Postado às 08h13 | 05 Jan 2022
Elio Gaspari
Amanhã completa-se um ano da insurreição trumpista que pretendia melar o resultado da eleição de Joe Biden. Cinco dias depois da invasão do Capitólio, Steven M. D’Antuono, chefe do escritório de Washington do Federal Bureau of Investigation (FBI), avisou: “Nossos agentes vão bater na tua porta”. Até agora, bateram numas mil portas e prenderam ou indiciaram 724 pessoas de 45 estados americanos. Abriram 170 investigações e partiram da análise de 100 mil peças de comunicação digital. Sem lavajatismo, quase todo dia havia alguém sendo interrogado.
O sujeito dizia que esteve no Capitólio por dez minutos, e o FBI mostrava, com vídeos, que ele esteve lá das 14h45 até por volta das 15h05, com um amigo que agarrou um policial e empurrou uma porta. Outro achou que passara despercebido, e o FBI bateu à sua porta em outubro, mostrando-lhe que esteve no Capitólio por pelo menos 17 minutos.
Outros, que posaram ao lado de estátuas ou quadros, foram logo achados. Um discreto desordeiro que passou despercebido articulou um ataque a uma prisão. Seu cúmplice era um agente disfarçado.
Os agentes procuraram agulhas no palheiro, mas nunca dispuseram de tantos meios para achá-las. Exibicionistas incriminaram-se nas redes sociais. Além disso, o FBI rastreou os celulares que estavam ligados no Capitólio e na vizinhança durante as horas dos distúrbios. A isso somaram-se as câmeras dos policiais e pistas oferecidas por centenas de pessoas.
Sempre sem lavajatismo, em junho os condenados eram cem. Alguns tomaram penas leves, com liberdade condicional; outros, que vandalizaram o prédio ou agrediram policiais, tomaram até cinco anos de cadeia.
Boa parte da turma que arrombou janelas foi alcançada. Um deles, apanhado em julho, estava com a mulher e dois filhos. Entre os atletas que escalaram as paredes do prédio havia um fuzileiro naval da reserva. Também havia sido fuzileiro o primeiro a entrar à força na Rotunda do Capitólio, às 14h25. O rapaz de 19 anos que se filmou botando os pés sobre a mesa da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, foi alcançado em abril. O palhaço que circulou com roupa de bicho e chifres na cabeça foi alcançado três dias depois e tomou até 41 meses de prisão. Queria notoriedade, tornou-se exemplo.
Havia de tudo naquela multidão: jovens, velhos, famílias, veteranos, pastores, policiais (alguns pastores policiais), professores e malucos fantasiados, todos movidos pela realidade paralela instigada pelo presidente Donald Trump.
Eram todos lambaris e, no primeiro aniversário da insurreição, peixe gordo se protege, tentando blindar a documentação da Casa Branca relacionada com o episódio.
Sabe-se que o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani foi um dos instigadores, muitas vezes tendo tomado algumas a mais. Sabe-se também que Ivanka, filha de Trump, tentou chamá-lo à razão, mas ele passou horas diante dos aparelhos de televisão. Seus advogados pediram à Suprema Corte que preservasse o sigilo das movimentações na Presidência.
Deve-se esperar que a Corte se pronuncie, pois o caso é constitucionalmente intrigante. O ex-presidente quer manter o sigilo que Joe Biden, seu rival na campanha, dispensou. O FBI brilhou, mas, nos limites de sua investigação, só pegou lambaris.