Notícias

Governo aumenta investimentos para projetos das Forças Armadas em 2021

Postado às 05h45 | 04 Set 2020

Globo

Os militares conseguiram ampliar a previsão de recursos a projetos tidos como prioritários para as Forças Armadas, chegando a dobrar o orçamento em 2021 para o desenvolvimento de aviões cargueiros pela Aeronáutica, para a implantação de um sistema de aviação pelo Exército e para a construção de submarinos de propulsão nuclear pela Marinha. O projeto de lei orçamentária enviado nesta semana ao Congresso pelo governo de Jair Bolsonaro mostra que foi exitosa a ofensiva das cúpulas militares para garantir mais dinheiro em investimentos, mesmo em um momento de crise econômica causada pela pandemia de Covid-19.

Inicialmente, o Ministério da Defesa queria mais R$ 2,5 bilhões em investimentos, o que elevaria este orçamento específico de R$ 6,7 bilhões em 2020 para R$ 9,2 bilhões em 2021. A pasta conseguiu R$ 1,47 bilhão a mais, com investimentos previstos de R$ 8,17 bilhões no ano que vem. O valor é superior ao previsto nos orçamentos de 2020 e 2019 — o primeiro ano do governo Bolsonaro, mas com orçamento elaborado pela gestão passada, de Michel Temer. O projeto de lei orçamentária ainda será analisado pelo Congresso, que pode alterar valores, como costuma acontecer.

O orçamento total do Ministério da Defesa — que abarca Aeronáutica, Exército e Marinha — previsto para 2021 é de R$ 110,7 bilhões, um valor 4,83% maior do que o orçamento para 2020. A maior parte desse dinheiro é gasta com pessoal, tanto com os militares da ativa quanto com os da reserva. A maior liberdade na negociação por mais recursos ocorre com os investimentos, e ganhou o apoio direto do presidente nessa ofensiva, materializada na peça orçamentária enviada ao Congresso.

Um dos projetos prioritários para a Aeronáutica, o desenvolvimento de aviões cargueiros contará com R$ 400 milhões no orçamento em 2021, se não houver alterações expressivas no Parlamento. Para 2020, o governo previu R$ 117,4 milhões, valor que foi elevado para R$ 166,4 milhões pelo Congresso no ano passado.

Já a compra dos caças do projeto FX-2, que envolve os Gripen suecos, tem uma previsão de gastos de R$ 1,59 bilhão, valor que é 147% superior ao previsto inicialmente pelo governo Bolsonaro para 2020. Mais uma vez, no Congresso, o montante foi ampliado, para R$ 951,4 milhões. O orçamento para 2021 também é superior ao que o governo Michel Temer estabeleceu para 2019.

O Exército, por sua vez, decidiu aportar mais recursos — e ganhou o aval do governo para isso — na implantação de um sistema próprio de aviação. O projeto de lei orçamentária estabelece um gasto com a compra desses aviões, que dariam suporte a ações em terra, superior a R$ 190 milhões. É mais do que o dobro do previsto para 2020, R$ 73,9 milhões, e para 2019, R$ 80 milhões.

A Força também conseguiu uma previsão maior de recursos públicos para a compra de tanques blindados, dentro do chamado Projeto Guarani. O projeto de orçamento para 2021 prevê gastos de R$ 412,7 milhões. A lei orçamentária deste ano assegurou R$ 349,7 milhões. Também estão orçados mais recursos para o monitoramento das fronteiras e para lançadores múltiplos de foguetes.

Na Marinha, os principais investimentos previstos são na construção de submarinos de propulsão nuclear. O orçamento de 2021 encaminhado ao Congresso reservou R$ 646,8 milhões para essa finalidade, o dobro do que a lei assegurou para 2020 e o quádruplo do que o governo estipulou inicialmente para este ano. Também haverá mais dinheiro para a implantação de estaleiro e base naval destinados à construção e manutenção desses submarinos, assim como para tecnologia nuclear.

Nova estratégia

A disposição em ter um orçamento para defesa superior ao que é gasto atualmente está expressa nos próprios documentos que orientam a atuação das Forças Armadas. A atualização da Estratégia Nacional de Defesa, entregue em julho ao Congresso, passou a prever gastos públicos na ordem de 2% do PIB com a área militar.

Não há uma vinculação entre o que registra o documento e a elaboração do orçamento. Mas a meta dos 2%, ao fazer parte do documento que estabelece as diretrizes para as Forças Armadas, passa a ser considerada uma política de Estado a ser perseguida. A inclusão dessa previsão contou com o aval direto de Bolsonaro.

Se essa regra já vigorasse, e levando em conta o PIB de 2019, o orçamento do Ministério da Defesa subiria para R$ 146 bilhões. Nenhum outro ministério tem um orçamento previsto para 2021 com essa magnitude. Para a Saúde, o governo previu gastos de R$ 135 bilhões.

Aumento não é inédito

Professor no departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Jorge Ramalho afirma que a ampliação dos investimentos em projetos prioritários para as Forças Armadas não é inédita. Ramalho foi diretor de Cooperação no Ministério da Defesa e diretor da Escola Sul-Americana de Defesa.

— Os governos do PT foram extremamente generosos com as Forças Armadas, diante da necessidade de reaparelhar as Forças. À esquerda e à direita, há esse encontro no nacionalismo — diz ele.

O professor da UnB vê sentido nos projetos da Marinha de investir em submarinos de propulsão nuclear e da Aeronáutica em apostar em novos caças e cargueiros, com foco no desenvolvimento da indústria brasileira. O que não faz sentido para ele é o Projeto Guarani, do Exército.

— Para que é necessária essa quantidade de tanques? Eles não operam, por exemplo, na região da Amazônia — argumenta.

Segundo Ramalho, falta clareza para a definição de um projeto para cada uma das Forças. Ele defende uma discussão “mais profunda” sobre redução de efetivo e, por outro lado, melhoria na remuneração de determinadas carreiras militares.

— É um problema enorme gastar 82% do orçamento com pessoal. A Defesa acaba se transformando em um grande departamento de aposentadoria — afirma o professor.

O Ministério da Defesa, por meio da assessoria de imprensa, afirma que os projetos estratégicos das três Forças são decorrentes de contratos já assinados “há vários anos”.

Coafnúmero de relatórios cresce 27% em comparação com o ano passado e bate recorde

“Parte desses contratos é fruto de acordos internacionais, com forte influência cambial nas suas despesas anuais. Eventuais descumprimentos de marcos contratuais para 2021 acarretarão danos ao erário, com multas e juros contratuais, e riscos à imagem do Brasil perante parceiros internacionais”, diz, em nota a assessoria de imprensa da pasta.

Os gastos incentivam a base industrial de defesa, conforme a pasta. “A base é responsável pela geração de mais de um milhão de empregos e por R$ 6 bilhões em exportação somente em 2019.”

 

Deixe sua Opinião