Postado às 05h49 | 23 Nov 2022
Ney Lopes
A “BBC News Brasil” publica importante entrevista, que dá elementos concretos para avaliação da possibilidade de uma possível intervenção militar, que impeça Lula de tomar posse, sob o argumento de uma suposta fraude nas eleições.
As declarações são do general Santos Cruz, um dos generais mais respeitados de sua geração e que teve passagem pelo governo Bolsonaro.
Ele foi um dos primeiros oficiais de alta patente a apostar na candidatura vitoriosa de Bolsonaro em 2018.
Vejamos a seguir o que diz o general Santos Cruz.
Tensões – Negou tensões com Lula e justificou:
“Tivemos anteriormente dois mandatos do atual presidente eleito e não houve nenhuma dificuldade de relacionamento. Houve respeito institucional e um orçamento regular.
Temos todas as condições de contornar esse período de política conturbada, de muito fanatismo político, e termos um relacionamento respeitoso sem maiores problemas”.
Rejeição – Sobre a rejeição de alguns militares a eleição de Lula opinou, que “o militar como eleitor tem direito de votar em quem ele quiser. Ele tem direito de gostar ou não da eleição, de ficar satisfeito ou não.
Mas, pertencendo a uma carreira de estado terão que aceitar o resultado”.
Temor – Acerca do novo governo temer os militares, o general lembrou que ficou mais de 45 anos no Exército e o povo brasileiro tem que continuar confiando, como sempre fez, nas instituições e nos comandantes atuais.
É importante que essas instituições se comportem de forma apolítica, sem preferência de nomes e de partidos”.
Independência – Indagado sobre a “proximidade” das Forças Armadas do governo Bolsonaro, o general admitiu ter havido muita confusão do governo com as Forças Armadas.
Isso aconteceu e a imagem transmitida era de vinculação das Forças Armadas com o governo.
Só que isso não é real. Isso foi fabricado porque o tempo todo o discurso (de Bolsonaro) foi 'o meu Exército', 'sou o comandante-em-chefe'. Mas isso aí não é real. Não se pode contar com as Forças Armadas para sair da Constituição”.
Desgaste – Abordando possível desgaste na imagem das Forças Armadas declarou:
“Eu penso que sai um pouco desgastada pelo comportamento presidencial, sem dúvida nenhuma. Mas mesmo com algum desgaste, ela segue muito preservada”.
Relacionamento – O General cita como pontos necessários para um bom relacionamento de Lula com os militares: manter um orçamento, projetos estratégicos das Forças Armadas e prestigiar a hierarquia e disciplina, que são a base das Forças Armadas.
Tem que evitar qualquer discurso político no interior de unidades militares.
O atual presidente eleito sabe disso.
Ele tem experiência de dois mandatos e sabe qual é o relacionamento com as Forças Armadas e como ele se mantém respeitoso.
Revolução de 1964 – O entrevistado opinou sobre a Revolução de 1964:
“Eu tenho uma boa imagem daquela época. Só que isso também não significa que aquilo seja um modelo político a ser seguido.
Não é.
Foi um período de exceção.
Temos que entender que por melhor que seja a imagem do período, aquele período não serve como modelo político, porque foi uma época de exceção.
Poder Moderador – Há interpretações, de que o artigo 142 da Constituição favorece intervenção das Forças Armadas como poder moderador.
O general Santos Cruz é incisivo:
“O Brasil não tem poder moderador.
O que está escrito na Constituição não dá nenhuma pista, nenhum direito explícito de que as Forças Armadas possam interferir no funcionamento dos outros poderes.
Qualquer interpretação de que as Forças Armadas são um Poder Moderador está completamente errada, completamente equivocada.
Qual é o nosso poder moderador? Nossa Constituição, nossas leis, nossos parlamentares, nosso Judiciário e nosso Executivo com todos os defeitos que eles têm”.
Voto eletrônico – Continuam no país dúvidas sobre a lisura do voto eletrônico.
O entrevistado considera, que “o erro começa quando convidam as Forças Armadas para participar do processo.
O outro erro é quando as Forças Armadas aceitam (o convite).
A responsabilidade de transmitir segurança no processo para a sociedade brasileira é do TSE e não das Forças Armadas.
Não era o caso das Forças Armadas participarem.
Muito menos num ambiente politizado”.