Postado às 05h30 | 10 Abr 2020
Milhões de cristãos confinados nos cinco continentes vão celebrar a Sexta-feira da Paixão e a Páscoa, no próximo domingo, em circunstâncias inéditas.
Sem fiéis, o papa Francisco celebrou, nesta quinta-feira, no Vaticano, a missa da Quinta-feira Santa, na qual se relembrou a Última Ceia, um dos momentos mais importantes do ano litúrgico. Devido à Covid-19, o pontífice argentino não celebrou o ritual do lava-pés.
As autoridades dos países mais fervorosos insistiram que durante as festas, em que tradicionalmente as famílias se reúnem, se respeitem mais do que nunca as diretrizes de confinamento.
Na Espanha e em países da América Latina, as missas prosseguem pela internet nas redes sociais para que os crentes possam reviver a Paixão de Cristo.
Em muitas dioceses ao redor do mundo, os ofícios serão realizados a portas fechadas. Todas as celebrações litúrgicas acontecerão sem a presença física dos fiéis.
Em Iztapalapa, leste do México, a procissão muito popular da representação da Paixão de Cristo ocorrerá sem público. Canais de televisão e a internet servirão de suporte para acompanhar os ofícios.
A missa pronunciada pelo arcebispo de Sevilha (sul da Espanha) poderá ser vista por 120 mil pessoas, segundo autoridades religiosas.
Jerusalém
O Patriarcado Latino de Jerusalém pediu aos fiéis que orassem em casa, conectados às redes. A "Páscoa em privacidade" também será observada no Marrocos, com missas no Facebook.
No culto protestante, propostas para leituras bíblicas, meditações e cultos são regularmente divulgados.
A Igreja Anglicana da África do Sul fez recomendações em um manual de instruções, incluindo "identificar um lugar para orar" e comer "peixe marinado na sexta-feira".
Também na África do Sul, a igreja cristã de Sião (evangélica) adiou sua peregrinação anual à província de Limpopo, a maior reunião de cristãos da África Austral.
Respeitando o calendário juliano, a Semana Santa Ortodoxa ocorrerá apenas no próximo dia 19 de abril. Também neste caso, os serviços serão realizados em igrejas fechadas e serão transmitidos por vários meios de comunicação, decidiu o patriarcado greco-ortodoxo de Antioquia.
O mesmo acontecerá na Grécia, onde o Governo teme que as pessoas nas áreas rurais e nas ilhas não respeitem as restrições. "Certamente celebraremos a Páscoa, embora não seja possível ir à igreja", disse na Rússia o metropolita Ilarion, um dignitário religioso.
Na Grécia, Síria e Líbano, se as circunstâncias permitirem, as autoridades religiosas esperam poder reunir os fiéis nas igrejas em 27 de maio, dia que marca o fim da Páscoa.
Mosteiro
O famoso Mosteiro das Cavernas, em Kiev, tornou-se foco do coronavírus na Ucrânia, após ignorar alertas de suspensão dos rituais religiosos.
Desde a quarta-feira (8), 26 novos casos foram confirmados e somados aos quatro primeiros já detectados, anunciou o prefeito Vitali Klichko.
O monastério, fundado no século XI e sede da Igreja ortodoxa ucraniana ligada ao Patriarcado de Moscou, tem cerca de 250 monges.
O Ministério da Cultura expressou "preocupação" pela celebração da Páscoa ortodoxa no domingo. Autoridades aconselharam que os rituais fossem feitos pela internet e que os eclesiásticos usassem máscaras nas cerimônias.
Mortes de padres
O papa Francisco homenageou, nesta quinta-feira, os sacerdotes que morreram na Itália consolando doentes do coronavírus, aos quais qualificou de "santos da porta ao lado", assim como médicos e enfermeiros.
"Não posso deixar passar esta missa sem recordar os sacerdotes", disse na homilia da Quinta-feira Santa na Basílica de São Pedro, sem fiéis. "Nestes dias mais de 60 padres morreram na Itália enquanto se ocupavam dos enfermos nos hospitais, com os médicos, enfermeiros, enfermeiras. Sacerdotes que oferecem suas vidas pelo Senhor, sacerdotes que são servidores", lembrou.