Postado às 05h29 | 03 Jul 2022
Elio Gaspari
A XP decidiu botar R$ 100 milhões numa iniciativa para criar um curso de graduação gratuito e outro de pós (pago) para 400 estudantes. Oferecerá aulas nas áreas de desenvolvimento de sistemas e banco de dados. A entrada de empresários no sistema educacional pode mudar a cara dessa mazela nacional.
Nos Estados Unidos, os institutos de tecnologia de Massachusetts e da Califórnia surgiram no século 19 graças à visão de uma elite de empresários que pensavam no futuro.
O MIT foi criado em Boston, em 1861, e o Caltech, 30 anos depois, quando o grosso dos milionários da Califórnia roubava água e terras. (Um dos barões ladrões da época, Leland Stanford, ajudou a criar a universidade que tem seu nome.)
Grandes empresas e fortunas americanas orgulham-se de dar seus nomes a universidades: Rockefeller (petróleo), Vanderbilt (ferrovias), Carnegie (aço), Mellon (banco) ou Purdue (alimentos). Deles, só Andrew Mellon teve pai rico.
A filantropia do andar de cima nacional ainda engatinha, mas pode crescer. Durante a pandemia o banco Itaú fez história ao separar R$ 1 bilhão para financiar iniciativas no combate à Covid.
A Fundação Dom Cabral muito deveu ao banqueiro Aloysio Faria e o Insper foi criado por Claudio Haddad com o apoio de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
Se Deus é brasileiro, progredirão as conversas para que o agronegócio crie uma universidade no Centro-Oeste. Vale lembrar que a veneranda Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba, nasceu em 1901 de uma doação de terras do fazendeiro que lhe dá o nome.
As mulheres que denunciaram Pedro Guimarães ao Ministério Público escreveram uma memorável página no combate ao assédio sexual.
Sobretudo no serviço público, o Brasil não será mais o mesmo.
O humor testicocéfalo de Roberto Campos (1917-2001), farol do liberalismo nacional e cérebro das reformas do governo Castello Branco, produziu em junho de 1988 um artigo intitulado "Elas gostam de apanhar...".
Campos era senador por Mato Grosso, estava na Constituinte e publicou o texto na Folha de S.Paulo, criticando os excessos paternalistas dos colegas. Usou a seguinte epígrafe, referindo-se a uma conversa sua com Nelson Rodrigues: Nelson, você acredita que as mulheres gostam de apanhar? (...)
Não, Roberto, nem todas gostam de apanhar. Só as normais.
Campos voltou ao assunto no artigo, criticando uma proposta para que a Constituição dissesse que "o Estado assegura a assistência à família na pessoa dos membros que a integram criando mecanismos para coibir a violência no âmbito destas relações".
Ele ironizava a emenda:
"Pelo que entendi, criar-se-á um mecanismo pelo qual um burocrata apartará as brigas domésticas, impedindo que os pais sejam cruéis nas palmadas ou que os maridos batam nas mulheres".
Mais adiante, dizia:
"É bondade exagerada dos burocratas intervirem nos conflitos do lar. Torna-se até uma violação dos direitos humanos, a julgar pela tese, nunca desmentida cientificamente, do meu saudoso amigo, o dramaturgo Nelson Rodrigues. Tinha ele por verdade axiomática que as mulheres gostam de apanhar. Pelo menos as ‘normais’... A Constituição não deve privá-las desse direito".
(Sete anos antes, Campos havia sido esfaqueado por uma ex-namorada que protegia colocando-a na Embaixada do Brasil em Paris. Demitida por falar demais, a senhora foi para Londres, com mesada da empreiteira Odebrecht. A facada aconteceu no meio de uma discussão imobiliária. Campos não a denunciou e nunca desmentiu a versão de que teria sido assaltado no centro de São Paulo. Quando a senhora publicou suas memórias, outro empreiteiro comprou toda a edição, mas alguns exemplares escaparam-lhe.)
Durante o governo Bolsonaro, um motorista da Caixa Econômica foi demitido por ter comentado o que ouviu no carro em que havia transportado Pedro Guimarães, presidente do banco.
Guimarães teria narrado proezas da noite anterior.
A demissão fez com que o motorista recorresse à Justiça.
Sabe-se lá o que aconteceu com o processo.
Na quarta-feira (29) a Comissão Mista do Orçamento aprovou um relatório que só pode ter saído de um manicômio.
Expandiram o alcance do orçamento secreto, avançando em algo estimado em R$ 19 bilhões, ervanário equivalente a cerca da metade do orçamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, zona de repasto dos pastores do MEC. R$ 3,3 bilhões poderão ir para governos dos estados ou prefeituras, para que elas gastem como julgarem melhor.
No ano que vem haverá um novo governo, com um novo Congresso. A turma decidiu que as emendas autorizadas pelo relator-geral ou pelo presidente da Comissão do Orçamento serão impositivas. Ou seja, despesas obrigatórias.
É um jabuti do tempo dos dinossauros, pois dentro dele cabem todos os outros, produzidos por anos de espertezas.
Trata-se de um cheque pré-datado, sem fundos, pois avança na pequena capacidade de investimento do Poder Executivo.
O relatório precisa ser aprovado pelo atual Congresso até o fim de agosto e isso acontecerá quando o senador Rodrigo Pacheco o puser na pauta.
À primeira vista, a iniciativa tem a capacidade de engessar um futuro governo da oposição. Na realidade, engessa qualquer governo.
Diante dessa maluquice, a "PEC Kamikaze" é uma obra pia. Num kamikaze, para destruir o navio, o piloto morre atirando-se com seu avião. Com essa proposta, explode-se o navio sem que o piloto precise sair de casa.
Numa conversa recente, Lula disse que se considera um homem de sorte. Ele lembrou que seu futuro na política foi preservado pelo ministro Gilmar Mendes em 2016, quando impediu que ele assumisse a chefia da Casa Civil, nomeado por Dilma Rousseff.
Se Lula tivesse tomado posse, iria para o olho do furacão que acabou arrastando o governo da senhora.
O general Luiz Eduardo Ramos, atual secretário-geral da Presidência, lançou um adereço para a indumentária de militares da reserva. Usa um prendedor de gravata no alto do peito onde brilham as quatro estrelas de seu posto quando estava na ativa. Parecia uma excentricidade pessoal, mas o general Braga Netto acompanhou-o.
Faz tempo, um general brasileiro da ativa que comandava uma tropa internacional pediu que sua louça tivesse as estrelas do generalato. Virou motivo de piada.
De um lado, o PT vem sendo acusado de ter subido num salto alto. De outro, chega a ser pitoresca a corrida de candidatos a cargos no que seria o seu governo.
Dois grupos se destacam. No meio jurídico a bolsa de apostas está aberta para duas vagas no Supremo Tribunal Federal e a cadeira de ministro da Justiça. No mundo dos números, candidatos disputam a simpatia de Lula para ocupar postos na ekipekonômika.