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Elio Gaspari: "A lição chilena"

Postado às 04h57 | 11 Set 2022

Agendas políticas são como árvores de Natal, se forem sobrecarregadas, caem

Os chilenos mandaram para o arquivo o projeto de Constituição votado por uma assembleia que havia incorporado quase todos os temas da agenda de centro-esquerda do século 21. Em outro referendo, em 1988, os mesmos chilenos mostraram a porta de saída à ditadura do general Augusto Pinochet.

Os plebiscitos chilenos resolveram pacificamente as divergências da sociedade. Em 1973, outra grande divergência foi resolvida pela força das armas e desembocou numa sangrenta ditadura.

O presidente Gabriel Boric absorveu a derrota, reconhecendo a expressão da vontade popular e reorientou seu governo.

É sempre bom lembrar que em dezembro do ano passado, no primeiro turno da eleição, Boric teve 25,8% dos votos. No segundo, prevaleceu com uma maioria de 56%. A Constituição foi rejeitada por 62% da população num pleito em que o voto era obrigatório.

A professora Maria Hermínia Tavares disse tudo:

"O desfecho do plebiscito mostra que a parcela organizada e politicamente ativa da sociedade não se confunde com as preferências da maioria, tampouco a exprime, mesmo quando se enxerga como a sua tradução mais legítima e generosa."

Agendas políticas são como árvores de Natal. Elas precisam de enfeites, mas se forem sobrecarregadas, caem. Sobrecarregada, a Constituição chilena foi rejeitada.

No Brasil, até mesmo alguns dirigentes petistas já reconheceram que a queda da presidente Dilma Rousseff e a ascensão de Jair Bolsonaro deveram-se, em parte, à incorporação de um excesso de temas divisivos à agenda da coligação de centro-esquerda.

 

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