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História: "Como nasceu SUAPE, o porto-indústria que deu certo"

Postado às 07h48 | 02 Out 2023

O jornalista Anchieta Hélcias (direita), ao lado do colega Magno Martins.

Catarina Araújo

Jornalista

O Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros, mais conhecido como Porto de Suape, em Recife, PE, publicará livro comemorativo dos 45 anos de operações normais.

A jornalista Catarina Araújo, em texto, revelou nomes, que foram importantes na concepção desse empreendimento, que hoje é porta de entrada e saída de mercadorias do Brasil, com papel importante na movimentação de cargas dentro do território brasileiro.

Desde 2015, Suape se tornou líder na movimentação de granéis líquidos e cargas por cabotagem no ranking nacional de portos públicos

Escreve Catarina Araújo:

O jornalista e empresário Anchieta Hélcias fazia parte desse restrito grupo de articuladores do projeto. Na coluna Nordeste Dia a Dia, que assinava no Jornal do Commercio do Recife, foi, de pronto, um defensor da construção de um novo porto no Nordeste.

No final de 1969 viajou até o Rio de Janeiro como enviado especial do periódico para fazer uma entrevista exclusiva com Eraldo Gueiros, que assumiria o governo de Pernambuco no ano seguinte, através de eleições indiretas.

“Munido de informações repassadas pelo almirante Paulo Moreira da Silva, cientista da Marinha que tinha estudos sobre a costa brasileira, o jornalista detalhou as condições favoráveis e a viabilidade do projeto como uma virada de chave para o desenvolvimento do Nordeste e de Pernambuco.“

Depois, em um novo encontro, o próprio almirante apresentou os detalhes técnicos a Gueiros. O resultado é que Anchieta Hélcias voltou para casa no avião do governador, a convite dele, carregando na bagagem um “furo" de reportagem. Eraldo Gueiros deu ao jovem jornalista, então com 25 anos, uma informação histórica:  "Vou fazer Suape".

“A reportagem de duas páginas com a informação privilegiada, reservada para uma edição de domingo no Jornal de Commercio, acabou não sendo publicada com exclusividade. Tão logo desembarcou no Recife, Eraldo Gueiros foi questionado por outros jornalistas sobre o que faria de diferente pelo desenvolvimento de Pernambuco

“Ele acabou soltando o que seria o grande “furo" de reportagem de Hélcias. Anunciou que faria Suape. Naturalmente, a notícia ganhou as páginas de todos os jornais no dia seguinte. O "furo” do jovem jornalista durou pouco. Mas o compromisso do governador foi para valer.

“Anchieta Hélcias não é do tipo que centra as atenções no passado, mas deu um longo depoimento sobre a saga do Complexo Industrial Portuário para o livro Suape, muito mais que um porto, assinado pelo jornalista Carlos Garcia e pelo economista Josué Mussalém, ambos já falecidos.

“Na publicação, de 2011, ele conta histórias como a da primeira entrevista com Gueiros e outras passagens marcantes. Voltou a revisitar a memória daqueles tempos especialmente para colaborar com o conteúdo do livro Suape 45 Anos.

“Hélcias teve um papel estratégico na consolidação de Suape, assim como Ayrton Cardoso - um jovem empresário naquela época. Junto com o engenheiro químico Romeu Boto, ele importou a ideia de porto-indústria da Antuérpia. Além deles, o grupo de entusiastas contava com Júlio Araújo, Ivan Romagueira e o almirante Paulo Moreira da Silva. O relatório do almirante, denominado Um novo porto para o Nordeste, foi decisivo para consolidar o projeto. O estudo, encomendado pelo governo Gueiros, foi concluído em 1972 e referendou as condições ideais para a implantação do empreendimento.

“Convidado por Eraldo Gueiros para fazer parte da gestão, Anchieta Hélcias saiu da condição de articulador voluntário de uma ideia para a de realizador. Recebeu a tarefa do governador de viabilizar o projeto. Dez dias após a posse de Gueiros, ele assumiu a recém-criada Diretoria de Promoção e Investimentos da Companhia de Desenvolvimento Industrial de Pernambuco (DIPER), atual Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (AD-DIPER).

“ Posteriormente, Hélcias passou ao cargo de presidente. Dali em diante, e pelos oito anos seguintes, continuou firme na missão de tirar Suape do papel.

“No governo seguinte, de José Francisco de Moura Cavalcanti, Suape não perdeu o status de prioridade. Pelo contrário. Foi tratado como um projeto transversal, envolvendo o esforço de várias secretarias. Anchieta Hélcias permaneceu na gestão e integrou o time do secretariado, comandando a pasta de Indústria e Comércio.

“Na primeira reunião com Moura Cavalcanti, sugeriu a criação do Grupo Executivo de Suape, o que foi acatado. O projeto do porto-indústria ganhava vida própria.

“Cada secretaria cuidava de sua área do ponto de vista operacional. Caberia à Hélcias um outro papel. Ele não queria dirigir gente. Queria dirigir ideias. E, para isso, estava empenhado em ir buscar o que havia de melhor e os melhores profissionais. Trouxe de volta de Brasília, por exemplo, o geólogo Luiz Siqueira, que já havia presidido a DIPER.

“Todo esse movimento, de acordo com Hélcias, não ocorreu de forma aleatória. Suape teve influência direta na sucessão de Eraldo Gueiros. O governador não queria correr risco de ver o porto-indústria perder importância na gestão seguinte. Ou pior: ver o projeto ser engavetado. Levando em conta, portanto, o compromisso dos pretensos candidatos de consolidar o empreendimento, Gueiros indicou ao então presidente da República, Ernesto Geisel, dois nomes. O concorrente de Moura Cavalcanti foi Marco Maciel, que teria sido preterido porque o presidente o considerou ainda muito jovem para tão importante cargo.

“Ao fazer uma retrospectiva do período pré-Suape, Anchieta Hélcias é pragmático quando é questionado sobre a dimensão do complexo.

“- Aqueles oito anos iniciais foram fundamentais para consolidar Suape. Depois de Eraldo e Moura, vieram Marco Maciel, Roberto Magalhães e, nas gestões seguintes, todos os governadores, sem exceção, deram sua contribuição. Todos trabalharam. Valeu a pena! Valeu a pena!

“Hélcias também tem outra convicção.

- Suape é uma vitória da comunicação. Sem comunicação não haveria Suape.

“Depois que fixou residência em Brasília, há mais de 40 anos, Anchieta Hélcias revela que esteve apenas duas ou três vezes em Suape, embora visite Pernambuco anualmente. Uma das vezes foi em um sobrevoo, em 2008, a convite do então governador Eduardo Campos. O complexo já era um mundo, repleto de projetos estruturadores, inclusive com a execução das obras da sonhada refinaria de petróleo.

“Ao olhar para o futuro, na perspectiva de empresário e consultor, ele enxerga que um dos novos projetos de Suape - o Tech Hub de Hidrogênio Verde, que coloca o complexo na rota da descarbonizarão - é importantíssimo. É ele que deve projetar, com protagonismo, Suape nos mercados nacional e mundial das energias renováveis.

Alguém tem dúvida de que a previsão Hélcias não vai virar realidade?

 

 

 

 

 

 

 

 

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