Postado às 06h14 | 25 Nov 2020
Diário de Notícias, Portugal
Um ensaio clínico concluiu que a hidroxicloroquina (HCQ) não previne a propagação do novo coronavírus em pessoas saudáveis que foram expostas a um caso positivo, nem ajuda a melhorar os sintomas da doença. O ainda presidente dos EUA, Donald Trump, admitiu ter tomado o medicamento malária.
O estudo, liderado pelos epidemiologistas Oriol Mitjà e Bonaventura Clotet e publicado na terça-feira no New England Journal of Medicine, aponta que a hidroxicloroquina não influencia o desenvolvimento de covid-19 em pessoas saudáveis expostas a um caso positivo, nem tem efeitos na melhoria dos sintomas causados pela infeção.
Para chegar a essa conclusão, os investigadores medicaram durante sete dias pessoas que tinham sido previamente expostas ao vírus, o que permitiu desencorajar a profilaxia através do uso de HCQ.
O ensaio foi realizado na Catalunha, entre 17 de março e 28 de abril, durante a primeira vaga da pandemia de covid-19 e consistiu num estudo de fase três aleatório entre a população da Catalunha central, a área metropolitana norte e a cidade de Barcelona, com um total de 2.314 contatos participantes de 672 casos positivos.
Os participantes eram todos maiores de idade e para participarem deviam ter estado em contato próximo, a menos de dois metros, com a pessoa infetada por pelo menos 15 minutos e nos sete dias anteriores ao recrutamento.
Os critérios de exclusão eram o facto de apresentar sintomas para a covid-19 no momento da inscrição, tomar medicação contraindicada relativamente à hidroxicloroquina, ter histórico
de arritmias cardíacas, insuficiência renal ou estar grávida ou a amamentar.
Os participantes foram aleatoriamente selecionados para que um grupo recebesse 800 miligramas de hidroxicloroquina no 'dia 1', seguido por uma dose diária de 400 mg, e outro grupo não recebesse tratamento.
Paralelamente, receberam uma primeira consulta médica presencial na qual foram realizados questionários de saúde e entrevistas estruturadas, exame físico e coleta de amostras de PCR para análise em laboratório, enquanto nos dias 3 e 7 foi feito o acompanhamento clínico.
Os participantes que desenvolveram sintomas do novo coronavírus durante o tratamento ou passados sete dias receberam a visita de uma equipa para serem submetidos a um novo exame médico e uma nova colheita de teste PCR.
No 14.º dia do estudo, os contatos que não desenvolveram sintomas foram visitados por uma equipa médica e alvo de testes PCR e serológicos.
O estudo revelou que a incidência e progressão da doença nos contactos participantes é semelhante entre os pacientes do grupo de tratamento (5,7%) e os do grupo de controlo (6,2%).
A taxa de transmissão, medida pelos testes PCR, mostrou a mesma tendência, com 18,7% no grupo tratamento face aos 17,8% no grupo de controlo.
Quanto aos efeitos adversos, 5,6% dos pacientes no grupo de tratamento experimentaram pelo menos um durante o acompanhamento de 14 dias, a grande maioria de natureza leve, mas em seis pacientes os investigadores observaram até cinco episódios de palpitações, potencialmente relacionadas com o tratamento e um causado por insuficiência respiratória.
A investigação juntou 21 instituições catalãs e foi financiado com o apoio de mais de 72 mil pessoas e entidades, que doaram recursos através da campanha '#YoMeCorono', lançada no dia 18 de março para realizar esta e outros estudos científicos para o combate à pandemia.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.397.322 mortos resultantes de mais de 59,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.