de ocupação é de 85% e 100%, respectivamente. Já a taxa de ocupação total para pacientes com o novo coronavírus e outras doenças é de 87%. Segundo o hospital, 13 novos leitos em unidade de internação foram abertos para pacientes com covid-19 e 5 novas vagas de UTI para a doença serão abertas ainda em março.

Mesmo diante do avanço de internações pelo novo coronavírus, Antônio Bastos, diretor-executivo médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, afirma que as cirurgias eletivas estão mantidas. "Devemos ter em mente que, a despeito da pandemia, temos alta prevalência na população de doenças crônicas não transmissíveis (doenças cardiovasculares, respiratórias, câncer, diabetes e problemas digestivos), além de outras como ortopédicas e neurológicas, que necessitam de tratamento cirúrgico", avalia.

Segundo ele, o atraso de tratamento pode, por exemplo, mudar o estadiamento de um câncer e implicar um tratamento mais agressivo, com mudança de prognóstico e qualidade de vida para o paciente. "Elaboramos protocolos clínicos, separamos fluxos de atendimento, criamos unidades dedicadas para pacientes não covid, capacitamos os profissionais e disponibilizamos todos os recursos necessários para a realização de cirurgias eletivas com a máxima segurança", disse Bastos. A instituição acompanha diariamente as tendências da pandemia para adotar ações de forma dinâmica para lidar com o aumento da demanda.

Referência em serviços de alta complexidade e ênfase em Oncologia e Doenças Digestivas, no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, as cirurgias eletivas representam cerca de 40% do volume de internações.

Nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, o hospital registrou 10% na redução de cirurgias eletivas realizadas em comparação ao mesmo período de 2020. Antes, no início do ano passado, eram feitos, em média, cerca de 500 procedimentos cirúrgicos eletivos por semana.

Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP) afirma que também registrou na segunda-feira taxa de ocupação de 100% com um total de 97 pacientes com covid-19 internados. Desses, 47 estão em leitos de UTI e 50, em unidades de internação. Na semana passada, a taxa era de 97,87% nas UTIs.

"Nosso sistema de gerenciamento de leitos nos permite fazer rapidamente os ajustes necessários na quantidade destinada para os casos de covid-19, garantindo o atendimento de todos os pacientes, incluindo aqueles que escolhem a BP para cuidar de outras condições de saúde", afirma Luiz Bettarello, médico e diretor-executivo e de Desenvolvimento Técnico da BP.

Dos mais de 800 leitos existentes, a BP disponibiliza hoje 97 para pacientes com covid-19. Neste momento, as cirurgias eletivas estão sendo realizadas normalmente, com todos os protocolos de segurança.

Com cenário semelhante, a Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo afirma que na segunda-feira estava com 203 pacientes internados para tratamento de covid-19 em suas três unidades, número que vem sofrendo oscilação. No momento, a taxa de ocupação dos leitos destinados à doença atingiu o nível máximo da rede. "Novos leitos serão disponibilizados ao longo dos próximos dias. A maioria dos pacientes internados apresenta comorbidades e idade média em torno de 55 anos", afirmou o São Camilo, que mesmo diante do momento atual mantém a realização de cirurgias eletivas.

Considerando as três unidades hospitalares, o Grupo Leforte afirma que está com uma taxa de ocupação de 99% de seus leitos de internação e UTI destinados aos pacientes com covid-19. Segundo a instituição, houve uma queda de 31% nas cirurgias eletivas desde o início da pandemia, em razão das restrições ou mesmo suspensões impostas por autoridades de saúde e pelo receio dos próprios pacientes.

"No entanto, desde o fim de 2020 esse volume vem sendo gradativamente retomado. Hoje, em todas as áreas, esses procedimentos estão sendo realizados normalmente, com a adoção de fluxos e equipes separados e a adoção de rígidos protocolos de segurança", disse.

No Sírio-Libanês, as eletivas também estão mantidas. A taxa de ocupação total no hospital chegou a 96% na semana passada e a 91% nesta terça-feira. Segundo a unidade, há 170 pacientes internados com suspeita ou confirmação de covid-19, sendo que 49 pacientes estão na UTI. Levando em consideração todas as enfermidades, 497 leitos estão ocupados.

Já a taxa de ocupação dos leitos para pacientes com covid-19 no Hospital 9 de Julho retornou nesta segunda-feira para 85%. Na unidade, além de tratamento para o novo coronavírus, as especialidades mais procuradas são oncologia, urologia, ortopedia, neurologia, gastroenterologia e intervenções em casos de politraumatismo. "Desde o início da pandemia, o Hospital 9 de Julho criou fluxos seguros de atendimento para pacientes com covid, com alas separadas das alas não-covid", disse, em nota.

