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Entenda os riscos da realização da Copa América no Brasil, segundo especialistas

Postado às 05h10 | 01 Jun 2021

Desde o segundo semestre de 2020, o futebol voltou à vida quase normal no Brasil: estaduais, Brasileiro, Copa do Brasil, Sul-Americana e Libertadores. Tudo sem público — ou quase. Com anúncio da vinda da Copa América ao país, o evento será apenas mais um na equação da pandemia da Covid-19 ou poderá piorá-la num momento de estabilidade em números altos de casos e óbitos que anunciam uma possível terceira onda?

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Para especialistas, é ponto pacífico: quanto mais pessoas em circulação aumenta o espalhamento do vírus. Num cenário descontrolado, como o do Brasil, não há como garantir risco zero. Foi justamente pela falta de controle que a Argentina desistiu de sediar o evento.

AS VÍTIMAS DA COVID-19 NO ESPORTE

No país vizinho, a média de casos diários por milhão está em 676,82, de acordo com o site Our World in Data, o que levou o governo local a decretar uma série de medidas restritivas. Aqui, está em 290,25. Os argentinos também estão com uma alta taxa de transmissão (Rt) de 1,18, segundo último levantamento do Imperial College de Londres. O Brasil aparece com 1,02. Valores acima de 1 indicam falta de controle da pandemia.

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Na média diária de mortes, os países se assemelham: 10,72 e 8,64, respectivamente. Hoje, a América do Sul é líder nessas médias diárias.

Especialistas concordam que a dinâmica de um jogo de futebol não difere muito: viagens, concentração, treinos e jogos. E as medidas sanitárias de testagem e controle também se assemelham nas diferentes competições — ainda assim houve surtos em vários clubes brasileiros em diferentes torneios, além de aglomerações em decisões de título. Porém, um evento como a Copa América, concentrada em um mês com 9 seleções estrangeiras em um número reduzido de cidades, os riscos são maiores.

Ao contrário da Libertadores, por exemplo, em que os times que vieram jogar no Brasil ficaram entre 48 e 72 horas no país, as seleções vão ficar hospedadas por, pelo menos, 15 dias. Nesse período, haverá deslocamentos para treinos, hotéis, jogos e, possivelmente, outras cidades. E quase tudo simultaneamente.

Vacinação

O próprio caráter do evento o aproxima mais de uma final de Libertadores — quando houve aglomerações sem medidas de proteção no entorno do Maracanã e em São Paulo, além de convidados no estádio — do que um jogo de primeira fase do torneio de times.

— Não são apenas as delegações. Um evento desses envolve grande cobertura da mídia, atrai torcedores e o tempo de exposição dentro do país é muito maior. É difícil mensurar o quanto pode aumentar, mas contribui para a maior contaminação. Todo evento ou atividade com circulação de pessoas aumenta. O que se faz é pesar o risco e o benefício daquela atividade que está se propondo. O futebol é uma atividade essencial na pandemia? Essa é a questão — diz o infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

A Conmebol argumenta que, em 2021, a entidade organizou 45 jogos em estádios brasileiros — contando todas as competições sul-americanas. A porcentagem de eficácia do protocolo sanitário foi superior a 99%, de acordo com a organização. Já a Copa América, de 13 de junho a 10 de julho, terá 28 partidas.

A concordância a jato do Brasil é uma prova de que não houve uma análise ou orientação epidemiológica, segundo o Diego Xavier, pesquisador da Fiocruz.

— Comparando a Libertadores com a Copa América é como pensar num feriado eventual, em que poucas pessoas se movimentam, e no feriadão de Natal e Ano Novo com muitas pessoas se movimentando ao mesmo tempo. A negativa da Argentina veio ontem (anteontem) no fim do dia, e o Brasil aceitou hoje (ontem) de manhã. Claro que não existe uma programação ou estratégia para evitar que o contágio aconteça — disse.

O desejo da Conmebol de fazer o evento com todas as seleções vacinadas pode não se concretizar. Até o momento, apenas Uruguai, Paraguai, Equador, Chile e Venezuela estão vacinando seus jogadores. A entidade doou 50 mil doses da Coronavac às confederações, mas há entraves legais. As 5 mil que cabem à CBF não podem entrar no Brasil por causa da legislação atual (por ser de uso emergecial, a vacina só pode ser aplicada dentro do PNI e é necessária uma doação de 50% da quantidade recebida ao SUS).

A CBF ainda busca a alternativa de vacinar a delegação no Paraguai, onde a seleção enfrentará os donos da casa pelas eliminatórias da Copa de 2022, no dia 8. A comissão técnica deve bater o martelo hoje. Uma das questões é como seria viabilizada a segunda dose, que deve ser aplicada entre 14 e 28 dias (o prazo máximo seria dia 5 de julho, ainda durante a fase final da Copa América).

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