Postado às 05h25 | 21 Jul 2020
Bela Megale
Uma semana antes de a Odebrecht entrar em recuperação judicial, em junho de 2019, Emílio Odebrecht doou quase R$ 92 milhões para três de seus quatro filhos, deixando de fora Marcelo Odebrecht. A parte que seria de Marcelo acabou nas mãos de um genro do patriarca. Os dois estão rompidos há mais de três anos.
A partilha, apontada por Marcelo em ações na justiça contra a empreiteira, é vista pelo próprio executivo como uma artimanha do pai para não lhe dar independência financeira. Ex-presidente da Odebrecht, Marcelo diz a pessoas próximas que o pai planeja mantê-lo dependente do dinheiro, para evitar avanços em sua delação premiada.
Na petição, os advogados de Marcelo destacam que “Emílio, apenas sete diasantes do pedido de recuperação judicial, doou as quotas dessa sociedade holding(avaliadas em aproximadamente R$ 91,9 milhões, ou 55,8% de seu patrimônio declarado) para seus filhos (não para Marcelo, com quem está em pé de guerra) reservando a si o direito de usufruto”. A sociedade em questão é a Boavista Participações e Investimentos Ltda, que passou a ter um capital social de R$ 91,9 milhões após receber o aporte de centenas de obras de arte de Emílio.
Marcelo acusa o pai de fazer uma “blindagem patrimonial” e colocar em risco os acordos de leniência firmados pela Odebrecht na Lava-Jato, além da própria continuidade da empresa.
Emílio e seus advogados, porém, veem a atitude de Marcelo de citar a partilha em uma petição como estratégia jurídica de afirmar que está sendo “estrangulado financeiramente”.
Em nota, Emílio afirmou que a Odebrecht tem uma “administração independente” e que ele não tem relação com ações judiciais movidas pela empresa contra seu filho.
Leia a nota de Emílio na íntegra:
O Sr. Marcelo Odebrecht tem dado a entender em declarações à mídia que eu seria o grande responsável por iniciar os processos contra ele em função de disputas familiares. Isto não é verdade. Recentemente, a Odebrecht S.A. tomou a decisão institucional de iniciar medidas judiciais e arbitrais contra o Sr. Marcelo Odebrecht para reaver valores que a empresa entende terem sido ilegalmente pagos a ele.
A empresa hoje tem administração independente que toma decisões de acordo com aquilo que, a seu ver, atende aos melhores interesses de suas atividades. Eu sequer tenho a prerrogativa de impedir o início de eventual ação judicial, contra quem quer que seja, cujo ajuizamento a administração da Odebrecht S.A. entenda ser necessário.A Odebrecht S.A., ainda, é hoje supervisionada por monitores externos brasileiros e norte-americanos, devendo prestar contas a eles sobre as medidas tomadas contra o Sr. Marcelo Odebrecht.
Reforço, portanto, que as decisões já tomadas pela Odebrecht S.A. têm caráter institucional e o desfecho das disputas em curso contra o Sr. Marcelo Odebrecht não depende de minha vontade. Neste sentido, entendo que a Companhia deve ser procurada para os devidos esclarecimentos.