Postado às 04h57 | 24 Out 2021
Elio Gaspari
Num governo que já explodiu a meta da inflação, o ministro Paulo Guedes adoçou sua adesão ao estouro do teto de gastos falando difícil, com uma azeitona em inglês:
"Estamos buscando a formatação final dos R$ 400, fazendo a sincronização dos ajustes das despesas obrigatórias, dos salários e do teto ou pedindo um waiver". Na gíria do carteado, a tradução dessa palavra é "estia". O jogador que tem menos habilidade pede uma estia ao outro.
Quanto à sincronização, Guedes conseguiu a demissão sincronizada de quatro colaboradores. Desde a posse do Posto Ipiranga, 19 frentistas já pediram o boné. Quase todos por terem percebido que estavam perdendo tempo ou queimando biografias.
Na Prevent Senior diriam que elas caminhavam para uma "alta celestial".
Guedes parece ter subestimado a saída do secretário do Tesouro Mansueto Almeida, em julho do ano passado. Mesmo antes da posse, Mansueto mostrou ao czar que uma parte de suas promessas eram fantasias.
O economista havia passado com brilho pelo Massachusetts Institute of Technology e conhecia as mumunhas de Brasília. Ao ir embora, mostrou que entendia muito de política.
A última debandada da ekipekonômika mostrou que Guedes não entendeu onde se meteu.
Nenhum deles foi-se embora porque Guedes sofreu derrotas políticas, mas porque tendo-as sofrido, meteu-se numa aventura injetando cloroquina na sofrida economia nacional.
Guedes encantou-se ao ver que as portas se abrem sozinhas para deixar o excelentíssimo senhor ministro passar e por essa porta dezenove se foram.
Boa ideia
Aos poucos, a Petrobras está retomando o fornecimento de combustível de aviões e helicópteros.
Não há razão para que existam intermediários para abastecer com combustível da Petrobras voos de bases da empresa para plataformas da própria companhia.
Posto Ipiranga
De uma víbora:
"O Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro virou uma daquelas casas pelas quais, segundo o escritor Guimarães Rosa, homens sérios entravam, mas por elas não passavam."
Mailson disse tudo
O ex-ministro Mailson da Nóbrega disse tudo:
"Parece um grande manicômio."
A Urbia, empresa que se tornou concessionária do parque Ibirapuera, privatizado pela fúria liberal do então prefeito e hoje governador João Doria, decidiu abrir uma interessante discussão. Quer arrecadar uma tarifa às empresas e aos treinadores que cobram pela prática de atividades esportivas no seu espaço.
Essa tarifa renderia de R$ 100 mil a R$ 200 mil mensais à empresa. Querem cobrar de 3% e 5% do que pagam os alunos, e até as árvores sabem que essa conta vai para o bolso dos alunos.
Há empresas que se apropriam de pequenos espaços para suas atividades. Nesses casos, a ideia faz sentido. A girafa aparecerá quando se quiser cobrar a um treinador que acompanha clientes numa corrida ou numa sessão de ginástica sem demarcar espaço.
Se o doutor João Doria sair candidato pelo PSDB, poderá explicar o alcance de suas privatizações durante a campanha.
Bolsonaro no Congresso
Um leitor de folhas de chá acredita que, se Jair Bolsonaro perceber que não terá chances de vitória na eleição presidencial, procurará abrigo numa disputa para o Senado ou mesmo para a Câmara.
Se isso acontecer, o recuo do capitão nada terá a ver com apreço pelo Legislativo. Será uma busca de imunidade.
Saiu nos Estados Unidos um grande livro. É "Eight Days in May: The Final Collapse of the Third Reich", do historiador alemão Volker Ullrich, conhecido pela sua biografia de Adolf Hitler.
Ele conta com maestria os dias que foram do suicídio do Führer (30 de abril de 1945) à rendição do alto comando alemão em Reims (7 de maio).
Com um olhar alemão, Ullrich mostra um painel de dramas, ruínas e ambições. Nele, sobressai a figura do almirante Karl Dönitz, um nazistão a quem Hitler passou o governo do Reich.
Seu comportamento, com o pelotão de militares e civis que o rodeava, é uma aula sobre a psicologia do poder, mesmo quando ele só existe na forma de delírio patológico.
O almirante tinha uma ideia: continuar a guerra na frente do leste, sem combinar com os russos que já estavam em Berlim.
No dia 5 de maio ele compôs ministério e entregou ao economista Otto Ohlendorf a tarefa de planejar a reconstrução do país. (Como oficial da tropa da SS ele se envolveu na morte de 90 mil pessoas na frente russa).
Nesse dia a fotógrafa americana Lee Miller posava com o torso nu na banheira do apartamento de Hitler em Munique e um general alemão chegava ao QG do aliados levando a proposta de paz em separado.
Não foi recebido pelo comandante americano Dwight Eisenhower: rendição incondicional ou nada.
Quando ele relatou a Dönitz o resultado da gestão, o almirante indignou-se e considerou a posição de Eisenhower "inaceitável". Pouco depois entendeu que inaceitável era sua ideia e, às 02h41 da madrugada do dia 7, os alemães assinaram a capitulação.
No dia 9 os russos já tinham identificado os restos de Hitler a partir de sua arcada dentária. Dönitz, contudo, ainda não sabia se deveria renunciar. Seu chanceler argumentava que a rendição fora das tropas, não do governo.
O almirante concordou e foi ao rádio: "Nós não temos do que nos envergonhar. Nesses seis anos, o que o Exército conseguiu combatendo e a população, resistindo, foi um fato inédito na história do mundo, um heroísmo sem precedentes".
No dia 23 seu governo foi extinto e ele foi preso. Passou dez anos na cadeia e morreu em 1980. Nunca disse uma palavra contra Hitler nem a favor dos judeus.
Os dois comandantes do Exército alemão foram enforcados em 1946 e seu ministro ministro da Fazenda foi executado na Alemanha em 1951 pelo que havia feito na Rússia.
Príncipe William
Faz tempo que não se ouve uma coisa inteligente vinda da Casa de Windsor. A rainha Elizabeth não fala. Seu falecido marido foi um campeão de impropriedades e seu filho Charles falava com plantas.
O sinal de vida veio do príncipe William, que criticou os milionários que torram fortunas para ir ao espaço enquanto as coisas na Terra vão mal.
As aventuras espaciais de Elon Musk e Jeff Bezos, bem como o quadro de Banksy parcialmente triturado que foi arrematado num leilão por US$ 25,4 milhões, serão marcos das maluquices de uma época.
No século passado, o fotógrafo Philippe Halsman ganhou notoriedade com a "jumpology", algo como "pulologia". As celebridades eram fografadas enquanto pulavam. Até o duque e a duquesa de Windsor participaram dessa palhaçada, rendendo uma bela imagem.
Anos depois a televisão italiana criou o programa de bobagens "Mondo Cane". Num de seus episódios, um artista tocava uma peça de Beethoven dando tapas na cara de suas vítimas.