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Guga Chacra analisa o "caos" político das eleições de Israel

Postado às 06h20 | 25 Mar 2021

Guga Chacra

Israel precisou realizar quatro eleições parlamentares em menos de dois anos e talvez seja necessária uma quinta nos próximos meses diante dos resultados, que mais uma vez não abriram uma via simples para a formação de uma coalizão capaz de governar. Este fenômeno, que se tornou frequente nos últimos anos, deve-se ao caos que se tornou a política israelense.

No passado, Israel chegou a se dividir entre esquerda e direita, como os EUA e os países da Europa Ocidental. Ao longo dos anos 1990, esta polarização se acentuou, com um lado sendo defensor do processo de paz com os palestinos e o outro, contrário ou ao menos cético. A Segunda Intifada, no começo deste século, enfraqueceu o lado mais à esquerda, a ponto de o Partido Trabalhista, dominante na política israelense ao longo de décadas, ter obtido apenas 7 cadeiras das 120 da Knesset (Parlamento).

O país deu uma enorme guinada à direita em segurança nacional. A questão palestina ficou em segundo plano. Hoje, a divisão em Israel se dá entre aqueles que apoiam Benjamin Netanyahu e aqueles que querem o fim do domínio do premier, desgastado por estar no poder há 12 anos seguido e ter sido indiciado em múltiplos casos de corrupção.

O bloco opositor a Netanyahu, para formar um governo comandado pelo centrista Yair Lapid (Yesh Atid), precisaria incluir partidos que vão da extrema direita, como o Yamina, à esquerda, como o Meretz, além de ter o apoio de partidos árabes. Já o premier depende do apoio de partidos religiosos, de um parlamentar racista antiárabe e de um partido conservador islâmico. Obviamente, a tarefa é extremamente difícil para qualquer um dos lados — mas Netanyahu leva a vantagem de jogar pelo empate, já que permanece no posto interinamente se não houver um novo governo.

Este complexo mosaico político tem origem na sociedade israelense, que é uma das mais diversas e heterogêneas de todo o planeta. Há judeus religiosos e judeus seculares. Há os asquenazes, os sefarditas, os misrahis, os etíopes e os persas. Alguns são descendentes de judeus há gerações em Israel. Outros imigraram mais recentemente da ex-URSS, da Etiópia, da Argentina e do Brooklyn, em Nova York. Isso sem falar que um quinto da população é árabe-israelense, sendo a maioria muçulmana sunita, com minorias drusa e cristãs de diferentes denominações. Só mesmo o Líbano é mais complicado com sua divisão sectária.

Quem conhece Israel sabe que Tel Aviv e Jerusalém parecem estar em planetas diferentes. Uma delas fica na costa mediterrânea. É secular, moderna, com seus cafés, os prédios com arquitetura Bauhaus e uma atmosfera que parece misturar o que há de melhor em Barcelona, Beirute e São Francisco. Seus moradores votaram em partidos mais centristas e não religiosos, como o Yesh Atid, de Yair Lapid. A outra é conservadora, berço do judaísmo e também importante para o islamismo e o cristianismo. Cada quarteirão tem um pedaço de história. Seus residentes optaram pelos partidos mais religiosos, como o Judaísmo Unido da Torá (UTJ). A diferença é tamanha que, certa vez, andei pelo Boulevard Dizengoff em Tel Aviv e não vi praticamente nenhuma pessoa de quipá. A sensação era de estar na Visconde de Pirajá em Ipanema. Dias depois, andei pela Ben Yehuda, no centro novo de Jerusalém, e praticamente todos eram religiosos. Não é simples, portanto, formar uma coalizão em uma nação tão rica em diversidade.

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