Postado às 04h27 | 16 Jul 2020
Depois de alguns dias com o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, em processo de fritura, a ordem no governo foi de baixar a temperatura e deixar claro que, apesar das críticas e do apetite de aliados pela vaga, o general fica no lugar, pelo menos por enquanto, segundo fontes ouvidas pela Reuters.
O primeiro sinal veio pelas redes sociais do próprio presidente Jair Bolsonaro, em que ele enumera os feitos do ministro e o chama de "predestinado", que "sempre está no lugar certo para servir sua pátria."
Bolsonaro não disse que fica ou sai, mas três fontes disseram à Reuters que não está nos planos do governo trocar o comandante da Saúde agora.
"O ministro fica. Esse movimento terminou por fortalecê-lo. Você sabe como o presidente é. Quando atacam os amigos dele, aí que ele se agarra mais. Isso acaba fortalecendo o ministro", disse um parlamentar que acompanha de perto as movimentações do Planalto.
Uma fonte palaciana confirma que não deve haver alterações, pelo menos por enquanto. Dentro do governo, a avaliação é que o general está fazendo "um excelente trabalho" e as críticas do ministro do Supremo Tribunal Gilmar Mendes não abalaram essa impressão.
"Há sim um descontentamento com o fato do militar da ativa que está no governo, e isso não é apenas com Pazuello. Havia com o ministro (Luiz Eduardo) Ramos, existe com o almirante Flávio Rocha (Secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência) e existe com Pazuello. Gera desconforto, mas não uma crítica ao trabalho", explicou uma fonte palaciana.
No último fim de semana, o ministro Gilmar Mendes disse que o Exército está se associando a um genocídio com o comando interino do Ministério da Saúde.
Para acalmar os ânimos e baixar a temperatura da crise, Pazuello e Gilmar Mendes conversaram nesta quarta-feira. De acordo com uma fonte, o general se ofereceu para dar ao ministro do STF todas as informações para que pudesse ter uma "opinião correta" sobre a epidemia e o trabalho do ministério, em uma conversa cordial, mas sem pedidos de desculpas.
A saída do general e de sua equipe de militares do ministério, no entanto, não está descartada. Não porque Bolsonaro queira demiti-lo, mas porque a própria permanência do general nunca foi tratada por ele mesmo como permanente.
"Ele sempre disse que aceitou para uma missão, em tese de 90 dias, que era até a epidemia de coronavírus se estabilizar. Não mudou nada", disse uma fonte com conhecimento do assunto.
O tempo para estabilização da epidemia pode ter se estendido, como a "missão" do ministro, mas ele já havia dado, desde o início, o limite de agosto para sua permanência no ministério. General ainda de três estrelas e com dois anos ainda antes de ter que ir para reserva, Pazuello não tem a intenção de se aposentar mais cedo para assumir efetivamente o ministério, disseram à Reuters duas fontes do governo.
O general também não planeja pedir uma licença do Exército para permanecer por muito mais tempo no cargo. Se o fizesse, não só teria a pressão de ser mais um militar da ativa no governo, o que hoje desagrada às Forças Armadas, como ainda interromperia sua carreira, dificultando promoções que ainda podem vir.
"O plano dele nunca foi ficar no ministério. Ele quer voltar para o Exército", disse uma fonte.
A fonte palaciana explica que dificilmente o general deixará o cargo até o final deste mês, como chegou a se aventar em meio à fervura desta semana.
"Em agosto, é possível. Se resolveu a questão da Educação, a epidemia se estabiliza, é possível encontrar um novo nome com calma", disse essa fonte.
Pazuello entrou no ministério como secretário-executivo na segunda quinzena de abril, após a nomeação de Nelson Teich para comandar o ministério. No dia 15 de maio, com a demissão do ministro, assumiu como interino. O que deveria durar poucos dias, acabou se estendendo pela própria dificuldade do governo em encontrar um nome técnico e que aceitasse as exigências de Bolsonaro, como adotar o uso de cloroquina nas fases iniciais da contaminação pelo novo coronavírus.
Com um orçamento de 162,65 bilhões de reais, de acordo com o Portal da Transparência, o Ministério da Saúde aguça o apetite do centrão, os novos aliados de Bolsonaro. No entanto, o presidente ainda tem resistido a entregar cargos de primeiro escalão aos partidos.
Na avaliação de um parlamentar, há uma "incoveniência política" na troca do comando da saúde, no momento. Fragilizaria muito o governo, na avaliação desse deputado, integrante do chamado centrão, que aposta em uma prolongação da estadia do ministro no posto.
Ainda assim, como lembrado pelo vice-presidente Hamilton Mourão em entrevista nesta quarta, Pazuello assumiu o posto na condição de interino e a análise de nomes para substituí-lo deve começar em breve.
"Ele vai completar dois meses na função, acredito que mais um mês, agosto, ali, ou quando o presidente retornar da sua quarentena, ele vai começar a examinar outros nomes de modo a terminar a interinidade do Pazuello e aí assegura o retorno dele à Força", disse Mourão.