Postado às 10h58 | 16 Out 2022
Elio Gaspari
Estima-se que 17 milhões de eleitores poderão decidir seu voto na última semana. Disso resulta que o desempenho de Lula e Bolsonaro nos debates será decisivo.
Os estrategistas dos candidatos dizem que nas cartucheiras não há balas de prata. Tudo bem, mas, se as tivessem, não avisariam.
Seja qual for a opinião que os eleitores têm de Lula ou de Bolsonaro, as candidaturas estão demarcadas com uma clareza nunca vista. Ambos governaram o país e mostraram a que vieram.
O mínimo que se pede a ambos é que apareçam nos debates sem o espírito dos ringues de MMA.
Até hoje nenhum dos dois apresentou ideias ou projetos para um país que está andando de lado há quase uma década, com nove milhões de desempregados. O comissariado petista zanga-se quando Lula é cobrado por clareza nessa questão. Já o entorno de Bolsonaro oferece um tênue sinal de que, se Paulo Guedes quiser, irá embora. Ele não há de querer, mas, se isso acontecer, coisa melhor não virá.
A falta de ideias embaralhou a disputa de tal forma que Bolsonaro acusa Lula de ter na Venezuela um farol, mas, olhando-se para os últimos meses de seu governo, ele ficou parecido com o finado Hugo Chávez. Noves fora sua cooptação de militares e PMs, basta lembrar sua generosidade fiscal, bem como a agressividade com que desafia o Judiciário.
Uma boa ideia seria pedir aos dois candidatos que, durante um debate, assinem compromissos de não mexer na estrutura e na competência do Supremo Tribunal Federal.
Quem não quiser assumir compromisso, aproveita a oportunidade e dá suas razões.
Elegância não significa fraqueza, e agressividade não significa sinceridade. Para ilustrar essa diferença pode-se ir ao debate passado. O que foi preferível ouvir: Lula, zangado, chamando o possível sacerdote Kelmon de "impostor", ou Soraya Thronicke, que o classificou como "padre de festa junina"?
Sejam quais forem os motivos que levam a senadora eleita e ex-ministra Damares Alves a ilustrar suas revelações sobre prostituição infantil, uma coisa é certa: ela usa o assunto como um bordão para aquecer o auditório.
Um ministro do governo Bolsonaro estarreceu-se nos primeiros meses do governo ao ouvir uma intervenção da ministra naquilo que se chamava de "Conselho de Governo". Ela começou a falar do assunto, descendo a detalhes, e estimulou a curiosidade de Bolsonaro.
O assunto só morreu porque o general Augusto Heleno sugeriu que se passasse a outro assunto.
Quando as grandes empresas compradoras de soja brasileira anunciarem o início de um boicote à compra de grãos colhidos no cerrado, começará uma pressão para que o embargo, também chamado de moratória, seja estendido às exportações de proteína animal, leia-se carne de boi e de frango.
Como o governo brasileiro se viu como um pária orgulhoso, ferra-se o agronegócio.
De uma cobra:
"Bolsonaro tem um problema com o próprio pé. Nesta campanha eleitoral atirou mais nele do que em Lula. Reuniu os embaixadores para falar mal das urnas eletrônicas, atravessou o oceano para fazer discurso para uma calçada em Londres durante o luto pela morte da rainha. De volta, foi a Aparecida para tumultuar uma cerimônia religiosa, com uma claque que vaiou sermão, ilustrada por um cidadão que empunhava uma caneca de cerveja. Todos os tiros foram certeiros."
Tantos foram os insultos e grosserias do comissariado petista com Michel Temer que Lula deveria agradecer sua neutralidade no segundo turno.
Temer, por sua vez, deveria agradecer aos amigos que ajudaram a convencê-lo a não pensar com o fígado.
O Ministério da Defesa, que falou quando não devia, calou-se quando devia falar
O Planalto colocou os comandantes militares numa posição girafa ao insinuar que as suspeitas de Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas tinham respaldo, o que é duvidoso.
Veio o primeiro turno e, salvo um bolsonarista que teve 3.000 votos e diz que lhe roubaram outros 400 mil, ninguém duvidou do processo de armazenamento e totalização dos resultados.
O Ministério da Defesa, que falou quando não devia, calou-se quando devia falar.
Vale o ensinamento do presidente americano Calvin Coolidge: Quem fica calado nunca precisa voltar atrás.
Está nas livrarias "Otávio Malta Jornalismo de Combate", organizado por seu filho Dácio. Reúne 22 breves artigos de Malta. A capa diz tudo, mostrando o teclado de uma máquina de escrever Lettera 82, fabricada pela Olivetti. Fala de um tempo que passou, como o das caravelas. Todos os jornais onde Malta trabalhou acabaram-se e ele morreu em 1984, aos 82 anos.
Cronista político desde os anos 20 do século passado, ele foi definido por Paulo Francis, seu colega na redação da Última Hora: "Um polemista de esquerda e uma doce criatura." Ele batia duro, mas só para cima.
Quando a ditadura resolveu ajoelhar a Última Hora, Malta passou a escrever com o pseudônimo de Manoel Bispo.
Previa-se que em dez anos "um cérebro eletrônico irá editar os jornais". Em 1964 os computadores eram chamados de "cérebros eletrônicos".
Malta previu: "Os jornais estarão revolucionados pela pressão do cérebro eletrônico. Então, a polícia não perseguirá mais o redator, que usou a liberdade de imprensa para defender uma reivindicação, ou um direito, ou uma ideia. Perseguirá uma máquina: o cérebro eletrônico."
O rei Charles 3º nunca foi um tipo popular e seus pitis nos primeiros dias de reinado alimentaram-lhe a antipatia. Contudo, a sorte colocou-lhe uma carta na manga: ganhará alguma popularidade dando um título nobiliárquico aos pais de Kate Middleton, atual princesa de Gales.
A rainha Elizabeth era avara na concessão de títulos, mas o casal merece, sobretudo por Carole. Ela foi aeromoça, filha de uma mulher tenaz que decidiu tirar a família do andar de baixo. Carole criou uma empresa que enfeita festas e o casal tornou-se milionário. (Na crise, perderam bom dinheiro).
O bisavô materno de Kate era estucador e trabalhava em palacetes que ela hoje frequenta. Nessa linha dinástica, um de seus ascendentes passou um tempo na cadeia, provavelmente por causa de dívidas. Muitos eram mineiros que viviam em bairros pobres e morriam de doenças pulmonares.
Na quinta-feira, dia 13 de outubro, o senador Ignazio Benito La Russa foi eleito para a Presidência do Senado italiano.
Veterano do movimento neofascista, ele coleciona peças dos tempos em que Mussolini governou a Itália. É admiração, mas é também senso de oportunidade. Faz pouco tempo, uma feirinha de Berlim, em frente ao apartamento da então primeira-ministra Angela Merkel, vendia uma cabeça porcelana de Mussolini por uma ninharia.
Em 1943, no dia 13 de outubro, o governo italiano que havia defenestrado Benito Mussolini declarou guerra à Alemanha.
La Russa nasceu em 1947.