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"Há esperança" - editorial do Estado de São Paulo

Postado às 10h30 | 22 Mar 2020

Na última semana, a pandemia do novo coronavírus trouxe notícias especialmente dolorosas para o País. Houve significativo aumento do número de pessoas infectadas e foram registrados os primeiros óbitos de brasileiros causados pela covid-19. Além disso, para conter o contágio do novo coronavírus, grande parte da população sofreu sérias restrições de circulação e de convívio.

Tal quadro gera inúmeras consequências negativas sobre a atividade econômica e o bem-estar das famílias, muito especialmente daquelas com condições mais frágeis de trabalho e de renda. Não faz falta salientar as dificuldades: são muitos os prejuízos e as preocupações trazidas pela pandemia do novo coronavírus.

Diante desse quadro doloroso, é de justiça reconhecer a reação admirável de muitas pessoas, instituições e empresas que têm buscado minimizar, de forma solidária, criativa e responsável, os efeitos da crise para além dos seus problemas e questões particulares.

A recomendação de reclusão em casa, com a consequente diminuição de serviços e atividades econômicas, afeta a renda de profissionais liberais e trabalhadores informais, como diaristas, professores particulares e terapeutas. Para fazer frente a esse quadro, ganhou corpo uma ampla campanha de conscientização para que esses profissionais continuem sendo pagos, mesmo que eles não possam prestar nenhum serviço neste período, em razão do risco de infecção.

Outra frente de solidariedade foi empreendida por médicos e profissionais da saúde, eles mesmos afetados pela redução das consultas e fechamento de consultórios. Muitos desses profissionais se dispuseram a realizar o atendimento de forma remota, por meio digital, cobrando preços menores ou mesmo gratuitamente, de forma a que pacientes não fiquem desatendidos neste período.

A crise do novo coronavírus é também especialmente desafiadora para os pequenos empreendimentos. As restrições à circulação de pessoas trazem dificuldades adicionais de fluxo de caixa e de estoque a empresas que, em tempos normais, já enfrentam não pequenos obstáculos. Muitos empreendedores se mostraram especialmente responsáveis com seus funcionários, fornecedores e clientes, adotando medidas de cuidado e de assistência que vão muito além de suas obrigações legais.

Não é nada fácil que, no mês de março, quando se esperava a retomada de ritmo depois da marcha mais lenta típica de início do ano, negócios sejam obrigados a fechar as portas de suas lojas físicas. A situação é especialmente preocupante porque não há previsão segura de reabertura dessas lojas. Nesse cenário, empresas têm apresentado respostas criativas a clientes e parceiros, com uma comunicação transparente, reafirmando seu propósito e buscando novas formas de engajamento. Se esse empenho por assegurar a continuidade de empregos e serviços é, em qualquer situação, profundamente benéfico ao País, mais ainda o é em tempos tão turbulentos.

No cenário atual de incertezas e preocupações, é motivo de orgulho e otimismo constatar a reação corajosa de tantas famílias, instituições e empresas batalhando por levar adiante suas tarefas, seus negócios, seus sonhos. Não se trata de nenhum voluntarismo ingênuo. O que se vê, em muitos âmbitos, é a resposta madura de quem, encarando os obstáculos do momento atual, não cruza os braços passivamente.

Ainda que algumas autoridades não tenham se comportado à altura do cargo e das circunstâncias – outras muitas, deve-se reconhecer, atuaram com responsabilidade –, é um bálsamo constatar a capacidade de resiliência e superação de tantos brasileiros, diante de tão difícil situação. Esse modo de atuar demonstra não apenas a fortaleza de trabalhar e empreender em condições adversas, mas a capacidade e a sensibilidade de olhar o mundo para além dos problemas e circunstâncias pessoais.

Se a pandemia do novo coronavírus expõe, por exemplo, graves deficiências do governo federal ou do sistema de saúde pública, ela também desvela o que há de melhor no País. Há esperança.

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