Suspensão de cirurgias eletivas

Em contrapartida, para evitar superlotação diante do avanço da covid-19 e surgimento de novas variantes, a Prevent Senior decidiu suspender a realização de cirurgias eletivas e consultas presenciais de casos sem gravidade.

Segundo a maior operadora de saúde voltada ao público da terceira idade, a decisão foi tomada para proteger seus mais de 500 mil beneficiários. "As consultas já agendadas serão realizadas por telemedicina nos mesmos horários e datas, sem prejuízos aos pacientes", disse a Prevent Senior.

Já outros planos de saúde, segundo a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), estão avaliando com a rede própria de hospitais e rede credenciada a possibilidade de manter os procedimentos médicos considerados de não urgência nem emergência.

A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa 15 grupos de operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde e planos exclusivamente odontológicos, afirma que as operadoras associadas seguem as deliberações do órgão regulador e das autoridades sanitárias, nos níveis federal, estaduais e municipais, em relação a realização ou não de procedimentos eletivos em razão da pandemia do novo coronavírus.

A entidade também diz que tem mantido contato permanente com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para avaliar a situação, inclusive com reuniões e ofícios recentes. "Além disso, cada operadora vem fazendo a gestão de seu sistema, respeitado seu modelo de negócio, de organização de rede de assistência e capacidade de atendimento, de forma a garantir o melhor serviço a seus clientes e responder da forma mais adequada às estratégias de enfrentamento da covid-19 seguidas no País", acrescentou.

Como associada da FenaSaúde, a Bradesco Saúde afirma que acompanha a posição da entidade representativa do setor.

Já a Amil disse que a autorização para cirurgias eletivas está sendo realizada pela empresa, conforme disponibilidade em sua rede própria e credenciada. "A operadora tem empenhado todos os seus esforços para atender as demandas por esses serviços dentro do prazo regulatório. Seguimos monitorando a evolução do cenário nacional para implementação de novas medidas de resposta à pandemia", afirmou a operadora de saúde.

Porta-voz e superintendente executivo da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), que reúne 136 operadoras de saúde com 150 hospitais pelo País, sendo 29 hospitais somente na capital paulista e ABC paulista, Marcos Novais, afirma que a situação está muito crítica e piorando a cada dia. "Fizemos um levantamento de taxa de ocupação em hospitais de operadoras de saúde com rede própria em São Paulo e ABC, com 992 leitos de UTI e 3.577 leitos clínicos. Estamos com ocupação de 89,9% e 89,7%, respectivamente. Números, porém, que mudam a todo momento", disse.

"Desde o início da pandemia, nunca tínhamos chegado a esse número. E quando falamos em 89,9%, não significa que sobram ainda 10,1%. Na gestão hospitalar, significa que não tenho mais leitos vazios, significa que está sendo feita limpeza de alguns leitos e que nas próximas horas serão ocupados", alertou Novais para a gravidade, pois acima de 85% a situação já é considerada crítica.

Embora o levantamento tenha sido feito com base na ocupação hospitalar de São Paulo, o superintendente executivo da Abramge acrescenta que cenário semelhante já se reflete em outras cidades. "Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba e Goiânia, por exemplo, já estão com dificuldades de leitos hospitalares", adiantou.

Para o porta-voz da entidade, os indicadores já sinalizam para a recomendação de que as cirurgias eletivas devem ser suspensas. "Não podemos correr o risco de pessoas de cirurgias eletivas serem infectadas por covid-19 ou faltar leito para pacientes com covid-19 ou outras doenças em estado de urgência e emergência", disse. No entanto, Novais afirma que as operadoras estão analisando isso junto com a rede de atendimento, seja própria ou credenciada.

"Estamos sempre conversando com todos os operadores, avaliando a situação em cada localidade. Neste momento, já temos que fazer gestão da rede para não faltar leitos. Pode ter lugares onde a saúde ainda não está ou já passou desse nível de gravidade. No entanto, eventualmente, algumas cirurgias eletivas precisarão ser reagendadas pelas operadoras e hospitais, levando em consideração a situação de cada paciente. Desta forma, é possível garantir que atendimento a todos os pacientes de emergência, urgência ou com situação agravada, independentemente de covid-19", explicou superintendente executivo da Abramge, que acredita em um número muito maior de internações em 2021.

Ary Ribeiro, editor do Observatório da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e CEO do Sabará Hospital Infantil, avalia com cautela o adiamento de eletivas. "Ao longo de toda a pandemia, temos conscientizado a população sobre a importância de manter os cuidados com a saúde. É preocupante vermos que a situação ainda não se normalizou. O adiamento de consultas, exames, cirurgias e procedimentos eletivos coloca a vida das pessoas em risco, além de causar impactos no setor de saúde", acrescenta.

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