Postado às 06h18 | 08 Dez 2022
Ney Lopes
Hoje - 8 de dezembro – a Turma da Liberdade da Faculdade de Direito de Natal (UFRN) completa cinquenta e cinco anos de graduação.
Tive a honra de integrá-la.
Em 1967, período de exceção, às vésperas da edição do AI 5, esses concluintes do curso de Direito decidiram enfrentar o “veto” das forças revolucionárias e convidaram o ex-presidente Juscelino Kubitschek para Patrono da turma.
Como paraninfo, o professor Edgar Barboza, da nossa UFRN, simbolizou a resistência em favor de valores democráticos.
Recordo os meus colegas da Turma da Liberdade: Adelgimar Diniz Rocha, Carlos Borges de Medeiros, Carlos Jussier Trindade dos Santos, (orador na aposição da placa), Deífilo Gurgel, Eudes Bezerra Galvão, Expedito Rufino de Figueiredo, Ferdinando Luis Patriota, Fernando Justino de Souza, Fred Galvão, Glênio Aquino de Andrade, Hamilton de Sá Dantas, Iaris Cortês de Lima, Ieda Amorim Martins, Ilnar Gurgel Rosado, Ismael Wanderley Gomes Filho, Jaymar Medeiros, Jobel Amorim das Virgens, José Aranha Sobrinho, José Jarbas Martins, José Luciano Limeira, Joseri Alves, Manuel Onofre de Souza Junior, Maria das Dores Xavier de Souza, Ney Silveira Dias, Nivaldo de Carvalho, Othon Donaldson de Oliveira, Pedro Simões Neto, Raimundo Nonato Teixeira, Regina Coeli Barbosa, Romeika Lucena, Ruy Barbalho de Meiroz Grilo, Selma Maria Dantas de Paiva, Sônia Ivanise Bandeira do Amaral, Vitória dos Santos Costa (oradora da “aula da saudade”), Waldemir Patriota e Zuleide Teixeira de França.
Fui indicado pelos colegas orador oficial da turma.
Houve tentativa de censura ao meu discurso.
Recusei-me e fui ameaçado.
As suspeitas sobre mim eram em razão de ter sido, em 1966, candidato a deputado federal pelo então MDB, partido que ajudei a fundar no RN, e era a única voz de oposição.
Alguns atuais “democratas” (!!!) me denunciaram à época como antirrevolucionário, em colunas de jornal local.
Até emprego perdi.
A seguir, trechos do discurso que proferi na solenidade do Teatro Alberto Maranhão.
“Colegas: hoje é o nosso primeiro encontro. A convivência durante cinco anos fez com que nos comunicássemos através de linguagem fraterna. É o nosso primeiro encontro, porque iniciamos de mãos dadas o caminhar profissional.
“Simbolicamente nos achegamos a um altar.
“Não para subir e pavonear vaidades.
“Mas para, com a tranquila atitude de humildade do fiel, na beleza da oferta e da dedicação, acendermos, juntos, uma vela votiva, símbolo do culto aos valores imperecíveis da liberdade humana e, ao mesmo tempo, repelirmos os iconoclastas do nosso Templo Sagrado.
“Partimos com fé.
“Partimos confiantes.
“Em nossa dispersão de hoje há um denominador comum, que permanecerá inalterável no turbilhão da vida: a nossa querida Faculdade de Direito.
“Quando o desânimo e a descrença se apossarem de nós, lembraremos as lições que aqui aprendemos e teremos a certeza de que o direito prevalecerá.
“Quando em 1964, a história brasileira oscilou fora dos Códigos, com o retalhamento da Constituição e a outorga, até o momento, de quatro atos institucionais e trinta e sete atos complementares, ainda sentados nos bancos acadêmicos sentimos o perigo de destruição do nosso fadário e como futuros profissionais livres, firmamos o propósito de defender a liberdade.
“A nossa atitude assemelha-se às lutas estudantis contra o corsário Le Clerc; na Inconfidência Mineira com a figura admirável do estudante Álvares de Azevedo e na guerra do Paraguai, quando partiram universitários do Recife como voluntários.
“Entendendo que a história é o juiz na competição das ideias e a gratidão a virtude da posteridade, prestamos homenagem àquele que liberou o passaporte para a nossa viagem como advogados.
“Trata-se do eterno Presidente Juscelino Kubitschek – nosso Patrono -, que a 18 de setembro de 1960 sancionou a lei que federalizou a Universidade Federal do RN (UFRN)
“A Turma da Liberdade se considera ‘idealista sem ilusões’.
“O arbítrio e a prepotência colaboram para a decadência da democracia no Brasil de hoje.
“Sabemos que os filisteus são poderosos.
“Mas como David, no episódio bíblico, conduziremos o alforje de ‘pastores da liberdade’ com a certeza de que a força dos gigantes não haverá de prevalecer”.
“Fiéis aos nossos compromissos libertários levantamos a bandeira em prol da revisão do processo de cassação do nosso Patrono, Presidente Juscelino Kubitschek.
“Ela se impõe como dever de justiça e corrigirá o erro, que a história não perdoará”.
Por fim a nossa homenagem ao Paraninfo professor Edgar Barboza, que nos ensinou “ a resistir contra aqueles que, azeitados pelo toque mágico das moedas, fabricam atos excepcionais a grosso e a varejo.
“Como proxenetas políticos, satisfazem a lascívia dos Poderosos, sugerindo-lhes fórmulas destruidoras da tradição democrática brasileira, insensíveis às lamentações desesperadas do povo que, como Antígone na tragédia grega reclama justiça e liberdade."