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Elio Gaspari: "A rainha morreu, viva a rainha"

Postado às 07h33 | 18 Set 2022

Elio Gaspari

Elizabeth de Windsor se foi. Para quem gosta de rainhas, viva Margaret 2ª, da Dinamarca. A senhora tem 82 anos, reina desde 1972.

Graças ao YouTube a monarca está ao alcance de todos. Suas marcas são um sorriso contagiante e roupas luminosas que às vezes ela mesma desenha.

Como a casa de Windsor, ela também descende da nobreza alemã. A semelhança termina aí. A aristocracia da Dinamarca não tem a pompa carnavalesca da inglesa e fica longe do burburinho das celebridades. Frederick, o filho de Margaret 2ª, herdou-lhe o sorriso e não tem a propensão aos pitis de Charles 3º. Ela entra em lojas e em maio passado meteu-se numa montanha-russa.

Viúva, Margaret 2ª foi casada com um diplomata francês de sangue azulado. Ele não se conformava com o papel secundário que o protocolo lhe impunha e passava temporadas no seu vinhedo. Antes de morrer, pediu para que sua sepultura não ficasse ao lado da dela.

Enquanto a graça da casa de Windsor está em não ter graça, Margaret 2ª marcou seus 50 anos de reinado dando a impressão de que se diverte muito no papel. (Numa concessão aos costumes, não fuma em público.)

Margaret 2ª esteve no Brasil duas vezes. Na segunda, em 1999, como rainha, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, outro monarca que se divertia reinando. Lula visitou-a em 2007. Durante sua passagem por Copenhague, disse que ficava feliz ao passar por "um país em que dirigentes sindicais podem comer caviar

OS TEMPOS MUDAM

Em 1976 o presidente Ernesto Geisel foi a Londres para uma visita de Estado.

A ditadura tisnava a imagem do país e Roberto Campos era embaixador na Grã-Bretanha, pessoa com fino senso de humor.

Protestando contra a visita, houve apenas uma esquisita manifestação em defesa dos homossexuais. Hoje, uma manifestação dessas nada teria de engraçado. (Um cidadão atirou-lhe um tomate, mas errou o alvo.)

Dos dias em Londres Geisel guardou uma lembrança: apesar de ter mandado a Londres as medidas de sua cabeça, a cartola que lhe deram estava apertada.

A rejeição de Bolsonaro

Bolsonaro precisa mudar para reduzir a sua elevada taxa de rejeição. Vá lá. Como? Para quê?

Em 2018 o capitão foi eleito numa onda antipetista propondo um governo conservador nos costumes, liberal na economia e independente na política.

Para explicar como armaria sua independência política, prometia basear-se no que chamava de "bancadas temáticas". Eleito, ele ainda não tinha tomado posse e o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) ensinava:
"Quem disser que sabe qual é o resultado que esse novo modelo produzirá, de duas uma: ou é adivinho ou está mentindo".

Não havia adivinhos no pedaço e o modelo foi o de sempre: o governo aninhou-se no colo do centrão.

O governo liberal na economia fechou o Posto Ipiranga e passou a vender picolés de carestia. Restavam dois temas: o conservadorismo nos costumes e o antipetismo. Conservador não é miliciano, não ofende mulheres e repele atitudes vulgares. Sobrava o antipetismo.

Ele existe, mas foi abalado por dois fatos. Uma foi a transformação da Lava Jato em poeira pela desmistificação de seus cavaleiros. O juiz Sergio Moro começou prometendo liquidar o arranjo corrupto dos partidos políticos, tornou-se todo-poderoso ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro e acabou comprando bermudas com dinheiro do Podemos.

A segunda circunstância foi produzida por Bolsonaro. Se ele é a alternativa ao PT, o resultado está no Datafolha: 45% para Lula e 33% para ele.

Bolsonaro sabe que precisa mudar. Seu último Sete de Setembro não teve a essência golpista do anterior.

Dias depois, reconheceu que aloprou ao dizer tolices durante a pandemia. Insistiu na defesa da cloroquina e aí mostrou um aspecto da sua essência política. Quando ele começou a defender o fármaco muita gente boa estava receitando-o e tomando-o. Sua excepcionalidade está no fato de que acredita em fórmulas mágicas, como o nióbio, o grafeno e a transmissão de energia elétrica sem fios. Muita gente que tomou cloroquina entendeu que a droga não funcionava. Bolsonaro continua acreditando na mágica.

Pode vir a existir um Bolsonaro calado, até mesmo um Bolsonaro eventualmente gentil, mas um Bolsonaro mudado não existe. Assim como nunca existiram as bancadas temáticas, o Posto Ipiranga e os efeitos da cloroquina. Continua existindo o antipetismo, mas o eleitor se vê sem alternativa.

Assim como a soberba petista diante das malfeitorias de suas administrações ajudou a produzir a maré de 2018 e Jair Bolsonaro, passados quatro anos o capitão poderá produzir Lula.

O FATOR VERA

Se Bolsonaro pudesse mudar, ele não se meteria numa pergunta da repórter Vera Magalhães a Ciro Gomes para insultá-la.

Conservador com boas maneiras, Ronald Reagan foi a uma entrevista na Casa Branca, e a veterana Helen Thomas fez-lhe uma pergunta diabólica.

Reagan, um mestre, respondeu:

"Helen, eu sou um bom sujeito, por que você me faz uma pergunta dessas?".

DEBATE DA GLOBO

Pelo andar da carruagem, o resultado do primeiro turno da eleição presidencial será decidido no debate da TV Globo, marcado para o dia 29.

Gol pagou US$ 41 mi ao governo dos EUA para encerrar investigação

Eremildo é um idiota e soube que a Gol pagou US$ 41 milhões ao governo americano para encerrar uma investigação que corria atrás das propinas que ela pagou no Brasil.

O cretino entende que os americanos correram atrás porque a Gol opera por lá. Ele quer saber se o governo brasileiro e a Agência Nacional de Aviação Civil têm interesse em saber quem embolsava o ervanário.

MADAME NATASHA

Madame Natasha foi uma bolsonarista chique. Ela prefere subir escadas a entrar no elevador de serviço. A senhora esperava que Paulo Guedes ilustrasse o capitão e desencantou-se ao ser procurada por um miliciano para pedir mesada ao síndico do condomínio.

Logo Guedes, um PhD de Chicago que corta o cabelo no salão Care Ipanema, disse que "liberais e conservadores estão juntos porque, do outro lado, está o capeta".

Natasha sabe que os liberais desbolsonarizaram-se e horrorizou-se ao ver o doutor usar um termo do capitão para desqualificar seu adversário.

Zelando pelo idioma e pela reputação de Guedes, ela lhe sugere que dê um toque de elegância aos seus insultos, indo buscar em Guimarães Rosa sinônimos para a malcriação.

Em "Grande Sertão: Veredas", Rosa oferece cerca de 50 possibilidades.

Três delas: Tisnado, Coisa Ruim e Pai da Mentira.

A MARCA DE ROSA

Na cerimônia de sua posse, Rosa Weber deu um sinal do que será sua gestão no Supremo Tribunal.
Habitualmente, depois da solenidade há um pequeno coquetel.

Desta vez não houve nem água, e Brasília estava num de seus dias de secura infernal.

PISO DA ENFERMAGEM

Não se discute a decisão do Supremo Tribunal Federal de derrubar o piso salarial de R$ 4.750 das enfermeiras e enfermeiros.

O que se pode discutir é se os doutores se sentirão seguros indo para um hospital onde serão atendidos por uma enfermagem que ganha menos que isso.

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