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Elio Gaspari: "Os recados amargos da pesquisa Ipec ao presidente"

Postado às 04h57 | 17 Ago 2022

Elio Gaspari

Começou ontem a campanha eleitoral. Serão dias de tensão, sobretudo porque a pesquisa do Ipec (ex-Ibope) trouxe más notícias para Bolsonaro. A pior veio de Minas Gerais. O governador Romeu Zema, ostensivamente descolado do presidente, tem 40% das preferências, ante 22% de Alexandre Kalil, apoiado por Lula.

O prefixo “Bolso”, que já foi alavanca, parece ter se tornado um fardo. Isso foi percebido por candidatos que, mesmo tendo o apoio do capitão, evitam ser confundidos com ele.

No Rio, o governador Cláudio Castro (21%) está tecnicamente empatado com Marcelo Freixo (17%). O mesmo acontece no estado no confronto de Lula (35%) com Bolsonaro (33%). Lá, há quatro anos o capitão fez cabelo, barba e bigode. Elegeu um juiz de pouca fama e nenhum futuro. Conseguiu 4,4 milhões de votos para seu filho Flávio.

Eleição, como a Copa do Mundo, só começa quando a bola começa a rolar. Se a última pesquisa do Datafolha deu alento a Bolsonaro, a do Ipec foi um copo de água fria no clima de otimismo que corria no Planalto na semana passada.

A onda bolsonarista de 2018 parece coisa passada. O presidente perdeu seu maior aliado: o sentimento anti-PT. Ele persiste, enfraquecido. Hoje vem acompanhado pela rejeição ao próprio Bolsonaro. Ela está em 46%, enquanto a de Lula ficou em 33%. A conjunção desses dois fatores leva Lula, com 44%, a entrar como favorito sobre Bolsonaro (32%). Os palacianos da semana passada garantiam que Bolsonaro cresceria, e o ministro Paulo Guedes informava ao andar de cima que há um arsenal de bombas contra Lula.

 

 

Resta ao presidente confiar na sua capacidade demolidora. O maior demolidor da política brasileira foi Carlos Lacerda. No século passado ele destruiu dois presidentes, Getúlio Vargas em 1954 e João Goulart em 1964. Nos dois casos jogava com o uniforme da oposição. Em 1965, quando seu governo foi para a frigideira, os eleitores fritaram seu candidato. Registre-se que Lacerda foi um governador estelar. Demolição é uma arma que favorece a turma do contra. Vinda da situação, confunde-se com baixaria. Além disso, em décadas de atividade parlamentar, Bolsonaro foi mais um provocador que um demolidor.

A oposição a Bolsonaro tem sido criativa e eficaz pregando aos convertidos. A carta pela democracia lida no cenário da Faculdade de Direito da USP foi comovente, mas é sempre bom lembrar que as Arcadas que tiveram Jaquim Nabuco e Castro Alves como alunos tiveram também, como diretores, os professores Luiz Antonio da Gama e Silva e Alfredo Buzaid. Um redigiu o Ato Institucional nº 5. O outro lhe sucedeu no Ministério da Justiça, com idêntico ardor.

Duas coisas são certas: se Bolsonaro continuar montado no discurso contra as urnas eletrônicas, congelará a fotografia das pesquisas de hoje. Do outro lado do balcão, seus adversários festejam que o Auxílio Brasil não fez efeito. Pudera, pois o dinheiro ainda não entrou no bolso dos cidadãos que viram o governo chamar a Covid-19 de “gripezinha”. Algum efeito terá, a dúvida fica na avaliação do tamanho.

Amanhã tem Datafolha, com resultados que permitem a visualização das curvas dos candidatos.

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