Notícias

Elio Gaspari: "Collor tem poucos recursos para se livrar da prisão"

Postado às 07h19 | 11 Jun 2023

Elio Gaspari

Ex-presidente foi condenado pelo STF a 8 anos e 10 meses de prisão

Condenado a 8 anos e 10 meses de prisão em regime inicial fechado, pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Fernando Collor de Mello ainda dispõe de poucos recursos judiciais para continuar em liberdade.

Um sábio que já viu de tudo acredita que, antes de ir para a cadeia, Collor deixará o país.

República de Curitiba

O senador Sergio Moro e procuradores da falecida República de Curitiba, que há alguns anos dominaram a cena política nacional, precisam contratar bons advogados.

Em ponto muito menor, repetiram o que faziam larápios apanhados pela Lava Jato, seguros da própria impunidade.

Os Middleton quebraram

Foi à garra a outrora bem-sucedida empresa dos pais de Kate Middleton, a princesa de Gales. Deixou 2,6 milhões de libras, cerca de R$ 16 milhões.

Pelas regras do andar de cima, vai-se dar um jeito.

Pelas regras do andar de baixo, em 1881 um ascendente da princesa estava na cadeia, quase certamente por dívidas.

A PM convida

A repórter Manoella Smith revelou que o cidadão que gravou com seu celular as cenas de um negro sendo amarrado pelo pé e pelas mãos por policiais militares de São Paulo, depois de ter sido apanhado roubando chocolates, foi levado a uma delegacia e lá ficou por quatro horas, até as cinco da manhã.

O cidadão havia reclamado da cena, e um PM perguntou-lhe se era formado em segurança pública. Como não era: "Fica no seu lugar"

Em seguida, o PM falou ao telefone. Voltou dizendo que ele deveria ir à delegacia, "por bem ou por mal."
(Em 1955, em Montgomery, a polícia tentava prender motoristas que davam carona aos negros que boicotavam os ônibus segregados.)

A prática de levar à delegacia como testemunhas quem grava cenas de condutas impróprias da polícia é generalizada. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi militar e esteve no Haiti. Ele sabe que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

A Secretaria da Segurança de São Paulo justificou o episódio, dizendo que "o cidadão foi convidado a comparecer à delegacia." Como repetia Danuza Leão: Fica combinado assim.

Um dia, quem sabe, quando a polícia quiser levar para a delegacia quem grava uma cena, irão também aqueles que gravam esse mesmo convite e, no meio da madrugada, apresentem-se ao delegado dezenas de brasileiros.

A gloriosa vida de Martin Luther King

Saiu nos Estados Unidos "King: A Life", do jornalista Jonathan Eig. É uma excelente biografia do pastor Martin Luther King Jr. (1929-1968), o negro que ajudou a mudar a história do país.

Hoje, ao lado de George Washington, ele tem o nome associado a um feriado nacional. Em apenas 8 dos seus 39 anos de vida, King passou da condição de pastor desconhecido da cidade racista de Montgomery à posição de maior líder popular dos Estados Unidos.

Eig conta com minúcias a ascensão de King, sua formação religiosa, sua capacidade de organização e sua percepção da oportunidade. Ele surgiu em 1955, liderando um boicote aos ônibus da cidade, onde os negros deviam-se sentar no bancos de trás. (Rosa Parks, a mulher que foi presa porque não quis sair do lugar, hoje tem estátua na Rotunda do Capitólio, em Washington.)

A segregação racial tinha bases populares no sul do país, mas estava apodrecendo. Um ano antes, a Corte Suprema havia declarado ilegal a exclusão de crianças negras em escolas públicas destinadas a brancos.
King entrou no boicote com horas de atraso, valendo-se de uma militância já existente.

Sua ascensão meteórica durou nove anos. Em 1963, ele fez o histórico discurso da Marcha de Washington ("Eu tenho um sonho"). Esse era o tempo em que John Kennedy estava na Casa Branca. Em 1964, King recebeu o prêmio Nobel da Paz.

King lapidou uma ideia gloriosa. Desafiou o racismo com uma mensagem pacifista, expondo o irracionalismo e a ilegalidade da segregação. Foi preso 26 vezes, esfaqueado e espancado.

A cada agressão ele crescia e fortificava o movimento. Tinha algo de profeta, imune às manipulações dos Kennedy e de seu sucessor, Lyndon Johnson.

Eig foi ajudado pela divulgação de documentos do Federal Bureau of Investigation e pelas gravações das conversas de Kennedy e Johnson. Esses acervos mostram que, enquanto King crescia, o diretor do FBI, J. Edgar Hoover, movia-lhe uma obsessiva perseguição.

Hoover era o símbolo de uma polícia disciplinada, eficiente e implacável. Pessoalmente, era o que à época se chamava de "solteirão de hábitos estranhos". Apesar disso, grampeava os telefones de King, de seus assessores e de 15 hotéis onde se hospedou. Desses grampos saia um King sexualmente promíscuo. (Muito menos que Kennedy e menos que Johnson.)

Depois de 1964, quando a luta contra a segregação havia triunfado, King tornou-se uma estrela apagada, sua luz continuava a ser vista, mas ela estava extinta.

Reciclou sua plataforma combatendo a pobreza e a guerra do Vietnã, mas o chão faltava-lhe. Em abril de 1968, estava num hotel de Memphis prestigiando uma greve, foi à sacada, tomou um tiro na cabeça e morreu pouco depois.

Quando o FBI comunicou a Hoover que King havia sido baleado, ele disse: "Tomara que esse filho da puta não morra. Se ele morrer, virará um mártir".

Hoover morreu em 1972, sem ver a glorificação de King nem a implosão da presidência de Richard Nixon com o escândalo do Watergate, em cuja exposição teve papel destacado um ressentido agente do FBI.

O ato que tornou o nascimento de King um feriado nacional foi assinado em 1983 pelo presidente Ronald Reagan, que não gostava dele nem de seu movimento.

PF desfez maluquice sobre valor das joias de Bolsonaro

A Polícia Federal informa: todas as joias presenteadas pelos sauditas aos Bolsonaro valem R$ 5 milhões. Ao longo dos últimos meses repetiu-se que elas valiam R$ 16,5 milhões, sem que se soubesse de onde vinha a estimativa.

A PF fez um serviço que muita gente deixou de fazer, mas, se J. Edgar Hoover estivesse na sua direção, a maluquice teria sido desfeita há alguns meses.

Mau começo

O escândalo da rede varejista Americanas, com um rombo de pelo menos R$ 20 bilhões, dará um trabalho danado à Comissão de Valores Imobiliários. Pena que ela tenha começado tornando réu o ex-diretor-presidente da empresa, Sergio Rial.

A CVM tomou a decisão porque, nos dez dias em que Rial ficou no cargo, descumpriu as normas que regem os comunicados ao mercado. Tudo bem, mas não foi Rial quem depenou a empresa e também não vendeu ações da Americanas quando ela estava emborcando nem mandou dinheiro para parentes que vivem no exterior. Rial tornou-se réu porque apitou durante as horas de silêncio.

Fica uma esperança, a de que a CVM esteja entrando no caso com um rigor do tamanho da roubalheira.

 

Deixe sua Opinião