Postado às 03h33 | 03 Nov 2020
Diário de Notícias, Portugal
Nem tudo são diferenças entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e o seu adversário democrata nas eleições de 3 de novembro, Joe Biden. Há semelhanças que saltam à vista, afinal são ambos homens brancos na casa dos 70 anos - Trump tem 74 e Biden fará 78 no final deste mês. Mas há outras mais escondidas, algumas que o ex-vice-presidente não gostará de lembrar.
Apesar de terem nascido os dois na década de 1940, a infância de ambos foi muito diferente. Trump cresceu em Nova Iorque e já era milionário antes dos 10 anos, graças à fortuna que o pai (descendente de alemães, a mãe era escocesa) conquistou no setor imobiliário. Na Universidade de Fordham e depois na Wharton School, na Pensilvânia, ambas privadas, estudou Economia.
A família era presbiteriana e ele identificou-se como tal no passado, mas agora considera-se um cristão não-denominacional.
Já Biden nasceu na Pensilvânia numa família católica de classe média, de ascendência inglesa, irlandesa e francesa, e cresceu no Delaware, onde estudou artes, história e ciência política, antes de tirar Direito numa universidade privada em Syracuse, Nova Iorque. Se for eleito, será o segundo presidente católico nos EUA, depois de John F. Kennedy.
Nem Trump nem Biden cumpriram serviço militar, em plena guerra do Vietname, apesar de o primeiro ter chegado a passar nas inspeções iniciais. A asma de Biden foi motivo para o desqualificar logo desde o início.
Em relação à família, ambos já subiram mais do que uma vez ao altar, mas em circunstâncias bastante diferentes. Biden casou-se aos 24 anos com Nelia Hunter, com quem teve três filhos, mas ficou viúvo seis anos depois, quando ela e a filha mais nova, de apenas 1 ano, morreram num acidente de viação. Três anos depois conheceu a professora Jill, com quem se casou em 1977 e teve mais uma filha. Beau, o seu filho mais velho, morreu em 2015 devido a um cancro no cérebro.
Trump tinha 31 anos quando se casou com a modelo checa Ivana, com quem teve três filhos, divorciando-se 15 anos depois, após ter tido um caso com a atriz Marla Maples. Os dois deram o nó em 1993, ano em que nasceu a filha de ambos, mas divorciaram-se em 1999. O atual presidente voltou a casar-se em 2005, com a modelo eslovena Melania, 24 anos mais nova do que ele, sendo novamente pai em 2006.
Tanto Biden como Trump seguiram caminhos profissionais opostos. Após uma curta carreira como advogado, o democrata foi eleito senador pelo Delaware pela primeira vez em 1972. Após uma primeira tentativa falhada em 1998, Biden voltou a candidatar-se à nomeação democrata para a Casa Branca em 2008. Mas esse era o ano de Barack Obama, sendo contudo escolhido por este para ser vice-presidente. Um cargo que ocupou durante oito anos.
O atual presidente passou a maior parte da vida afastado da política, tendo pegado no negócio imobiliário do pai e elevado a fasquia, colocando o seu nome em arranha-céus, hotéis, casinos ou campos de golfe. O seu currículo inclui contudo várias falências e, segundo as investigações jornalísticas à sua fortuna, vários negócios menos claros e fugas de impostos. A sua outra faceta está ligada ao mundo do entretenimento, ganhando fama enquanto apresentador do reality show The Apprentice.
Só na viragem do milénio é que Trump, que no passado saltou de partido em partido, mostrou interesse ativo na política para lá dos comentários sobre temas de atualidade, estudando a hipótese de ser candidato à presidência nas eleições de 2000. A ideia caiu por terra, mas voltou a reaparecer antes das presidenciais de 2012, concretizando-se finalmente para as de 2016. Apesar de não ter sido inicialmente levado a sério, conquistou primeiros os republicanos e depois os EUA, derrotando Hillary Clinton.
Agora, Biden é o homem que está entre Trump e a reeleição. E há ataques que são feitos ao presidente que também podem ser feitos ao ex-vice-presidente, como no caso de acusações de assédio sexual. Pelo menos duas dezenas de mulheres já acusaram Trump de crimes que vão desde violação a contactos ou beijos indesejados, tendo ele sempre negado tudo. Mas o currículo de Biden também não está limpo, com várias mulheres a dizerem sentir-se desconfortáveis com a forma como ele lhes toca, até em público, invadindo o seu espaço pessoal.
E depois houve a denúncia de uma antiga colaboradora, com os factos a remontarem a 1993. Tara Reade veio a público, em plena campanha, alegar que o então senador a encostou contra uma parede, beijando-a à força e penetrando-a com os dedos, mostrando-se surpreso quando ela o afastou. O ex-vice-presidente negou categoricamente a acusação.
O que o democrata não pode negar é o seu registo no que diz respeito a temas raciais. Apesar de acusar Trump de ser o presidente mais racista que houve nos EUA, tendo em plena campanha recusado atacar o movimento supremacista branco, Biden também defendeu leis com impacto negativo para os afro-americanos. Em meados da década de 1970, o então senador foi muito crítico do programa que previa o transporte de alunos de autocarro para escolas para fora do seu distrito, de forma a fomentar a integração racial. Biden era contra a obrigatoriedade da medida, defendendo outras formas para acabar com a segregação.
Além disso, enquanto líder da comissão judicial do Senado, ajudou a escrever a lei contra o crime violento de 1994, que os críticos dizem ter sido responsável pelo aumento do número de presos no sistema. Esta introduziu a ideia de pena perpétua ao terceiro crime, que atingiu particularmente os afro-americanos e outras minorias. Algo que viria a lamentar. A sua associação com Obama ajudou a virar a página nestes temas, assim como o facto de ter escolhido uma afro-americana, Kamala Harris, para ser sua vice-presidente.