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"Eleições americanas: 1992, 2000 e 2020" - Ney Lopes em artigo na "Tribuna do Norte"

Postado às 05h37 | 02 Set 2020

Nos Estados Unidos, republicanos e democratas definiram os seus candidatos para a eleição de 3 de novembro. Já assisti convenções de ambos partidos. Foram experiências inesquecíveis.

A vocação de repórter me fez filmar ambas e guardo as imagens históricas.

Em 1992, estive em Houston, na companhia dos deputados ex-embaixador Roberto Campos, Nelson Jobim, José Lourenço e Flávio Rocha. O clima era de total exaltação ao presidente George Bush (pai), que disputava a reeleição e atingira 90% de popularidade.

O concorrente Bill Clinton, governador de Arkansas, estado irrelevante eleitoralmente, teve o seu nome escolhido, após desistência de caciques democratas, que achavam impossível vencer Bush, o herói da Guerra do Golfo.

Apurados os votos, Bush sucumbiu aos inimigos internos, que eram o desemprego e a recessão econômica.

Em 2000, convidado do presidente do “Instituto Nacional Democrático”, Kenneth Wollack, participei em Los Angeles da Convenção, que indicou Al Gore, candidato à sucessão de Clinton, tendo como adversário George W. Bush.

A derrota em 1992 machucou o ego de Bush.

Escolheu como candidato, o filho George W. Bush, o “patinho feio” da família, rebelde, alcoólatra até os 40 anos, preso aos princípios religiosos da sua esposa Laura, após ter sido convertido em 1986, com a ajuda do Reverendo Billy Graham.

Os Democratas montaram a sua Convenção em suntuoso palco no Staples Center”, enorme estádio dos campeões do basquete “Los Angeles Lakers”. Como convidados estavam Alejandro Toledo, Presidente no Peru; Domingos Cavalo ministro na Argentina; o primeiro ministro da Bósnia-Herzegovina e outros. 

Acompanhei o espetáculo no “hall” do Estádio, próximo ao ex-Presidente Carter, onde se viam painéis com a frase: “quando os democratas ganham, todos ganhamos”.

Mesmo convidado especial paguei ao Partido Democrata a taxa de inscrição de U$ 375.00, que confirma “não existir essa coisa de almoço grátis na América".

O apogeu aconteceu com a chegada de Hilary Clinton, acompanhada dos acordes de “New York, New York”. Em seguida, ergueram-se as mais de 35 mil pessoas e saudaram o Presidente Clinton, repetindo: “obrigado Clinton”. Ele, ao discursar enlouqueceu os correligionários. Contestou os republicanos, que atribuíam os sucessos do seu Governo a “sorte”. Afirmou que “a Presidência dos EEUU não é questão de sorte, mas de escolha”.

A disputa foi acirradíssima. Ao final, acusações de fraude e recontagem de votos prolongaram-se por 39 dias. Al Gore recebeu a maioria dos votos, mas Bush ganhou no Colégio Eleitoral. Caso idêntico a Trump, em 2016.

 Achei estranha a forma de arrecadar o dinheiro da campanha.

Na Convenção Democrata, a GM colocou carros à venda, em benefício do Partido. Até “joias” eram comercializadas.  

Os candidatos angariavam fundos com refeições de até U$ 5 mil dólares, em salas do estádio. Hillary arrecadou U$ 4 milhões, em festa com artistas de Hollywood.

Há curiosidades nas eleições americanas. Mais de 70 partidos entram na disputa, inclusive Comunistas (desde 1919), Nazistas e da Maconha.

O voto não é obrigatório e pode ser colhido em urnas instaladas nos shoppings, lanchonetes, prédios públicos, ou via Correio.

As Convenções dos dois maiores partidos duram uma semana e são transformadas em espetáculos “hollywoodianos”.

Em 2020, a pandemia mudou a tradição e elas foram virtuais. Foi possível acompanhar ao vivo, através da mídia, a eleição mais atípica da história.

Não se trata de exaltar os democratas (até porque Biden não é o candidato ideal), mas lamentar ver o Partido Republica, de tantas tradições em defesa das liberdades, amesquinhar a política e a vida pública, com o seu candidato usando a máxima, de “que os fins justificam os meios” para abater o adversário.

Trump radicaliza no estilo de nacionalismo xenofóbico, divide racialmente o país, fomenta o individualismo, aposta no conflito, desinformação e medo.

Em defesa da democracia e da civilidade, criaram-se várias organizações “anti-Trump” compostas de militantes do próprio Partido Republicano. Kellyanne Conway, uma das conselheiras mais próximas do Presidente, “decepcionada” pediu demissão, em protesto pelos danos causados por ele ao país.

Mesmo assim, ninguém duvide: Trump poderá reeleger-se.

A sua estratégia é atrair parcela da população branca (72.4%.), com o slogan “Tornar a América grande novamente”.

Para os seus correligionários ensandecidos, isso significa “República Cristã branca”.

Bom lembrar, que na origem histórica dos EEUU consta a ética calvinista, que supervaloriza a riqueza e a raça.

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