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"Histórias do repórter que sempre fui" - Ney Lopes na Tribuna do Norte

Postado às 10h01 | 16 Fev 2022

Ney Lopes

Hoje, 16 de fevereiro, o dia do repórter, objetivo que sempre tive ao militar no jornalismo.

Todo repórter é jornalista, mas nem todo jornalista é repórter.

Em 1959, com quatorze anos de idade, o chefe de redação da Tribuna do Norte, jornalista Waldemar Araújo, a pedido do seu amigo Teófilo Lopes, acolheu-me na redação desse jornal.

A vida de repórter levou-me a várias peripécias.

Em 1960, (com 15 anos), iniciei-me na “Rádio Rural” e no jornal “A Ordem”.

Em 1962, recebi do jornalista Manuel Chaparro – português, que dirigiu o semanário A ORDEM por vários anos –  a tarefa de retratar os contrastes sociais da cidade, numa série de reportagem, intitulada “A Cidade por dentro”.

Descobri histórias e quadros incríveis.

Concorri com esta série ao galardão do prêmio Esso regional de reportagem. Ganhei o prêmio com 17 anos de idade.

Meses depois, durante a “semana da Asa”, ganhei outro prêmio, da Aeronáutica.

Tive direito a estágio no Jornal do Brasil (RJ).

Certa vez, fui a Recife com a missão de entrevistar Celso Furtado, que dirigia a SUDENE e se negava a falar à imprensa.

Fiquei na porta do gabinete (sem almoçar, nem jantar) e quando ele saiu, à noite, de gravador em punho, colhi entrevista exclusiva.

Em outra oportunidade, no ano de 1963, estava no Rio de Janeiro.

De Natal, Chaparro desafiou-me a entrevistar Lacerda, então governador do RJ.

Li cedo no GLOBO que Lacerda iria conceder uma entrevista coletiva, no Palácio das Laranjeiras.

Sai às 8 horas e o governador só recebeu às 13h.

Fiquei de plantão.

Ao aparecer, sentei-me ao seu lado.

Enfrentei os olhares de reprovação da grande imprensa nacional.

Liberadas as perguntas,logo indaguei-lhe o que achava do trabalho social da Igreja, que se opunha as Ligas Camponesas de Francisco Julião.

Lacerda olhou-me fixo, ajeitou os óculos e disparou: “a Igreja tem o dever de pescar almas. Ocorre que ela está colocando na ponta do anzol iscas sociais e se preocupa mais com a isca do que com o peixe”.

Riso geral dos presentes.

A entrevista (com foto) saiu na primeira página da ORDEM e a gravação na Emissora de Educação Rural de Natal.

Próximo de ser deposto, João Goulart veio a Natal. “Furei” o bloqueio da Aeronáutica em Parnamirim.

O Presidente da República, desceu do avião, ao lado do general Castelo Branco – então Chefe do Estado Maior e na pista falou com exclusividade à ORDEM e Rádio Rural.

Quase fui preso pelo tenente responsável pela segurança presidencial.

Juscelino Kubitschek estava em campanha à Presidência.

Visitaria Natal.

Chaparro mandou-me esperá-lo em Recife.

JK desceu no aeroporto Guararapes e ao tomar um cafezinho, obtive entrevista exclusiva e gravada.

Perguntei se ele seria mesmo candidato à Presidência.

Respondeu-me: “não serei candidato. Já sou um Presidente em férias”.

Em 1º de janeiro de 1966 deixei Natal para residir em Recife, cursando Direito.

Trabalhei como repórter no JC, Diário de PE, Sucursais da Folha, JB e revista “O Cruzeiro”.

A primeira reportagem exigiu que acordasse de madrugada e na companhia do fotógrafo Clodomir Leite (laureado pela Revista Veja) andei nas hospedarias de Olinda, Jaboatão, São Lourenço, o cais Santa Rita.

Escrevi série de reportagem sobre o abastecimento do “Grande Recife”.

A SUDENE fez estudos, com base nestes artigos.

Uma das maiores satisfações como repórter foi descobrir uma octogenária, vivendo na promiscuidade de um quarto miserável.

Era a sra. Calíope Barreto Menezes, filha de Tobias Barreto, professor de Direito de várias gerações, expoente máximo das letras nacionais e que legou a sua filha a herança de “pensionista da caridade pública”

Levei-a para um passeio, que chamei “Roteiro da Saudade”. Diante do teatro Santa Isabel, ela exclamou:

“Aqui, papai debatia, sobretudo com Castro Alves”.

A reportagem fez com que Dona Calíope recebesse do então Governador Paulo Guerra a doação de uma casa para morar e pensão vitalícia.

Ainda como repórter no Recife, lembro episódio ocorrido em junho de 1966.

Para cobrir o retorno da Europa do Ministro da Guerra, Costa e Silva, candidato a Presidente da República, cheguei ao aeroporto dos Guararapes ainda madrugada.

Coloquei-me à frente do local do desembarque.

De última hora, a notícia de que o avião do presidenciável pousara em João Pessoa e ele viria de carro.

Estava próximo ao jornalista Edson Régis e o vice-almirante Nelson Gomes Fernandes.

Ambos perderam as vidas, após a explosão de uma bomba, que estava numa mala abandonada no saguão.

Escapei por pouco.

Neste dia 16 de fevereiro, algumas recordações, de quem ainda se considera um repórter.

 

 

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