Postado às 06h41 | 06 Mar 2022
Ney Lopes
Passei alguns dias em Orlando e vizinhança, nos Estados Unidos, visitando familiares que lá residem.
Coincidiu com o período da invasão da Ucrânia pelos russos.
Observei a preocupação cautelosa dos americanos. No dia em que Biden falou na TV, anunciando sanções, o comércio parou.
Todos queriam ouvi-lo sobre o futuro.
Em 2001 visitei Kiev, numa delegação parlamentar.
A Ucrânia é o segundo país em área da Europa, depois da Rússia.
O povo hospitaleiro falava à época com orgulho, do que ocorrera dez anos antes, em dezembro de 1991, quando em plebiscito, 92% da população optou por tornar-se independente da URSS.
No mesmo dia do referendo, realizou-se a eleição presidencial.
Nascia uma nova Ucrânia, consequência da luta pacífica, simbolizada pela marcha da liberdade, que reuniu mais de 300 mil ucranianos de mãos dadas, formando corrente humana entre as cidades de Kiev e Lviv.
Com essa imagem da Ucrânia na memória, acompanhei pela mídia norte-americana, as primeiras ações de proteção ao país, após o fato consumado da invasão.
O presidente Biden agiu com equilíbrio.
Não usou o poderio militar e nuclear americano. Fez trabalho em sintonia com a Europa, aplicando sanções sem precedentes, liberações preventivas de informações de inteligência e recebeu elogios de republicanos, críticos de suas políticas.
Até a Suíça, que tinha posição de neutralidade desde 1815 (Congresso de Viena), aprovou as sanções contra os russos.
Cada dia, a Rússia fica mais isolada.
No tradicional discurso sobre o Estado da União ao Congresso, o presidente americano garantiu o funcionamento da democracia.
Ao mesmo tempo, demonstrou liderança, ao declarar que o Ocidente permanecerá unido.
“A liberdade vai vencer a tirania”.
Já é possível constatar melhor avaliação de Biden.
A sua queda de popularidade se deve ao fato, de que o americano está mais preocupado com a economia em crise, do que a guerra.
Embora a economia tenha se recuperado, com forte crescimento recente do emprego, os salários não acompanharam a inflação.
Chocou-me ouvir na TV, o ex-presidente Trump elogiar Putin, chamando-o de “gênio”, “habilidoso”, que fizera “jogada maravilhosa e de mestre maravilhosa”.
O incrível é que na campanha eleitoral Trump acusou Biden e sua Vice de “comunistas” e agora se alia ao Kremlin.
O ex-presidente criticou Biden, qualificando-o de fraco, decrépito, por não reprimir com as armas “milhões de vagabundos”, que invadem os EEUU. Insinuou a necessidade de idênticas, “invasões americanas” na Venezuela, México e outros países.
Trump demorou uma semana para condenar Putin – e só o fez diante de reações em seu próprio partido.
Recuou no seu estilo de “showman”, sinais de descontrole emocional, dizendo e desdizendo, visando fomentar a dúvida, para confundir a opinião pública.
A mesma coisa aconteceu, quando ele no início de janeiro de 2022 recomendou o uso das vacinas contra Covid, contrariando o próprio histórico de se opor a imunização .
A mudança foi estratégia para reconquistar o eleitorado perdido para Biden.
Atualmente, no dia a dia dos americanos, observa-se grande falta de mão de obra, que “trava” atendimentos no comércio, restaurantes, hotéis etc.
A causa são as dificuldades do acesso de imigrantes.
Além disso, o governo promoveu plano de ajuda aos cidadãos em função da pandemia, o que tirou também trabalhadores do mercado e levou pessoas a trabalharem em casa.
Muitos deixaram de ser garçons, por exemplo, para entregarem encomendas da “Amazon”, no seu próprio carro.
O comércio “on line” cresce. No combate a Covid são oferecidos gratuitamente exames, testes, máscaras, até aos turistas.
Ultimamente toma conta do debate político americano, a investigação sobre as “ligações secretas” entre Trump e Putin.
O “Washington Post” atribui ao início de 2013, quando o concurso Miss Universo foi sediado na Rússia. Trump — dono da franquia responsável pelo concurso — anunciou a intenção de se tornar “o novo melhor amigo” de Putin.
Os “Estados Unidos que vi” reforçam a confiança, de que prevaleçam no desfecho da atual crise os princípios da liberdade humana.
Recordo, que em julho de 2001, falei em nome do Parlatino sobre o “direito do trabalho na América Latina”, durante o “X Congresso da Federação Internacional de estudos europeus e latino-americanos”, realizado em Moscou.
Ao final deixei clara “a necessidade de crença na liberdade e usá-la com responsabilidade.
Com a liberdade será difícil. Sem ela, será impossível”.