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Ernesto Araújo rebate FHC e ex-ministros e os chama de 'paladinos da hipocrisia'

Postado às 06h49 | 09 Mai 2020

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, respondeu com veemência ao artigo publicado na edição desta sexta-feira do GLOBO e de outros jornais pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelos ex-ministros Aloysio Nunes,Celso Amorim,Celso Lafer,Francisco Rezek, José Serra,Rubens Ricupero e Hussein Kalout. No texto, o grupo condena a política externa brasileira do governo de Jair Bolsonaro, afirmando que esta contraria a Constituição “em letra e espírito”

Em uma resposta de tom incisivo repleta de referências ao povo e com linguagem incomum ao meio diplomático publicada à noite em uma rede social, Araújo afirma que FHC, Ricupero e Amorim são “paladinos da hipocrisia”, enquanto os demais são chamados de “figuras menores”. [Eles] “precisam vir aprender conosco como se defende a Constituição. Não é com clichês globalistas. Não é com mentiras. Não é com nostalgia de um Brasil apático e corrupto. É com fé e amor pelo povo brasileiro” , escreveu.

O artigo de FHC e dos ex-ministros deixou de lado uma cisão de décadas na política externa brasileira, em favor de uma condenação comum da atual atuação do Itamaraty. Sob Araújo, afirmam, “a diplomacia brasileira, reconhecida como força de moderação e equilíbrio a serviço da construção de consensos, converteu-se em coadjuvante subalterna do mais agressivo unilateralismo".

Em crítica à relação atual entre o Brasil e os Estados Unidos no governo Bolsonaro, o grupo disse que “não se pode conciliar independência nacional com a subordinação a um governo estrangeiro cujo confessado programa político é a promoção do seu interesse acima de qualquer outra consideração”.

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Araújo empregou ideias do ideólogo Olavo de Carvalho para responder. Além de criticar o “globalismo”, conceito sem lastro acadêmico que considera haver uma conspiração internacional para enfraquecer a soberania nacional, o ministro também atacou o Foro de São Paulo, alvo frequente do escritor, descrito como uma “rede de corrupção, ditadura, narcotráfico e terrorismo”, descrição que também não é amparada pela literatura cientítica na área.

O grupo criticou ainda a atual condução da política com a Venezuela, afirmando que ocorreu, “por razões ideológicas, a retirada da Venezuela, país limítrofe, de todo o pessoal diplomático e consular brasileiro, deixando ao desamparo nossos nacionais que lá residem”.

Em resposta, Araújo disse que defende “a paz e a solução pacífica dos conflitos. Mas a solução pacífica de um conflito tem de ser, além de pacífica, uma solução. Não usamos esse conceito como desculpa para virar a cara para o outro lado. E a paz não é só ausência de conflito, também exige liberdade e dignidade".

O chanceler disse ainda que “se querem implementar de novo seus falidos projetos de política exterior para servir a um sistema de corrupção e atraso, muito bem. Apresentem esse projeto ao povo e disputem uma eleição. Não fiquem usando a Constituição como guardanapo para enxugar da boca a sua sede de poder”.

Alguns autores do artigo se reuniram em uma videoconferência no final de abril, em debate promovido pela Brazil Conference da Universidade Harvard, para discutir os rumos da diplomacia atual.

Discurso na ONU

Mais cedo, Araújo discursou em uma reunião informal do Conselho de Segurança das Nações Unidas por ocasião dos 75 anos do fim da 2ª Guerra Mundial, e insinuou que comunistas tentam se aproveitar da pandemia de Covid-19 para “sequestrar e perverter” as Nações Unidas, de modo que a organização sirva a objetivos totalitários”.

No seu discurso, o ministro afirmou que, após a vitória sobre o nazismo, outra forma de totalitarismo “tentou manipular as Nações Unidas a seu favor”, em referência implícita ao comunismo. Ele afirmou que “infelizmente essa ideologia não está morta” e que trabalha “com o mesmo princípio de sequestro e perversão”.

“A pandemia do COVID é provavelmente a maior crise desde a Segunda Guerra Mundial. Não vamos deixar outra forma de totalitarismo emergir agora, como a que emergiu após a Segunda Guerra Mundial. De fato, uma nova ordem certamente emergirá desta crise, só não sabemos ainda o formato que assumirá”, afirmou.

O ministro fez ainda uma crítica à ONU. “Se a Organização das Nações Unidas ignorar os desafios reais de hoje e, em vez disso, optar por jargões politicamente corretos, seu papel estará diminuído. A ONU não deve ser um esforço para encontrar uma base comum entre liberdade e totalitarismo, e muito menos para promover o totalitarismo subrrepticiamente".

 

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